Quem passa pela Rua Sete de Setembro, uma das mais movimentadas do Centro do Rio, percebe que muitas das lojas que fecharam as portas nos anos da pandemia hoje abrigam ocupantes ilegais. A situação da rua, principalmente no trecho entre a rua Uruguaiana e a Praça Tiradentes, vem piorando a cada dia por conta de arrombamentos e tentativas de furto de elementos de fachadas. Os sobrados históricos, geralmente tutelados pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, são as principais vítimas.
Denúncias que chegaram ao DIÁRIO DO RIO de moradores da região que preferiram não se identificar temendo represálias, apontam para um movimento coordenado de moradores de rua e usuários de drogas que invadem pontos comerciais fechados, que utilizam como depósitos de mercadoria ilegal de camelôs clandestinos, local para guarda de bens que são furtados e roubados na rua por pivetes e armazenamento de peças de metal arrancadas de monumentos históricos – como a depredada estátua do General Osório na Praca XV ou as ponteiras das grades da rua do Passeio – e prédios privados tombados e preservados. Os invasores são homens, mulheres, crianças e até animais, como cachorros e gatos. As fezes dos bichos provocam mau cheiro que se alastra pelas esquinas, e por vezes os próprios intrusos arrancam a fiação elétrica dos prédios, incendeiam para retirar o plástico e vender a peso.
Recentemente um prédio invadido teve toda a fiação arrancada, disjuntores roubados e até luminárias, causando prejuízo de milhares de reais aos proprietários, que depois “acabam não conseguindo alugá-los por conta da enorme despesa de obras a serem realizadas”, explica Adriano Nascimento, gerente da Sergio Castro Imóveis, que administra centenas de lojas nas proximidades. “Outro problema grave é o furto das calhas de cobre dos imóveis: os mendigos arrancam e vendem a peso; com isso o imóvel perde a estanqueidade, começa a chover dentro, e é assim que assoalhos são destruídos e se cria o risco de desabamento”. Ele conta que no fechamento da recente locação do emblemático imóvel da antiga Casa Cruz, a um grupo chinês, teve que ser concedida uma enorme carência e desconto para obras por conta da ação dos cracudos. Instrumentalizados pelos ferros velhos ilegais da região, essa população de rua pilhou de tal maneira o imóvel que levou toda a fiação, as escadas rolantes e até mesmo parte dos elevadores do imóvel, que ao ser recuperado estava com o chão coberto de fezes e manchas de sangue, e um odor de urina insuportável. O bonito imóvel, que pertence à Santa Casa, está sendo reformado pelos novos inquilinos.
O prédio de número 194 da Rua Sete de Setembro foi mais um dos invadidos recentemente. O espaço, que durante muitos anos abrigou um restaurante, está abandonado, mas com as janelas escancaradas. Segundo testemunhas, os invasores tentaram ocupar o imóvel de forma ilegal, mas após depredar parte da propriedade, foram embora ao descobrir que a energia elétrica, assim como o fornecimento de água do prédio, estavam com os serviços interrompidos.
Mais adiante, no número 233 da Rua Sete de Setembro, cerca de 30 a 40 invasores tomaram posse de um bonito sobrado verde; lá passaram a viver de forma irregular. O local, onde antes funcionava uma loja de venda de cabelos, perucas e apliques, passou a ser mais uma loja perdida para o comércio e “frequentada” pelos marginais que se aproveitam da falta de fiscalização.
Vizinho do 233, o prédio 223 da Sete de Setembro, que já foi uma loja de biscoitos, é mais um que virou vítima da apropriação indevida por parte dos delinquentes da gangue de invasores do Centro, que a cada dia mais se fortalece, “por conta da inação das autoridades e da sua falta de preocupação com o patrimônio”, dispara o Presidente do Conselho de Renovação do Centro, Cláudio André de Castro. “Eles parecem não ter tanta dificuldade assim, pois neste caso chegaram a se mudar com direito até a caminhão de mudança transportando seus pertences, como fogões, camas e bicicletas“, conta Josué, porteiro de um edifício comercial nas imediações. A comerciante Maria Izabel Castro, do Polo das Confeitarias, expressou semelhante preocupação ao DIÁRIO: “A Teófilo Otoni já ganhou o apelido de rua da invasão. A Visconde de Inhaúma está tomada também. A cidade vai perder também a Sete de Setembro, que é uma rua de importância muito maior?”, lamenta.
Quem passa pelo trecho, principalmente à noite, também reclama da bagunça promovida pelos invasores. O barulho, portas sendo abertas à força, além da gritaria e do som alto, são algumas das queixas. O descontrole e o caos se misturam à sujeira e à batucada. Além disso, os criminosos furtam cabos da rede elétrica pública e tampas de bueiros, sempre com a finalidade de vender para os ferro-velhos em troca de entorpecentes. A prática acaba deixando comerciantes do entorno sem luz e internet, causando prejuízo aos lojistas, que cada vez mais se mudam para as proximidades da Praca XV ou para o Saara, verdadeiramente ferindo de morte uma região na qual a prefeitura apostou tantas fichas, com o incentivo às cervejarias na rua da Carioca, ali do lado.
“Eu me sinto muito assustado, eles falam com quem passa em um tom muito ameaçador. São pessoas que claramente não estão no juízo da cabeça. Tenho medo de que algo possa acontecer com quem passa por aquela rua, sobretudo à noite“, relata outra testemunha ouvida pelo DIÁRIO DO RIO, e que trabalha no local. Diversos moradores da Praça Tiradentes que a reportagem entrevistou dizem praticamente a mesma coisa.
Os relatos de uso de violência e ameaça por parte dos invasores não param por aí. Na esquina da Sete de Setembro com a Praça Tiradentes, onde fica localizado o Teatro João Caetano, não são incomuns os assaltos contra os frequentadores do centro cultural. Quem costuma ir aos espectáculos na casa, reaberta no fim do ano passado, após passar por obras, também protesta contra a ação dos delinquentes. Infelizmente, o Segurança Presente não tem atuado fortemente nos horários de funcionamento dos teatros.
“Eles chegam sorrateiramente com facas e ameaçam as pessoas na saída ou nas esquinas próximas. É muito complicado frequentar essa parte da cidade. Nos finais de semana, fica tudo muito vazio nesse pedaço. Aumentando em muito a sensação de insegurança“, declarou uma frequentadora assídua do teatro que também preferiu não revelar a identidade, mas trabalha como secretária numa grande empresa na avenida Chile, e se diz apaixonada pela região.
Nem mesmo na região da Carioca, uma das mais turísticas do Centro, os bandidos aliviam. A área – adjacente à Sete de Setembro, que tem um projeto em curso para ser transformada em um polo cervejeiro, (a chamada ‘Rua da Cerveja’, projeto impulsionado pela CCPAR na Rua da Carioca), e que recentemente inaugurou seu primeiro estabelecimento, também tem sido vítima de invasores e tentativas de arrombamento.
Um leitor do DIÁRIO DO RIO relatou que um grupo de pessoas, entre elas adultos com crianças, invadiu um imóvel na área. “Um monte de gente, não sei exatamente quantas, mas algo em torno de 50 pessoas. Com crianças e animais. Vieram de mala e cuia, arrombaram a porta e simplesmente entraram sem nenhuma cerimônia“, disse.
Segundo informações do presidente do Conselho de Renovação da região, a lista de imóveis invadidos nos últimos meses no Centro é extensa:
Beco do Bragança, 14
Rua do Acre, 44
Rua Marechal Floriano, 5
Rua Miguel Couto, 115
Rua Teófilo Ottoni, 90, 97, 98, 100 e 106
Rua Visconde de Inhaúma, 105, 109 e 111
Rua da Carioca, 45 e 70
Ladeira do Castro, 71
Rua Sete de Setembro, 174, 194, 223, 233
Rua do Rosário, 158
Rua do Riachuelo, 17, 21, 22, 24, 26
Rua Frei Caneca, 36 e 48
Na rua Gonçalves Dias, 82, um edifício inteiro de 10 andares em cima da antológica lanchonete Bar Opus, camelôs clandestinos usam todas as salas comerciais de depósito, e grande parte delas se utilizando de gatos de luz, com fios passando pelas janelas e corredores, gerando grave risco de incêndio. O prédio tem a pior aparência possível, apesar de ser localizado bem próximo ao Shopping Paço do Ouvidor e a Confeitaria Colombo. A situação foi denunciada pelo DIÁRIO DO RIO, mas não houve providência qualquer das autoridades ou das concessionárias que, segundo tais denúncias, estariam sendo lesadas.
A rua Gustavo de Lacerda e a rua Leandro Martins chegam a ter, segundo fontes do DIÁRIO, maior parte de seus imóveis invadidos.
O que dizem as autoridades
Em nota enviada ao DIÁRIO DO RIO, a Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que “atua em situações de flagrante, como ocorreu no último dia 17, em Botafogo, quando os agentes flagraram e conduziram para a delegacia três pessoas em situação de rua que haviam invadido um terreno. Nenhum deles ficou preso.”
A Secretaria de Ordem Pública também destacou que realiza diariamente ações de ordenamento, desobstrução de área pública e acolhimento às pessoas em situação de rua, em conjunto com a Assistência Social, especialmente em áreas com concentração de usuários de drogas no Centro do Rio.
Durante todo o ano de 2024 foram apreendidas cerca de 2.100 facas e objetos perfurocortantes, além de 38 réplicas de arma de fogo e 1.283 materiais para uso de entorpecentes. As ações acarretaram na remoção de mais de 173 toneladas de resíduos recolhidos.
Ainda segundo a pasta, só em 2025 foram 309 facas e perfurocortantes apreendidas, além de 168 materiais para consumo de drogas e o descarte de mais de 32 toneladas de resíduos deixados nas ruas”.
Também em contato com o DIÁRIO DO RIO, a Polícia Militar informou que “o combate aos roubos e furtos do patrimônio público e privado tem sido uma das principais metas de atuação do comando da Corporação, que acompanha os dados do Instituto de Segurança Pública, tendo como prioridade a redução dos índices criminais em todo o território fluminense. Como resultado desses esforços, somente no ano de 2024 a SEPM realizou a prisão de quase 30 mil criminosos e apreendeu mais de 4.500 adolescentes em todo o Estado do Rio de Janeiro.
“Em muitos casos, os crimes de furto são praticados por cidadãos em situação de vulnerabilidade nas ruas, num cenário composto por demandas que requerem a atuação de outros entes do poder público, atores estes que a Polícia Militar está sempre ao dispor para auxiliar de maneira conjunta. Para fortalecer o combate à criminalidade, com aporte do Governo do Estado, a Corporação vem investindo em ações de inteligência e tecnologia. O sistema de videomonitoramento e o sistema de reconhecimento facial e de placas, que já auxiliaram em mais de 460 prisões na Capital Fluminense.
Nesse contexto, o comando definiu estratégias para intensificar o policiamento nas ruas, principalmente na região metropolitana, incluindo a Zona Oeste da Capital. Como parte dessa estratégia, foi criado o Batalhão Tático de Motociclistas (BTM), que foi contemplado com 210 motocicletas para dar mais agilidade e dinamismo ao policiamento ostensivo. Também foi realizado o realinhamento estratégico das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que propiciou um redirecionamento de cerca de 1.100 policiais para o policiamento ostensivo nas ruas”.
Trabalho no Centro e sou testemunha do abandono. De um lado aquele comércio infernal ostentando produtos falsificados diariamente, na Rua Uruguaiana. E do outro lado empresas poderosas e que empregam, honestamente, milhares de pessoas. E o Governo sem saber o que fazer com dezenas de moradores de rua que infestam o Centro do RJ.
No Rio de Janeiro, hoje, só existem crimes que envolvam armas de fogo. Quanto ao resto você pode fazer o que quiser.
Enquanto uma nova chacina da Candelária não acontecer, o poder público não vai se mexer… infelizmente esta é a realidade!
Exato.
Verdade… as autoridades não fazem.nada pq não querem.
No centro da cidade oque mais tem é Guarda municipal, todos empenhando em um único propósito, propósito de multa os motoristas de carros e caminhões, a preocupação maior da prefeitura é essa, arrecadar dinheiro em quanto outros problemas maiores eles fazem vista grossas, dinheiro de multas que não volta em benefício a população e sim para encher os bolsos dos corruptos.
Cria um grupo de exterminadores que possam passar de madrugada e exterminar essas doenças incuráveis..cemitério tem lugar pra todo mundo !
Qual a dificuldade de usar a PM e brutalidade esses animais que invadem os imóveis? Só pegar alguns deles, quebrar as pernas e braços e arregaçar o rabo deles com um pedaço de pau . Vão servir de exemplo. Esses infelizes só entendem a linguagem do medo
A dificuldade é que logo vão aparecer defensores dos “direitos dos manos” de todos os cantos: judiciário, imprensa, ONGs que lucram ajudando a manter essas pessoas na marginalidade e políticos “canhotos”.
Essa gangue ela que invade os imóveis a décadas e tem respaldo de autoridade para se beneficiar obter vantagem botar outros imóveis no nomes da família.
Depois da cidade do Rio ter sido sucateada e abandonada durante o desgoverno Crivela, chegou a vez de Claudio Castro fazer o mesmo com o Estado, ignorando a responsabilidade pela segurança!
O Centro começou a ser destruído com a construção desse maldito VLT que custou bilhões de reais e já durante as obras vários comércios foram prejudicados. Depois as intervenções no trânsito para tirar os ônibus diminuindo sua oferta na região, veio também o metrô para a Barra que deslocou empresas para lá e por fim a pandemia. O Centro ACABOU! Essa “Rua da Cerveja” vai virar a “rua do assalto”.
Um absurdo isso tudo acontecendo e só se FALANDO ESSAS PALAVRAS BONITAS que não adianta em NADA.