Vi o filme Babilônia (Babylon), de Damien Chazelle, e lembrei de um clássico do cinema nacional, Rio Babilônia, de Neville de Almeira, de 1982, o qual mostra muitos problemas do Rio de Janeiro. Já conheci muitas pessoas que chamam o Rio de Janeiro de Babilônia pela sua desordem constante e alucinante. Babilônia foi o nome da capital da Suméria, lá na antiga Mesopotâmia (Iraque atualmente) e significaria “Porta de Deus”. Entretando, os judeus dizem ser um termo de origem hebraica que quer dizer “grande confusão”.
O Rio de Janeiro é um cenário que reúne caos, inúmeras belezas e festas. O longa-metragem Babilônia começa exatamente assim, com uma festa gigante louca, sem limites. No entanto, é um filme que fala sobre a história do cinema estadunidense, principalmente ali pelos anos 20 e na virada do cinema mudo para o cinema falado.
Tudo o que aparece no filme, como o glamour, a magia e os perigos dessa indústria cinematográfica me fizeram refletir sobre essa cidade cinematográfica em que vivo, nasci e foi criado. Um local que para onde quer que eu vá, sempre volto. Cidade que amo mesmo quando odeio. Cidade que amo como um bebê faminto por um seio.
Mudo
A película mostra o auge do cinema mudo, e, nessa onda, como a Sétima Arte está sempre se transformando, se adaptando aos novos tempos e tecnologias que vão surgindo. Até gostaria que fosse assim com a cidade do Rio. Que fosse mais do que cinematográfico, que fosse como o cinema, adaptável. Não é o caso. A impressão é que nossos problemas babilônicos só se ampliam. Tem o transporte ineficaz com seus ônibus e BRTS lotados e atrasados. Ainda por cima, o metrô com uma malha que poderia ser mais longa, abraçar melhor a zona norte e não priorizar sempre a zona sul.
Além disso, a insegurança segue ao nosso redor. Como muitos dizem: “o Rio não é para amadores”. Aliás, em certo momento do filme o personagem Manny Torres (Diego Calva) desce pelo submundo de Los Angeles, por lugares assustadores. Quantos locais infernais e umbralinos existem nesse Rio de Janeiro?
Outro dia um primo me disse que a humanidade já passou do seu auge e que a essência do ser humano é ruim. Sigo batendo na tecla do realismo esperançoso, no exemplo do genial Ariano Suassuna. Acredito que a arte pode ser uma corda jogada no abismo e cabe a nós subir por ela. Quem sabe depois encontraremos um cipó, talvez paremos no meio da escalada, tomaremos o chá de alguma folha sagrada e seguiremos subindo e acreditando. Ah, Rio Babilônia… ainda amo seu sabor agridoce.