Hotel Moderno em Santa Teresa: um símbolo do Rio Antigo em busca de nova vida

O novo programa do Governo Federal tem como objetivo entregar ativos da União para as prefeituras ou iniciativa privada; o Hotel Moderno em Santa Teresa já consta na lista de transferência

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Antigo Hotel Moderno (que jamais foi "Inglês"), visto da rua Santa Cristina e que pode vir a ser reformado para abrigar seus atuais ocupantes, após décadas em situação precária

O Governo Federal está prestes a dar uma nova vida para cerca de 500 bens que pertencem à União. Entre estes, prédios, terrenos e galpões, que se encontram abandonados ou ocupados por movimentos sociais. Os ativos serão destinados para diversas finalidades, como moradias populares, saúde pública, educação, atividades esportivas e culturais. A ação faz parte do programa “Democratização dos Imóveis da União” que está sendo desenvolvido pelo Ministério da Gestão.

O programa prevê a realização de reformas em imóveis que se encontram em estado precário, a conclusão de obras que estavam paralisadas, a construção de unidades habitacionais nestes terrenos inutilizados e a regularização fundiária de assentamentos em áreas públicas, dando finalidade a imóveis que se encontram parados e inutilizados pelo país inteiro e também aqui no Rio de Janeiro.

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Dentre estes imóveis federais que devem ser aproveitados, destaca-se o Hotel Moderno (ou Hotel Moderne, como diziam alguns panfletos da época), em Santa Teresa, na Região Central, que foi por muito tempo considerado um dos hotéis mais luxuosos do Rio de Janeiro, com uma vista deslumbrante da Baía de Guanabara e do casario histórico da Glória e de Santa. O imóvel em questão também pertence à União, e por sua vez, também consta na lista do Ministério da Gestão como sendo um dos candidatos a tornar-se moradia social, apesar de sua localização nobre. Mas ele tem uma história realmente especial; depois de hotel, virou uma instituição religiosa de acolhimento de pessoas idosas e doentes, e acabou ficando ocupado pelos descendentes dos que foram acolhidos à época. Hoje, cerca de 60 famílias ocupam o lindo prédio.

Por alguma razão, o Serviço do Patrimônio da União (SPU), que gere os imóveis de propriedade do Estado Brasileiro, chama o Hotel de “Hotel Inglês”, nome equivocado. O Hotel que lá funcionou nunca teve este nome, e sim um outro hotel antigo no Flamengo. O nome errado vem sendo repetido por outros veículos de comunicação. O prédio, que parece relativamente pequeno pelo seu endereço na Rua Cândido Mendes, é imenso e portentoso, podendo ser visto da rua Santa Cristina e da rua Benjamin Constant, como se vê na foto principal desta reportagem.

O retrofit destes imóveis antigos ocupados por famílias e integrantes de supostos “movimentos sociais”, deverá acontecer com mais facilidade caso os moradores sejam realocados temporariamente, com a garantia de que irão retornar ao prédio assim que reformado.

O Prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), destacou a importância da aquisição desses imóveis para finalmente tornar realidade os planos de revitalização desses espaços. “A Prefeitura do Rio tem agilidade para cuidar disso, são questões urbanas. Se fica lá, com a burocracia de Brasília, não vai resolver nunca. Você tem prédios ocupados no Centro do Rio que a gente pode recuperar, manter as pessoas lá, fazer habitação de interesse social” comentou.

No Rio, um exemplo recente desse processo, a aquisição do emblemático Edifício A Noite, na Região do Porto e debruçado sobre o mar, que foi negociado com a iniciativa privada após ser comprado pela Prefeitura com o intuito de negocia-lo. E a histórica Estação Ferroviária Leopoldina – inspirada no Palácio de Buckingham – na Região Central do Rio, que passará por reformas e será destinada a atividades culturais, educacionais e comerciais. As obras poderão ser custeadas com recursos da Lei Rouanet após o trâmite. Essa propriedade ainda não foi transferida para a Prefeitura do Rio, que deve tocar o projeto.

A História do Hotel Moderno em Santa Teresa

O histórico Hotel Moderno, que também chegou a se chamar Vista Mar, foi por muito tempo considerado um dos hotéis mais luxuosos da cidade. É célebre a foto de Isadora Duncan em seu terraço com balaustrada clássica, e a iconografia carioca ao fundo. Inaugurado em 1914, representava um verdadeiro símbolo de sofisticação. Localizado na Rua Cândido Mendes, N° 283, em Santa Teresa, no Centro do Rio, o casarão de estilo eclético contava com uma bela vista para a Baía de Guanabara e para o Pão de Açúcar.

O hotel contava com 4 andares e 65 acomodações com energia elétrica, água corrente fria e quente, ventiladores de teto e até telefones. E além disso, oferecia dois elevadores, um imenso restaurante e um refeitório. O nome “moderno” refletia a vanguarda do estabelecimento.

A propaganda da época destacava a cozinha internacional e a fluência dos funcionários em francês, inglês, espanhol e alemão. O local era conhecido por seu silêncio e pelo ar puro da parte alta de Santa Teresa, o que lhe conferia um prestígio comparável a uma casa francesa de primeira linha.

Os nomes ilustres da época, como a bailarina e coreógrafa norte-americana Isadora Duncan e a feminista Laurinda Santos Lobo costumavam frequentar o local, entretanto, as mudanças sociais e econômicas da época levaram ao declínio do hotel e suas atividades foram encerradas.

De Badalado a Esconderijo de Nazistas

Em meados da década de 1940, o estabelecimento voltou a ganhar destaque após ser palco de um caso de espionagem nazista. Otto Surerus, um advogado brasileiro descendente de alemães, foi acusado de fazer parte de uma rede de espionagem nazista no Brasil. Ele adquiriu o prédio do Hotel Moderno e instalou uma base para atividades partidárias. Otto também abrigava outros nazistas.

E por lá, documentos secretos do governo brasileiro foram encontrados, fato que levou a prisão dos simpatizantes do regime nazista que ali se reuniam e ao encerramento das atividades do hotel, pela segunda vez na história. Nos anos seguintes, o prédio passou a ser alugado por produtoras de cinema e posteriormente seus quartos foram alugados como apartamentos comuns. O imóvel acabou sendo tomado pelo governo federal.

A Derrocada

Já na década de 1990, o hotel enfrentou um novo período de decadência, tornando-se um verdadeiro cortiço, sem qualquer vestígio do luxo e sofisticação do passado. Sua fachada degradada e estado interno quase completamente destruído lhe renderam o apelido de “pulgueiro chique” pelos moradores da região.

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1 COMENTÁRIO

  1. Quanto pré-julgamento e preconceito na adjetivação “supostos integrantes de ‘movimentos sociais’.
    Por um acaso a repórter já fez uma pesquisa de campo para saber quem são as pessoas que ocupam os prédios abandonados do Centro do Rio?

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