Gallor: Mulheres e a Geopolítica

A história mostra que elas são melhores para resolver conflitos entre nações. Usam a sabedoria e pensam no bem comum, ao invés do recurso das bombas.

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Clara Zetkin, a feminista antifascista que impulsionou o Dia Internacional da Mulher

Neste dia, celebramos o Dia Internacional das Mulheres.  A luta feminina para paridade de direitos e por mais respeito em um mundo inclusivo.

Muitas pessoas pensam que a data é função de um de um incêndio numa tecelagem, em Nova York, na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company, que ocorreu em 1911.  As versões da história se perdem no tempo, mas consta que eram em torno de 630 operários, sendo a grande maioria de mulheres com idades variando de 13 a 40 anos. O regime e as condições de trabalho eram abusivos, por exemplo os funcionários eram trancados nas áreas fabris, não tinha acesso ao relógio, que era tampado, e assim não tinham noção do tempo. Só eram liberados no final da produção meta do dia. Não era permitido nem mesmo que as funcionárias levantassem para ir ao banheiro e não havia pausas para alimentação ou descanso. O salário era de aproximadamente 1/3 do que recebiam os homens. Nessa tragédia morreram 146 operários, sendo 130 mulheres. Muitas das mortes se deram, porque os galpões nos andares estavam trancados e não havia como evacuar as pessoas, e único recurso era saltar pelas janelas.  Esse evento foi uma grande comoção nacional nos EUA, quando mais de 100 mil pessoas estiveram no local por ocasião dos funerais.

Um ano antes, as operárias da tecelagem Triangle Shirtwaist Co. já se organizavam em sindicatos, greves e movimentos por melhores condições de trabalho, mas foi preciso esse trágico incêndio, para uma mudança de paradigma sobre o trabalho feminino e por mais segurança. Foi a partir daí que a legislação avançou em todo o mundo e inclusive no Brasil, no que diz respeito a segurança no trabalho redução das diferenças salariais, horário de intervalos e refeições, rotas de escape, etc.  

Mas a escolha da data que marca o dia internacional das mulheres aconteceu por outro evento de lutas femininas.     A celebração se dá em função do engajamento não só de mulheres, mas de toda sociedade, por uma luta que é para igualdade e bem comum.  No dia 08 de março de 1917, na Rússia, operárias também do setor de tecelagem, entraram em greve e houve adesão de homens em todo país.

A militante alemã Clara Zetkin, pensou numa data que se pudesse ser um marco nas conquistas femininas. Foi adotado o dia 08 de março, em alusão à greve das mulheres russas abraçada por outros setores da sociedade. Passou a ser celebrada mundialmente desde 1975, oficializado pelas Nações Unidas como Dia Internacional da Mulher.

Duas observações são válidas neste momento. Primeiro que em 1917, nas pautas da greve das mulheres, além da luta pela igualdade salarial, melhores condições de trabalho e segurança; estava também a manifestação para que a Rússia se retirasse da primeira guerra mundial. Mulheres possuem essa sabedoria, de que é preciso pão e condições de vida segura; mas que principalmente a PAZ, é o grande bem social. E foram essas as palavras de ordem em São Petersburgo no início do século passado, quando mulheres corajosas, foram o estopim da revolução russa. Elas compreendiam melhor a geopolítica do que os especialistas conselheiros do Czar. Entendiam em sua vida, o que era a falta de pão para as famílias, o peso da carga de 14 horas de trabalho dos operários e até a dor dos soldados que estavam no front da guerra.

A cem anos atrás, como hoje, as mulheres percebem que os poderosos tomam decisões equivocadas ao expor vidas de jovens em combates. Vemos notícias de manifestantes presos e perseguidos em muitas nações, por pressionarem seus governos para uma solução de PAZ.

Um segundo aspecto a se considerar é que mulheres, quando no comando de nações, seja como monarca ou chefe de executivo, não se dão a aventuras bélicas.  Desde o século passado, e considerando os conflitos armados onde mulheres comandavam as nações envolvidas, é possível perceber a construção de soluções de baixo impacto, apesar de chegarem ao extremo de combate, quando suas nações foram invadidas. Foi o caso de Margaret Teacher na guerra das Malvinas e de Golda Meir na guerra do Yom Kippur.  Podemos citar muitos nomes na história de mulheres guerreiras, como Joana d´Arc, Isabel de Castela e Rani Lakshmibai da India. Foram figuras que assumiram seu papel na história de seus povos com coragem e liderança militar.

Mas minha tese é que a visão feminina do ponto de vista geopolítica é mais abrangente, unindo o bem comum, paz social e ganhos a longo prazo. Enquanto os homens se lançam com suas armas e bombas, para demonstrar força de modo estupido; as mulheres conseguem pela sabedoria não destrutiva obter melhores resultados.  É claro que é uma generalização, considerando que pessoas são diferentes e que em nosso mundo contemporâneo é possível culturalmente escolher um gênero com quem se identifica.  Por outro lado, não se pode negar que há os aspectos da personalidade humana que é feminino e masculino.

Para construir a paz é preciso um pouco menos da liderança com olhar masculino, que busca resolver os conflitos na base da virilidade do “mais forte”, com seus brinquedos de guerra, bombas, tanques e aviões de caça.  Dar a chance para que mulheres construam soluções negociadas, em que se possa ouvir as partes envolvidas com menos beligerância. Precisamos, mais do que nunca, em todo mundo, de vozes ferminas no poder, capazes contemplar a diversidade e construir equilíbrio.

Celebrar o dia das mulheres é respeitar a luta por igualdade de tantas mulheres do passado e do apoio dos homens, como foi na greve de 1917. Entender que todos merecem respeito e que as mulheres em sua força são parceiras e por isso precisam de mais espaço na política e no poder. É o caminho para construir a paz.

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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