Invasão na Avenida Brasil é fonte de renda para criminosos

Gangue de invasores do prédio da antiga Hermes Macedo dividiu o espaço em muitas lojinhas que são alugadas por cerca de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 cada uma. Com o despejo decretado desde 2012 e suspenso por causa do "espírito natalino", a desordem urbana e a esperteza driblam o judiciário há 9 anos.

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O antigo lojão da HM Pneus foi invadido por uma gangue que tem lucros estratosféricos com a locação de lojinhas em um ponto movimentado da avenida Brasil, na esquina da avenida Paris, em frente à passarela. Já ganharam até com um enorme salão de Bingo.

Nos anos 90, sucumbiu para sempre uma grande empresa sulista, com filiais pelo Brasil todo. Era a Hermes Macedo, famosa por sua decoração de Natal todos os anos, e pelo slogan “Pneu Carecou? HM Trocou!“. No Rio, a ‘jóia da coroa’ era o grande complexo comercial de propriedade da empresa, na esquina da Avenida Brasil com a Avenida Paris, em Bonsucesso. Um grande terreno com um lojão onde era possível fazer qualquer tipo de serviço automotivo, com endereço pela avenida Brasil, 5575, bem em frente à passarela que cruza o famoso logradouro.

Após a derrocada da Hermes Macedo – que chegou a ter 180 destas grandes lojas – o imóvel passou a ser parte de uma Massa Falida, e chegou a ser alugado ao Unibanco. Por fim, com o estouro da empresa, foi dado, através de processo trabalhista, como pagamento a um de seus funcionários, a quem a HM devia por anos de trabalho. Como ocorre no Brasil com freqüência, após sair das mãos de um grande grupo empresarial, e ser entregue a um trabalhador, começaram os problemas, que acabaram coincidindo com o descontrole urbano do Rio e a onda de invasão a imóveis.

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A Hermes Macedo foi uma das maiores empresas do ramo automotivo de todo o Brasil. Com sede em Curitiba, durante mais de 70 anos se destacou no ramo de auto peças e importações, assim como pneus. Falida, seus imóveis acabaram servindo para pagar a credores. Foto: Jornal O Município, de Blumenau

Antes que o novo dono pudesse usufruir finalmente do que lhe devia a HM, o imóvel foi invadido por uma gangue de invasores, destas que vêm transformando o Rio de Janeiro no que ele é hoje. O imóvel foi loteado e transformado em dezenas de lojinhas e apartamentos, além de um salão utilizado para jogos de azar ilegal e até uma casa de festas, além de um estacionamento irregular. O grupo, que já teve o despejo decretado diversas vezes e acaba sempre conseguindo uma liminar ou algum tipo de decisão provisória adiando mais um pouco sua expulsão do imóvel que ocupa irregularmente, vive da caridade judicial – feita, obviamente, com o dinheiro dos outros.

O DIÁRIO DO RIO esteve no local e verificou como o negócio funciona. Toda a periferia do imóvel é ocupada por lojinhas, alugadas de “R$ 1.500,00 a R$ 2.500,00” por mês, segundo informou um homem sentado numa cadeira e que seria o único responsável por dar atendimento a interessados em alugar os imóveis da gangue. O pagamento é feito em dinheiro, e o grupo toma cuidado para não colocar anúncios em portais e nem em jornais. “Tudo é feito de boca“, disse Antônio, um vendedor ambulante que trabalha ali perto.

Dentro do imóvel, foram construídas, convenientemente, umas 10 casinhas residenciais, que servem de álibi para sensibilizar magistrados e promotores que gostam de fazer caridade com o dinheiro alheio. Ali, argumenta-se no processo judicial, que moram pessoas carentes, doentes, menores de idade, diabéticos, idosos, pessoas com câncer, praticamente uma verdadeira colônia hospitalar. Incrível que não parece ter ninguém saudável. Coincidência curiosa. Mas apesar de tudo, algumas das casas dos invasores têm até piscina de fibra. Deve ser pra hidroginástica.

Ninguém sabe quanto se fatura com o salão e jogos ilegais, que, dependendo da época, conta com máquinas de caça-níqueis, bingo ilegal e muito mais. O ‘estabelecimento’ já foi fechado algumas vezes, e, por isso, abre e fecha em certas épocas do ano, para despistar. São diversas as notícias em jornais de grande circulação. Não que isso tenha adiantado de nada. Ao tentarmos fotografar o local, nossa equipe de reportagem foi ameaçada por um homem alto, parrudo, de cabelo levemente arruivado. Segundo ele, a “área é da milícia” e “é proibido tirar foto“. Ele nos obrigou a apagar as fotos, e tivemos que voltar outro dia para tirar as fotos que ilustram a reportagem, que só mostram ruas vazias pois foram tiradas praticamente ao nascer do sol.

O ponto comercial é de grande circulação. As lojinhas estão sempre totalmente alugadas. O “Bar do Baixinho“, mais um “inquilino” da gangue de invasores, é um point na região. Vive lotado na hora do rush, com centenas de pessoas se acotovelando para beber e festejar dentro do imóvel invadido. O fluxo da passarela é tão grande que nenhum imóvel no “shopping da bandalha” fica jamais vazio. “A grana aqui corre solta“, disse o camelô.

Curiosamente, a gangue de invasores conta com a leniência da Light e da CEDAE. Têm água e luz oficiais, segundo informa o “corretor da cadeirinha“. Todo mundo consegue ligar sua luz e água, e, pasmem! Segundo ele, cada um tem seu próprio relógio! A gangue, mesmo com despejo decretado dezenas de vezes, sem nenhum tipo de documento, alugando o imóvel dos outros – claro, faturando uma estimativa de mais de 40 mil reais por mês nas barbas do judiciário – não tem dificuldades em convencer as concessionárias de serviços públicos a conectar energia elétrica a seus ‘locatários’. Agora vá você, leitor, pedir ligação de luz na sua casa ou comércio, com um documento rasgado na pontinha, ou sem um contrato de locação acompanhado de uma matrícula do registro de imóveis mostrando que quem alugou é a mesma pessoa que é dona

Há 9 anos, uma juíza trabalhista suspendeu o despejo que ocorreria finalmente e poria fim à mamata milionária da gangue de invasores, por conta do “espírito de natal”. O despejo foi adiado no fim de 2012 para que as ‘famílias’ passassem um último natal no local (leia-se, e os invasores faturassem mais um mês de aluguel). O desalijo dos criminosos e seus inquilinos ocorreria em janeiro de 2013. O ano é 2021, e ainda estão por lá. Um novo despejo em 2021 foi suspenso, “por causa da pandemia“. Afinal, os invasores que estão lá há quase 20 anos faturando o que já se estima em milhões de reais, foram prejudicados pela COVID-19. Acontece nas melhores famílias.

O processo aguarda supostamente o fim da pandemia para efetivar o despejo da gangue de invasores. Para o bem do Rio, é o que se espera que ocorra, para que a Hermes Macedo não vire uma nova Borgauto.

Procuramos o ex-funcionário da Hermes Macedo e o Sindicato que lhe assistiu durante o processo em que “recebeu” o imóvel de indenização, mas eles não quiseram se pronunciar. A matéria foi totalmente escrita com base no processo judicial, que corre na vara de Campos dos Goytacazes, e com base nas entrevistas de pessoas que preferiram permanecer anônimas, com medo das retaliações do grupo de invasores, que, segundo um de nossos entrevistados, “toca o terror”. Quem duvida?

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23 COMENTÁRIOS

  1. Somos pessoas honestas, trabalhadoras e cumprimos com nossos deveres de cidadãos, e jamais estamos fazendo qualquer ato ou referência maldosa descrita nessa reportagem.
    Muito pelo contrário, estamos lutando na justiça dentro da lei e processos legais pela regularização das nossas moradias que estão há anos neste local.
    Portanto, não aceitamos nenhuma reportagem caluniosa que, venha a desabonar nossa dignidade e moral.

    • A senhora pode até ser honesta mas quem aluga o imóvel dos outros pra lojas comerciais, e embolsa aluguel é bandido. Quem faz Bingo ilegal é bandido. Lava Jato ilegal é bandido. A senhora no mínimo é vizinha de bandido. Toma vergonha.

  2. Eu sou moradora à Quinhentos metros da antiga Hermes Macedo e digo,só moram trabalhadores cidadões honestos,não corremos riscos de ser roubados e nem nossas casas,antes de ter essas moradias só vivíamos sendo assaltados.

  3. Sem comentarios,vivemos em um país com a população covarde ,e um individualismo sem precedentes.Governado por um tribunal corrupto, por políticos sem escrúpulos e uma população covarde,dominada pelo medo.Resumindo eles alegam uma democracia que pra eles funcionam muito bem ,o povo tem o direito de falar ,mas sabemos que palavras sem ações nao surtem efeito.O Brasil esta afundado em um caos sem esperanças de retorno,por que depois que o pais passou a ser governado po? essas gangues ,o pais so afundou. Solução para quem tem condições e conhecimento, fugir dessa colonia prisional ,por que aqui quem cumpre pena é a população e cidadão de bem.

  4. O Rio de Janeiro é a casa da mãe Joana, ninguém toma atitudes de cidade séria, aqui todos fazem o que querem e nada sofrem, as invasões estão a toda prova nas comunidades, é o poder público, fingindo que está tudo certo, a falta de compromisso do gestor é tão grande que beira o cinismo. Pobres de nós que caminhamos para uma realidade cruel,.

  5. O EXEMPLO VEM DE CIMA – Bandidos por bandidos, quadrilhas por ORCRIM o que dizer da quadrilha do judiciário, que dizer do silencio do MPRJ e da Imprensa no maior crime de estado que é a cobrança do pedágio da Linha Amarela em AVENIDA que se sabe é BEM PUBLICO DE USO COMUM DO POVO E INALIENAVEL. Então não vejo qual o assombro de gangues alugando imóveis de terceiros se o próprio estado e a própria justiça recebem vantagens indevidas (Propina & Peculato)para manter um pedágio criminoso que não emite nota fiscal, estelionatários que só emitem um recibo falso, e clandestino na avenida. Não vejo esse assombro da imprensa, agora basta uma gangue de pé de chinelo faturar alguns mil reais contra os milhões de reais do colarinho branco, a imprensa faz logo um escândalo !!!

  6. Tomaram que todos os envolvidos sejam presos e toda dos prejudicados sejam indenizadas até última geração pelos envolvidos.

    Criminosos!!!

    LOBOS EM PELE DE OVELHAS!!!

  7. Toda população clama por justiça e tomara que todos os envolvidos sejam presos nessa trama criminosa.
    Invadir imóvel alheio é CRIME e lugar de criminoso é na CADEIA.

  8. se o estado pensa q vai deixar um imovel gigante vazio na frente de um monte de gente sem moradia/trabalho, ta mt enganado! Parabens aos ocupantes batalhadores q transformaram um espaço ocioso em fonte de renda. Qd rico faz casa em lugar proibido os vagabundos desse jornal nao fazem reportagem. Vai falar mal das construções irregulares em noronha e ilha grande seus vagabundos. Vai passar pano pra rico na casa do krl

  9. Esse Brasil aqui realmente já era.
    Se quem deveria dar o maior exemplo, que é o STF, VIROU UM PARTIDECO POLITICO, Imagine todas as instancias abaixou dele.
    Como já li aqui em outro comentario, somente um grande movimento da populaçao vai parar isso.

  10. Além de todos absurdos mencionados, podemos incluir o fato de apenas um funcionário receber essa loja gigante como indenização. Não é por caso que a Hermes Macedo faliu juntamente com tantas outras empresas expoliadas por decisões trabalhistas judiciárias. No futuro breve o Brasil será um grande camelodromo controlado pela milícia.

  11. O Rio de Janeiro acabou faz tempo. Tenho 63 anos e nunca vi nada melhorar ou se desenvolver por aqui, a não ser tudo o que não presta por toda parte. Há pouquíssimas exceções, mas só para confirmarem a regra.

  12. Quando o proprietário assumir já não terá mais saúde para usufruir e aproveitar seu patrimônio, lamentável a morosidade da nossa justiça.

  13. Boa tarde,a grande verdade é que a H.Macedo já virou Borgauto auto peças há muito tempo.por culpa da omissão do poder público,por pouco o mesmo não aconteceu com o prédio da Celso Lisboa em Vaz Lobo,que será um Campus da UERJ.ainda bem,que aquele prédio foi salvo.

  14. Vedades tem inúmeras e diversos pontos de vistas…porém precisamos entender alguma fatos marcantes para a cidade e não só do Rio 1° quem manda é o poder paralelo vide as vans, ônibus, grupos de táxis, empreiteiras, políticos, crimes organizados. O que sobra é aluma grande parte da população que apenas paga os impostos e é regulada ou pelas leis ou pela força. O fato é que se não houver uma grande revolta popular e justamente dessa maioria não iremos a lugar algum. O processo está todo corrompido e corporativismo por todos os lados… Juiz julga juiz, militar julga milita, polícia julga polícia, político julga político. Temos uma descontrole endemico..leis arcaicas que não servem de nada só para os normais..por isso nada vai acontecer.

  15. De um lado governantes e parlamentares corruptos, do outro leis feitas por esses mesmissimos parlamentares, do outro uma justiça valente só com honestos ou ladrões de galinhas e no meio desse furdúncio os eleitores que além de adorarem ser enganados, também gostam de serem roubados e aí temos o que sempre fomos, somos e seremos: o país dos jeitinhos.

  16. É claro que está havendo corrupção, principalmente no judiciário! Mas, o Brasil está parecendo o velho oeste: uma quadrilha de bandidos chega e faz o que quer até que apareça um xerife para por fim a bandalheira!

  17. Isso ocorre também a 300m do CADEG, um importante é famoso shopping gastronômico em Benfica com invasão do passeio sem nenhuma ação do poder público. Uma vergonha! Prédios de até 4 andares e lojas erguidos na Capitão Félix certamente acobertados por algum político.

  18. Vontade de xingar sem cessar. Isso é a motivação do porquê o Rio de Janeiro ser o que ele é hoje.

    Como negócios irão prosperar se a desordem grassa e a Justiça só quer saber dos seus privilégios nos corredores acarpetados do TJRJ?

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