Fazenda do século XVIII na Taquara pode ser desapropriada; situação preocupa defensores do patrimônio histórico

De acordo com a Prefeitura, a ideia é fazer um parque pago para a visitação. Pessoas ligadas às causas do patrimônio histórico alertam que o processo de desapropriação corre em sigilo, sem detalhes, e que a ideia da Prefeitura pode colocar em risco a preservação do lugar

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O senhor Francisco tem 98 anos de idade e desde sempre mantém a Fazenda da Taquara preservada. O local, que fica na Rua Rodrigues Caldas, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, em uma área urbana, guarda lembranças físicas dos séculos XVII e XVIII. Atualmente, os responsáveis pela propriedade são herdeiros do Barão e da Baronesa da Taquara, que moram lá. Contudo, um projeto da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro vem preocupando a família, moradores vizinhos e defensores do patrimônio histórico. A ideia do Poder Público é desapropriar o espaço e transformar em um parque aberto para visitações.

Marconi Andrade, atuante defensor do patrimônio histórico do Rio de Janeiro, questiona o sigilo que cerca o projeto de desapropriação da Fazenda da Taquara. “Não se sabe muito sobre a proposta. Quando buscamos pelo processo, não achamos muitas informações”, conta Marconi, que enviou as fotos abaixo, oriundas de suas pesquisas.

O que se sabe, até o momento, é que a Prefeitura pretende fazer um parque privado, cobrando entrada para que as pessoas conheçam o interior da fazenda, como já citado, preservado, com a arquitetura do século XVIII, que tinha um engenho do século anterior.

WhatsApp Image 2022 03 05 at 11.01.54 1 Fazenda do século XVIII na Taquara pode ser desapropriada; situação preocupa defensores do patrimônio histórico
Foto: Diário Oficial

Recentemente, a subprefeita de Jacarepaguá, Talita Galhardo e o secretário de fazenda Pedro Paulo, estiveram nas proximidades da Fazenda da Taquara e conversaram com vizinhos para explicar a ideia. No geral, os moradores não gostaram da ideia, pois temem a movimentação excessiva na área residencial. Uma nova reunião, que já estava marcada, foi desmarcada.

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“Nesse encontro com a vizinhança não tinha ninguém representando a Fazenda, ninguém da família. E o que as pessoas temem é que com o fluxo maior de pessoas, a região fique mais violenta, que problemas de fora venham para cá. Além, é claro, do receio de que o patrimônio histórico seja depredado com o tempo, como acontece com várias instalações na Colônia Juliano Moreira, bem próximo da Fazenda Taquara, que estão caindo aos pedaços”, pontua Marcos André, que trabalha na Fazenda da Taquara há 25 anos. Marcos, criado na Fazenda junto com sua família, é historiador, restaurador e conservador da sede.

WhatsApp Image 2022 03 05 at 11.03.02 Fazenda do século XVIII na Taquara pode ser desapropriada; situação preocupa defensores do patrimônio histórico

Após a posição contrária dos vizinhos ao projeto da Prefeitura, o que surpreendeu a família herdeira da Fazenda, Francisco decidiu abrir o espaço para que mais gente visitasse e conhecesse. Normalmente, a Fazenda é aberta ao público uma vez por ano, em setembro, para uma missa na capelinha.

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A subprefeita de Jacarepaguá, Talita Galhardo, chegou a ir à Fazenda da Taquara e foi recebida com flores por Seu Francisco, que se mostra um senhor bem ativo, sempre presente na Fazenda.

“Muita gente não entende, mas quando o bem é tombado, o Poder Público não faz mais nada. O responsável pelo imóvel é quem tem que cuidar. E a família do Seu Francisco, tendo ele como maior defensor desse lugar, são as pessoas que estão cuidando disso tudo há tempos“, reforça Marcos.

Segundo defensores do patrimônio histórico, uma das alegações para que o espaço seja desapropriado e aberto ao público é que precisa receber passeios de crianças de escolas públicas e privadas. “Isso nós já fazemos, mas fazemos com fins pedagógicos. Não passeio só para passear. Uma vez, uma turma veio aqui e falamos sobre a importância do bem histórico. Depois, alguém foi jogar lixo no chão e um menino dessa mesma turma deu uma bronca, dizendo que não podia jogar lixo assim em um patrimônio histórico”, disse Marcos, que completou afirmando que vê fins eleitoreiros na proposta da Prefeitura e que acredita que o melhor para o local é continuar com a família de Francisco.

Procuradas antes da publicação, a Prefeitura e a Subprefeitura de Jacarepaguá ainda não responderam a reportagem do DIÁRIO DO RIO.

Atualização dia 15/03

Em nota, a Subprefeitura de Jacarepaguá informou que “reafirma a posição favorável ao intuito do Prefeito de transformar a antiga Fazenda Baronesa na Taquara em um parque público com visitação guiada à sua sede. Tal intervenção valorizará a região imediatamente ao redor, além de todo o bairro, trará mais segurança à quele entorno, fomentará novos negócios e o mais importante: difundirá a cultura local, a história de Jacarepaguá, do Rio e do Brasil que existem ali e a população nem imagina!”

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5 COMENTÁRIOS

  1. Chega ser absurdo essa burrocracia que ainda existe sobre patrimonios historicos. Eu e meus amigos pesquisadores conhecemos tantas reliquias historicas e ficamos sem saber o que fazer, justamente pelo que esta acontecendo ai. É preciso cuidar do lugar, ai vc tenta tombamento e corre o risco do dono ou pessoas destruirem o local por tudo que pode ocorrer após o tombamento. Ai como o senhor disse, depois de tombado, ninguem ajuda com mais nada, e é verdade, tantos lugares tombados que estão se estragando, pq não existe um orgão no governo só pra manter tais bens, dinheiro esse que assim como existe pra cultura, deveria existir pro turismo e investir nesses lugares, pois são patrimonios historicos, mas que atraem turismo pra região, movimento o comercio local. Então é muito complicado. Espero mesmo que entrem em um acordo, pq encontrar uma joia dessa ainda preservada é uma raridade e não sabemos o que vai ser após o senhor falecer. Mesmo tombado, pra venderem e passar a draga tbm é um pulo e depois que demoliu, n adianta chorar. O local pode ser como uma quinta da boa vista, com trilhas ecologicas, ja que tem uma mata enorme,a area pra piquinique e com esse patrimonio lindo que pode servir de museu.

  2. Por que não fazem Parque de visitação na Colônia? Lá esta tudo abandonado e caindo aos pedaços.
    A fazenda é bem cuidada!
    Muito me estranha que com a construção do shopping que será um grande atrativo no bairro, a prefeitura esteja preocupadíssima com uma área de visitação para estudantes turismo pago.
    O carioca precisa pagar 40 reais pra visitar o zoológico, 80 pra visitar o Cristo enquanto o transporte público aqui é uma vergonha!
    Os maiores interessados nessa questão somos nós moradores. Perguntem para nós em uma assemblia o que achamos disso.
    Tantos assuntos urgentes a se tratar nesse município e a prefeitura tenta desapropriar um imóvel histórico PARTICULAR muito bem preservado e sem consultar os moradores do bairro. Enquanto isso o BRT está caindo aos pedaços e as escolas municipais não têm climatização na maioria das salas deixando as crianças cozinhando lá dentro.
    E nossas casas no bairro da Graça, Vale do Sol e Gramado também? Irão nos desapropriar também??????? Irão transformar no super parque da Taquara igual ao parque de Madureira? Cadê
    o projeto desse parque? Onde os moradores tomam ciência desse projeto?

  3. Torço para que prefeitura e proprietários encontrem JUNTOS uma boa solução que possa contribuir tanto para o auxílio na manutenção da fazenda (imagino que não deve ser barato) quanto para o enriquecimento da cultura e do turismo de um local tão “esquecido” de JPA.

    Torço (e acredito) que com a maior movimentação de visitantes, a localidade se torne mais segura e acessível, impactando positivamemte também no comércio dos arredores.

    Torço que a solução encontrada venha gerar empregos, tanto no casarão quanto no comércio local e que seja mais um lugar para visitas guiadas por historiadores promovendo imersão em um tempo de nossa história já quase apagado de nossas memórias.

    Sobretudo, torço para que as partes entrem LOGO em um acordo antes que surja alguma incorporadora e COMPRE o lugar para demolir e transformar em mais um “condomínio amarelo de varandas brancas”.

    Sucesso!!!

  4. Torço fortemente para que não suceda aos moradores da Taquara o mesmo que ocorreu aos moradores do Largo do Campinho, por ocasião da construção do flagelo viário que atende pelo nome de Transcarioca: demolições e desapropriações espúrias de imóveis comerciais e residenciais, de prédios inteiros, inclusive com destombamento e derrubada de bem cultural municipal, representado por conjunto arquitetônico do início do século passado, no Largo do Campinho, remoções de famílias inteiras e piora substancial na qualidade de vida desse bairro. Uma verdadeira catástrofe promovida à época pela mesma péssima gestão municipal atual. Que os moradores da Taquara possam defender e lutar pela preservação de seu patrimônio e identidade culturais.

  5. Torço fortemente para que não suceda aos moradores da Taquara o mesmo que ocorreu aos moradores do Largo do Campinho, por ocasião da construção do flagelo viário que atende pelo nome de Transcarioca: demolições e desapropriações espúrias de imóveis comerciais e residenciais, de prédios inteiros, inclusive com destombamento e derrubada de bem cultural municipal, representado por conjunto arquitetônico do início do século passado, no Largo do Campinho, remoções de famílias inteiras e piora substancial na qualidade de vida desse bairro. Uma verdadeira catástrofe promovida à época pela mesma péssima gestão municipal atual. Que os moradores da Taquara possam defender e lutar pela preservação de seu patrimônio e identidade culturais.

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