Fechado há anos, antigo bar Ao Vivo, no Centro, é vendido a rede de restaurantes

A enorme construção em aço e acrílico anexada a um sobrado histórico de rara beleza no melhor ponto do Centro Histórico vai reabrir pelas mãos dos empresários Eriberto e Régis Ximenes, da rede Os Ximenes. Eles apostam na região e compraram a propriedade.

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Fachada do Bar Jirau, tradicional ponto de encontro de políticos, servidores públicos e profissionais liberais / Reprodução

Construído há mais de 100 anos, na Rua São José 14, em frente ao Palácio Tiradentes, no Centro, o velho bar Jirau – que também já se chamou Ao Vivo – ponto de encontro de políticos, servidores públicos e advogados, vai voltar a efervescer e ser ocupado por uma rede de restaurantes. A enorme casa que fica na esquina da Primeiro de Março e em frente à Praça do Cooperativismo foi comprada pela rede Os Ximenes, que também adquiriu o famoso Amarelinho da Gloria e mais recentemente o restaurante vegano Bandolim – que foi a Pensão onde Jacob do Bandolim morou, ao lado da escadaria do Selaron. O imóvel, composto de um sobrado histórico amarelo (foto abaixo) e uma enorme armação em aço com dois pavimentos (foto principal da matéria) estava fechado desde o início da pandemia e deve ser reinaugurado em 90 dias. A venda foi realizada pela Sergio Castro Imóveis, conforme revelou o jornalista Ancelmo Gois.

A propriedade, com enorme frente para a rua chama atenção pelo tamanho, tem cerca de 700m2 e pertencia a uma irmandade católica. “A região da Praça XV tem sofrido grande revitalização e o imóvel é o mais emblemático da região, pois é visível de quem passa em direção ao Porto na Primeiro de Março e causa má impressão fechado há tantos anos”, explica Lucio Pinheiro, corretor especializado na locação de lojas e espaços comerciais na região, que recebeu recentemente o novo edifício sede do Sescoop, entidade do sistema S encarregada das cooperativas. No térreo do prédio da Rua da Assembléia 11, que é vizinho ao ex-Jirau, vai abrir uma grande agência bancária.

A região da São José tem se movimentado através da Aliança Centro, uma organização de proprietários de imóveis que vai inaugurar uma Área de Revitalização Econômica justo ali. Os membros irão bancar serviços suplementares de limpeza, segurança e paisagismo para melhorar a qualidade daquele trecho da São José junto ao Terminal Menezes Côrtes, que é um dos âncoras da iniciativa. A rua, que tem grande movimento de pedestres, ainda tem várias lojas fechadas, que vão sendo ocupadas aos poucos, como agora ocorre com o antigo Ao Vivo.

A venda do sobradão histórico e da emblemática construção em aço vem a reboque do projeto Reviver Centro, que está atraindo moradores para a região assim como iniciativas culturais – são mais de 30 lojas na região que vão abrir ao mesmo tempo com diversos negócios que vão funcionar em tempo estendido. Além disso, a região da Praça XV e do Arco do Teles vem se revitalizando e tal maneira que agora lota quase todos os finais de semana, com Centros Culturais, boêmia, Igrejas Históricas e gastronomia de qualidade.

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Fachada Histórica do Jirau / Ao Vivo pela rua São José. Fica bem na esquina da Primeiro de Março, onde o enorme jirau de aço chama atenção, além de proporcionar linda vista aos boêmios

Os Ximenes – assim chamados porque os sócios são tio e sobrinho – têm uma história de muito trabalho, persistência, fé e forte tino comercial. A crise que abateu o Rio de Janeiro, fechando unidades comerciais diversas, não causou assombro aos doos cearenses, que viram no infortúnio uma possiblidade de reinventar os seus negócios. E o fizeram com uma receita simples e popular: baixaram os preços dos pratos e das bebidas, optando por reduzir as margens de lucros dos seus bares e restaurantes, como medida para não vê-los às moscas. A estratégia, que foi adotada após os Jogos Olímpicos 2016 está em vigor até hoje, com muito sucesso. As casas ficam apinhadas de gente, e seguem em expansão.

Uma das marcas dos bares e restaurantes do Ximenes é casa lotada e fila na porta, com público composto por pessoas de todas as classes sociais à procura do que oferecem: o bom, o bonito e o barato. Com isso, acabaram conquistando fama no bairro mais boêmio do Rio, a Lapa, onde servem pratos nordestinos para duas pessoas, mas fazendo jus à tradição regional, servem tranquilamente quatro pessoas. Tudo na companhia de uma cerveja, sempre bem gelada.

O mais velho dos Ximenes empreendedores é Eriberto Ximenes Albuquerque, de 76 anos, mais conhecido como Ximeninho – cearense que construiu uma longa carreira como DJ. Ele comandou a pista de dança do Roda Viva, na Urca, por 40 anos. Ao lado do sobrinho, Régis Ximenes, de 57, o “velho” DJ está à frente de seis casas Ximeninho. Em 2019, os reis da Lapa romperam os limites da zona boêmia e compraram outra casa emblemática do Rio: o Amarelinho da Glória. Restaurante com bufê a quilo e mais de 20 rótulos de cerveja. Sem falar na variada opção de pratos fartos oferecidos à preços bem convidativos.

Em entrevista ao jornal O Globo, Eriberto Ximenes, que hoje não comanda mais as “carrapetas“, falou um pouco sobre a sua trajetória como DJ, e não foi modesto:

“Sou o DJ mais velho do Brasil, comecei em 1968, aos 17 anos. Colocava soul, rock, Beatles, Roberto Carlos… Trabalhava mais com músicas internacionais. Não entendia nada no começo, mas em 30 dias no Roda Viva já era um DJ bom. Depois, eu me tornei o melhor DJ do Brasil”, contou ao veículo.

Aos 16 anos, o sonhador Eriberto decidiu deixar a roça, de propriedade paterna, para tentar a vida no Rio de Janeiro, o eldorado para muitos nordestinos da época. Na década de 1960, veio morar com um irmão mais velho, Raimundo Ximenes, muito conhecido na noite carioca pelo sobrenome. Foi Raimundo, que era gerente do Roda Viva, quem colocou Eriberto – mais novo e mais baixinho, daí Ximeninho – para trabalhar como DJ na casa. O garoto não era bobo e mesmo trabalhando na noite, chegou a iniciar um curso de engenharia.

O tino comercial, no entanto, falou mais alto, e por mais de 50 anos colecionou bares, restaurantes e casas de show por todo o Rio de Janeiro. O católico praticante Ximeninho foi sócio da Las Brasas, que depois viraria o Ballroom, no Humaitá, na Zona Sul da cidade. O lugar tinha como atração shows de mulatas. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, também abriu uma casa, com espetáculos do Sargentelli. Foram vários empreendimentos espalhados da Zona Sul à Zona Norte, incluindo um conjunto de botequins na Rua Lauro Muller, em Botafogo, frequentados por alunos da UFRJ e da Unirio, além do Sarau, na Lapa. Atualmente, o empresário e o sobrinho Regis, agora acompanhado dos filhos, administram um negócio de mais de 300 funcionários.

Orgulhoso da sua trajetória, Eriberto Ximenes decidiu compartilhá-la com os frequentadores das suas casas, nas quais mandou pintar murais relatando as suas origens, que remontam à fazenda Pirapora, localizada na pequena cidade de Groaíras, no sertão do Ceará, onde nasceu o comerciante. A fazenda ainda existe e passou por profundas mudanças, assim como a vida de Eriberto e família.

O sobrinho Régis, que também é retratado nos murais montado em um jegue, é figura cativa no complexo da Praça João Pessoa, onde funcionam a filial do Os Ximenes e o Ponto de Encontro Ximeninho. Na Rua do Riachuelo, os empresários também têm o Botequim Os Ximenes. Sem contar Os Ximenes, da Rua Joaquim Silva (esquina de Teotônio Regadas), via onde também funciona o Baby Galeto e onde acabam de alugar a casa número 97, antiga Pensão Pick, local onde Jacob do Bandolim morou e aprendeu a tocar o instrumento que chegou a dar nome a um restaurante vegano que funcionou lá nos últimos 5 anos, o Bandolim. Com o fechamento do Bandolim, Os Ximenes pegaram o ponto. Agora, querem conquistar a Praça XV.

Além de bom empresário, Ximeninho também é “mecenas”, tendo apoiado muitos espetáculos teatrais e eventos diversos na cidade, inclusive a Sala Cecília Meireles, ali do lado de onde, a partir de seu bar, a região renasceu.

Com informações do jornal O Globo

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1 COMENTÁRIO

  1. Mais uma boa e inteligente matéria,para quem é carioca e gosta do Rio.
    Parabéns ao Diário do Rio, também por tirar aqueles desagradáveis e inúteis cookies.
    ?

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