Halfoun: Nido, no Leblon, e a lasagnetta di vitelo que fará você revirar os olhos

O prato nem é o mais pedido no sofisticado restaurante italiano. Mas, acredite, é um dos melhores servidos no Rio, entre todos os credos e cores

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A lasagnetta di vitelo é hoje um dos melhores pratos servidos no Rio

Eu adoro restaurantes nos quais não é preciso pedir o cardápio para comer exatamente o que se quer. Como assim? Há casas mais sofisticadas em que o maître d’hotel vai à mesa e nos pergunta o que gostaríamos para o momento. Então, dizemos o que temos em mente e o profissional vai nos conduzindo pelo melhor que há na casa. Mais ainda, faz substituições de acompanhamentos ou do que desejar, aqui e ali, para que o prato saia da cozinha exatamente ao seu gosto. No Nido, no Leblon, é assim.

Já fui lá dezenas de vezes e nunca foi diferente. Na mais recente, o indefectível carpaccio de salmão, polvo e peixe branco, regado com azeite bem temperado, abre alas para um desfile de lasanhas. Há três tipos na casa e a ideia é conhecer cada uma delas, servida cortada em três, para três pessoas. E assim acontece, na companhia do Amancaya 2017, o argentino com blend à bordalesa de Cabernet Sauvignon com Malbec, numa parceria entre a francesa Domaine Barons de Rothschild (do lendário Château Lafite) e a argentina Catena Zapata. Ele é um vinho fácil de gostar. elegante, perfumado e muito equilibrado (ganha potência conforme vai “respirando”). Perfeito para acompanhar o trio que está por vir.

Então, chega à mesa a lasanha com pesto genovese. O molho de manjericão e azeite está impecável, a montagem com tons de verde é linda. Um ponto, no entanto, chama atenção: há molho branco (bechamel) na receita. A original é feita apenas com lâminas al dente da massa entremeadas, uma a uma, com o pesto (nunca exagere no alho, por favor). Sobre o conjunto, grana padano ralado. A adaptação do chef veneziano Rudy Bovo, um cracaço, tem explicação: como a maior parte dos brasileiros liga a lasanha ao creme com farinha de trigo, melhor não arriscar e ter o prato constantemente devolvido, “por que falta alguma coisa”. E o resultado, no final das contas, ficou bem harmonioso.

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Quem vai com frequência ao Nido, não raro, vê o grande gourmet (sim, ele também cozinha), José Bonifácio de Oliveira, o Boni, por lá. De nove entre dez vezes, ele pede a lasagna della casa, tradicionalíssima (carne moída, queijo derretido, molho branco), preparada com gosto pelo italiano que comanda a cozinha. Pode apostar, difícil encontrar tamanha perfeição até mesmo na Bota. O melhor, porém, está por vir – e ninguém da mesa esperava por isso: a lasagnetta (com lâminas mais estreitas) di vitelo, acompanhada de molho do mesmo e fondutta de grana padano. Ela é hoje, sem exagero, um dos melhores pratos servidos no Rio. Entre todos os credos e cores.

O creme do boizinho é saboroso, com ligeiro toque adocicado (não tenho certeza, mas parece ter algo de trufas nele), leve como uma pluma. Junto com a massa finíssima, que praticamente derrete na boca, nos faz revirar os olhos a cada garfada. Não há, acredite, quem não caia de amores pelo prato.

Como o menu é parrudo, com campeões de audiência como a polenta com queijo taleggio e trufas negras, o risoto nero (com tinta de lula), o linguini al vôngole (com a assinatura da casa), o peixe do dia ao forno e até mesmo um filetto Rossini (o superclássico francês com filé mignon e foie gras), a lasagnetta passa desapercebida por muita gente.

Então, vamos combinar assim: quando você for ao Nido, peça o prato (um só, dividido em quantas partes quiser, para compartilhar) entre a entrada e o curso principal – claro, escolhido de acordo com o que definir com o maître. Nem ouse fazer o contrário.

Em tempo, nido em italiano quer dizer ninho e, de fato, não falta acolhimento por aqui. Vai na minha que você vai na boa.

Serviço
Nido Ristorante
Av. Gen. San Martin, 1011 – Leblon
Telefone: (21) 2259-7696
Horários: Terça à Sábado: 12:00 às 23:30, domingo: 12:00 às 21:00. Não abre às segundas

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Robert Halfoun é jornalista, publicitário e amante da boa mesa. Depois de anos na Editora Abril, relançou com grande sucesso a Revista Domingo, no Jornal do Brasil, onde também atuou como Diretor Executivo. Então, dirigiu a Revista Gula, na época de sua maior circulação, até que, há oito anos, lançou a plataforma Sabor.club, com revista, site e o clube de assinaturas Sabor Clube. É também autor do livro Histórias da Gastronomia Brasileira, lançado em parceria com Ricardo “alô alô” Amaral.

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