Somos todos citadinos, ou aqueles que habitam no ambiente da cidade. Considerando os cariocas do município do Rio e moradores das cidades vizinhas, somos uma população de quase 10 milhões de pessoas, e poucas são as que nasceram e habitaram até idade adulta apenas o ambiente rural. Em sua maioria, todos nascemos e nos tornamos gente, a partir de uma cidade, seja ela grande ou pequena, bem-organizada ou não. É na cidade que ocorre o aprendizado do coletivo e social. É na cidade que experimentamos os serviços de saúde, a escola, formação e trabalhos. É na cidade que desfrutamos do lazer, da socialização e esporte, e até das manifestações religiosas e culturais. Portanto é na cidade que cada um de nós se torna cidadão, tem o espaço para sua vida, cuidar e amar pessoas, votar em seus representantes. Deveria ser possível viver tudo isso em segurança.
O cidadão urbano e carioca do século XXI, já convive com inúmeras inovações tecnológicas disponíveis na palma de sua mão, em um simples smartphone. São pessoas que basicamente já nasceram nas cidades e convivem com as tecnologias dos aplicativos, redes e do mundo digital, como seu ambiente natural. E, portanto, na medida em que novas versões de aparelhos e aplicativos se apresentam, é de se esperar que também a interface com o mundo físico da cidade exige algum tipo de “upadate”.
Tem se tornado comum as falas sobre cidades inteligentes (ou smartcities) em políticas públicas, como conceito institucional. Essa tendência global, e não apenas no Brasil, diz respeito à adoção de tecnologias da informação e comunicação (TICs) que permitam a operação e gestão dos espaços e serviços públicos de âmbito municipal e principalmente que tornem mais assertivas as tomadas de decisões. Para tanto é preciso que a administração pública municipal, possa fazer um manejo dos dados econômicos, populacionais e geofísicos. Estamos falando de IA, inteligência artificial alocada na administração municipal, promovendo agilidade nos processos de atendimento, economia de recursos e gestão dos riscos.
A migração de sistemas analógicos para modelos informatizados, e daí para sistemas inteligentes e complexos, é um caminho sem volta, mas em velocidades diferentes se considerarmos os 5.570 municípios brasileiros. Mas é uma estrada que já começamos a trilhar. Por um lado, a formação de megadados ligados aos espaços urbanos e às pessoas enseja o temor de um controle social que possa invadir/oprimir a liberdade do indivíduo. Por outro pode garantir menores custos de operação, eficiência e segurança ao cidadão.
O ponto de partida é entender que este não é um projeto de um mandato ou de uma coligação partidária, mas sim de uma cidade e seus cidadãos. Deve ser portando entendida como algo suprapartidário e que vai atender um programa municipal de longo prazo. É preciso que cada município entenda esta ferramenta, dentro de um planejamento estratégico municipal, mais amplo e que deve ser discutido com toda sociedade, não só através dos representantes eleitos como vereadores. O conselho municipal estratégico deve ser composto por representantes do poder executivo, membros dos serviços públicos de segurança, saúde e educação, empresários, sociedade civil como associações de bairros e entidades comerciais e de classe, como oab, crea e outras. Deve ser proposto um debate para se entender que tipo de cidade de deseja no horizonte de 10, 20, 50 anos. São discussões que precisam ser feitas e em caráter voluntário e inclusivo, como agenda estratégica. E num segundo passo que se possa desenhar o tipo de smartcities que deve emergir.
Cada cidade tem sua história, suas demandas e complexidades. E todas precisam adequar-se para esse novo mundo tecnológico e de integração. Ou essa migração será feita com ganhos e um salto de qualidade nos serviços públicos, ou a barreira entre o desenvolvimento e o atraso vai se acentuar. É preciso talvez um esforço nacional para traçar um roteiro que se aplique a nível local, tanto para referenciar o planejamento estratégico municipal, como para as soluções “sob medida” para smartcities.