Halfoun: Grado, no Jardim Botânico, é uma viagem à Itália profunda

Numa casinha charmosíssima, o craque Nello Garaventa faz, com autenticidade, a comida rústica-refinada, que encontramos nas cidadezinhas da Bota

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A polenta com cogumelos é um exemplo da tal comida rústica-refinada. Só comendo para entender

Outro dia eu encontrei o mestre Dânio Braga, o chef e sommelier que não só revolucionou a gastronomia italiana no Rio, assim como ensinou os brasileiros a apreciar e entender o mundo dos vinhos finos.

Num determinado ponto da conversa, me lembrei do peixe desossado que o Nello Garaventa serve no Grado, no Jardim Botânico. E dele, falando todo orgulhoso, que quem o ensinou o método quase secreto para transformar um peixe inteiro (com cabeça e rabo) num grande “filé”, foi o Dânio, seu grande professor.  O que explica, afinal, a autenticidade da comida rústica-refinada que ele faz e que é servida nos pequenos restaurantes espalhados pelas cidadezinhas da Bota. Aqui, foi o Dânio quem o fez perceber a essência da culinária italiana, feita em alto nível.

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Aí, não deu outra: o Nello e o restaurante dele são hoje o que o Dânio era no finalzinho dos anos 1970, quando abriu o seu lendário Enotria, onde acontecia um espetáculo diário com o melhor que a Itália pode nos dar: a comida.

No Grado não é diferente, com algo a mais: o charme que o faz um dos restaurantes mais acolhedores do Rio. Num dos cantinhos da casa, a cômoda em jacarandá com belos detalhes em marchetaria guarda um tesouro dentro dela: a coleção completa dos discos do Chico Buarque, que a Lara Atamian, mulher do Nello Garaventa, reserva para um dia, quem sabe, tomar coragem e pedir para o ídolo dela fotografar.

A casa tem um monte de outras coisas do casal espalhadas pelos ambientes. Fotos da família dela, livros e objetos da família dele, que foram para na estante que envolve a grande janela que separa a cozinha do salão, no térreo. “Quando vi, percebi que ficou idêntica à da casa da minha vó”, conta a Lara, designer-arquiteta-decoradora-administradora do restaurante cheio de alma que conquistou o coração de uma clientela fiel. Tem gente que chega a jantar por aqui duas, três vezes por semana.

Eu adoro também, com um ritual: a minha noite começa no pequeno balcão de bar, na varandinha que ainda tem mesinhas iluminadas por um simpático fio de pequenas luminárias em formato de abacaxi (a figura da fruta representa boas-vindas para vários povos do mundo). E também pelo móbile desenhado pela Lara, construído com o auxílio luxuoso do sogro, que tem uma oficina de carros antigos e sugeriu o uso de luzinhas de carro.

O cenário é como um portal que nos envolve com a sensação de estar acolhido por um clima sofisticadamente informal, com cheiro de comida boa no ar.

Boa parte dela é feita no objeto de consumo de muito cozinheiro: o forno à lenha de alta temperatura.  Ele é o xodó do Nello, por onde passam quase todos os pratos da casa. Foi na Itália profunda que ele descobriu e aprendeu a usar o equipamento que atinge potentes 450º C. Para lá, por exemplo, vão os legumes frescos, apenas cortados e banhados com um fio de azeite. Então, saem do calor crocantes e caramelizados, sem praticamente interferência alguma. Eles acompanham o tal peixe desossado assado inteiro, um dos meus pratos preferidos no Rio.

Além do pescado, Nello é um craque das massas e molhos que nos fazem viajar para a Itália, numa garfada. Peça, por exemplo, o rigatoni com ragu de peito de boi e fonduta de parmesão ou a polenta com cogumelos. Então, é fechar os olhos e se sentir em Cremona, onde o Nello cozinhou durante uma temporada. Ah, sim, quando for ao Grado, não esquece de levar o passaporte. Vai na minha que você vai na boa.

Serviço
Grado
Rua Visconde de Carandaí, 31, Jardim Botânico
Tel.: (21) 3253-3101
Jantar de terça à sábado
Almoço sábado e domingo.

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Robert Halfoun é jornalista, publicitário e amante da boa mesa. Depois de anos na Editora Abril, relançou com grande sucesso a Revista Domingo, no Jornal do Brasil, onde também atuou como Diretor Executivo. Então, dirigiu a Revista Gula, na época de sua maior circulação, até que, há oito anos, lançou a plataforma Sabor.club, com revista, site e o clube de assinaturas Sabor Clube. É também autor do livro Histórias da Gastronomia Brasileira, lançado em parceria com Ricardo “alô alô” Amaral.

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