Foi com essa mensagem (ameaça?) que um dia meu chefe de gabinete adentrou minha sala, atônito, para me dar o aviso de um membro do alto escalão do governo que eu fazia parte, enquanto secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do RJ.
O sujeito estava bastante incomodado com as limitações e controles que eu determinava na secretaria para evitar quaisquer desvios de comportamento, atuação e, claro, de foco no objetivo final; que sempre foi e sempre será o de atender a população e não o de interesses privados de quem quer que seja. Não desci do salto, não subi no pedestal, mantive minha conduta e não me intimidei. As vísceras eram apenas as dele, mas por precaução, a partir deste dia, meus seguranças não me deixavam sequer em reuniões sozinha, por ordem do meu chefe de gabinete. E assim foi até o final da minha gestão.
A violência política é oriunda da vontade de pessoas, não de sistemas ou organizações criminosas. A potencial vítima da violência tampouco é um sistema, ou uma instituição , é também uma pessoa. Parece óbvio mas é preciso deixar claro. A relação entre criminoso e vítima é pessoal.
Estamos na era da política em que a atuação, seja de um juiz, de um secretário, de qualquer agente público, que está em seu dever de julgar, absolver ou condenar, ou apenas de trabalhar corretamente, é motivo para fazê-lo alvo de ódio, de vingança e revanchismo. É aÍ que entra a personificação do algoz e da vítima.
Quando esse “ódio” torna-se público em pronunciamentos de autoridades públicas que foram eleitas, consolidamos o pensamento coletivo da relação da política com o crime organizado. E nesta relação, a vista do que está acontecendo no Rio Grande do Norte ou o que aconteceu com a juíza Patrícia Acioli, os criminosos tornam-se muito maiores que o Estado, e tornam-se ainda maiores que a Justiça.
Não é novidade alguma o que estou escrevendo. Mas os avisos estão aí. Há uma mudança real de violência política adentrando o Brasil e é preciso respostas contundentes.
Para contextualizar, é importante falar da Colômbia. Em 1989, Luis Carlos Galán Sarmiento era candidato a presidência deste país pelo Partido Liberal Colombiano, e foi assassinado neste mesmo ano enquanto liderava com folga para as eleições presidenciais de 1990. Entre seus executores e mentores do crime estava Pablo Escobar. Nesta história, um narco e um político combativo. Algo parecido por aqui?
Há uma predominância do uso das vísceras na política. Hora de tomar muito cuidado. O recado já foi dado e está se repetindo. A Colômbia já mostrou o caminho. Desejamos segui-lo?