A via, que chegou a ser um dos mais importantes trechos do Brasil, foi aberta em 1567, conhecida como Desvio do Mar. Só passou a ser chamada de Rua do Ouvidor em 1870. Nesse ano, o ouvidor Francisco Berquó da Silveira, oficial de justiça da cidade, foi morar em uma casa na esquina com a Rua do Carmo. As pessoas começaram a chamar o logradouro de Rua do Ouvidor. Em 1897, o governo brasileiro mudou o nome para Moreira César. Porém, a população já havia adotado a alcunha anterior. Em 1916 o lugar voltou a ser, oficialmente, chamado de Rua do Ouvidor.
Desde sempre, a Rua do Ouvidor, uma das mais antigas da Cidade Maravilhosa, teve vocação para ser grande. Por lá se encontravam as lojas mais concorridas, as livrarias, as discussões intelectuais nas confeitarias e boa parte das pessoas mais influentes do país. Era o centro do centro do Rio.
Toda essa importância começou com a chegada da Família Real, em 1808. Comerciantes que desembarcavam da Europa se instalavam na área. Até Dona Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil, fazia compras na Ouvidor.
“Era a principal artéria do centro do Rio de Janeiro. E tudo que acontecia aqui, irradiava para o resto do país”, afirmou Alberto Cohen, autor do livro “Ouvidor, uma rua do Rio”, certa vez em uma entrevista.
E esse não é o único livro sobre a Rua do Ouvidor. Joaquim Manuel de Macedo, autor de “Moreninha”, entre outras obras, escreveu “Memórias da Rua do Ouvidor”, uma seleção de crônicas que têm a via como cenário.
Falando em literatura, Machado de Assis, que citou a rua diversas vezes em seus textos, disse que se o Rio de Janeiro tivesse um rosto, este seria a Rua do Ouvidor.
“A Rua do Ouvidor chegou ater 50 livrarias funcionando ao mesmo tempo. Acho que no mundo hoje em dia, você não tem uma rua que tenha 50 livrarias”, disse o historiador Milton Teixeira ao jornal O Dia, em entrevista realizada em 2012.
O número de livrarias hoje em dia é bem menor. No entanto, as que ainda se encontram na Rua do Ouvidor são muito importantes, como a Folha Seca, uma das poucas especializadas em livros sobre o Rio antigo.
Confirmando ser cosmopolita, a Rua do Ouvidor sempre teve vocação para o novo. Por lá surgiram a primeira vitrine, o primeiro cinema, a primeira linha de bonde regular da cidade e até o primeiro motel. Também foi instalado o primeiro telefone do Rio de janeiro. Além de ter sido a primeira a ter obras de calçamento, em 1857, e a receber iluminação elétrica, no ano de 1891.
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A Ouvidor não era só comércio e badalação. No campo das ideias, ela também estava bem à frente de outras ruas da cidade. Diversos movimentos literários e políticos nasceram nas confeitarias e cafés da via. Além de Machado de Assis, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Joaquim Manoel de Macedo, Coelho Netto e outras tantas personalidades podiam ser vistas andando naquela região. Isso sem contar que muitos jornais tiveram sede na Rua do Ouvidor, como o Jornal do Commercio, o Diário de Notícias e a Gazeta de Notícias. A nova redação deste Diário do Rio ficará bem próximo à Rua, no Arco do Teles. A Academia Brasileira de Letras (ABL) teve os primeiros encontros entre os idealizadores nos cafés e livrarias da rua.
Todavia, a Rua do Ouvidor passou a perder espaço no cenário carioca. O desvio de rota começou com a abertura da Avenida Central, atual Rio Branco, em 1906. O comércio, que acabava puxando os outros pontos que faziam da Ouvidor um travessa tão importante, migrou para a nova principal rua do Rio e fez as coisas perderem o rumo.
Hoje em dia, a maior parte das lojas da Rua do Ouvidor é de moda feminina. Mas sem o charme das modistas, principalmente francesas, que se instalaram na rua em outros séculos.
Entretanto, mesmo sem refletir tanto glamour nas atuais vitrines, a Rua do Ouvidor segue sendo de suma importância para o passado e o presente da Cidade Maravilhosa. O futuro ninguém sabe, entretanto, uma área com tanta capacidade de estar acima do normal dificilmente perderá o caminho do coração do povo carioca.
Esta Rua teve outros nomes antes de ser conhecida como a do Ouvidor. Os meus 15º avós foram os primeiros moradores do Rio de Janeiro, o Capitão Aleixo Manuel Albernaz e Francisca Homem, queram eram os proprietários desta zona do Rio. E por essa razão esta rua chegou a chamar-se Aleixo Manuel Albernaz.
Adoro histórias sobre cidades, ruas e pessoas. Gostei muito dessa reportagem. quando visito o Rio não deixo de visita essa área. Mas a minha preferida e a Cinelândia.
O nome da rua do Ouvidor data de 1780, não de 1870, como está escrito na matéria.
É primeiro de março, falta um passo…para Ouvidor !
Que maravilhoso! parabéns pela ótima reportagem!
Que bacana essa matéria! Um lugar muito importante, que merece esse resgate. Quantas histórias e memórias desse Centro maravilhoso. Há muito o que contar… não deixem que enterrem isso, não !!! Viva o Rio de Janeiro.