Como saber o que vai na cabeça de Eduardo Paes. Para quem não está com ele o tempo todo, só é possível saber comparando os movimentos que ele faz com os que já fez na política.
Eduardo Paes foi braço forte de César Maia, quando ele quis substituir as lideranças políticas tradicionais do Rio de Janeiro. César fez com sucesso, o movimento que Carlos Lacerda tentou fazer e não conseguiu.
A estratégia de César Maia deu vida política a um grupo de jovens, quase todos da PUC-RIO, e Eduardo era um deles e, em pouco tempo, por mérito, o principal.
Como principal, Eduardo dificultava o crescimento político do filho do César Maia, Rodrigo. César, então, esvaziou Eduardo, que se fez de desentendido até vencer mais uma eleição para a Câmara dos Deputados com a ajuda da máquina. Depois buscou abrigo no PSDB.
Lá, pelo mérito e com as bênçãos do José Serra, Eduardo conseguiu ser Secretário-Geral na Executiva Nacional e assim ficou até que Sérgio Cabral acenou-lhe com a possibilidade de ser
candidato a Prefeito do Rio com o apoio de toda a estrutura de poder do PMDB.
Mas, para ter o apoio incontestável do gigante PMDB, Eduardo precisou engolir os sapos que Jorge Picciani ofereceu-lhe numa bandeja. Molon, o ingênuo, foi o instrumento do jantar e Eduardo não se incomodou com isso.
Com Cabral, Eduardo ganhou de presente Lula, a Copa, as Olimpíadas e o que mais quisesse. Via-se que era só ele pedir. E com tudo isso, teve a sorte ou conveniência, de não eleger o sucessor, que teria que descascar um tremendo abacaxi, formado pelas contas da prefeitura e obras com problemas. O eleitor designou Marcelo Crivella para a função e felicidade do Eduardo Paes.
Ele, então, encontrou o desenho ideal para a estratégia de seguir na política. A administração de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio seria o discurso ideal, porque, por mais que quisesse e por mais poder que tivesse, Marcelo não venceria as dificuldades na prefeitura e poderia ser, como foi, o fator de comparação usado pelo Eduardo na disputa pelo governo do estado e depois para retorno à prefeitura.
Os problemas nascidos no tempo da Copa e Olimpíadas permanecem no novo governo Paes, mas ele, hábil como é, ainda joga tudo na conta da gestão do sucessor que virou antecessor.
Quando Cabral caiu em desgraça merecida e por obra própria, Eduardo Paes retornou ao ninho original onde Rodrigo, o filho, já tinha brilho suficiente.
César Maia aceitou o retorno com enorme desconforto, pelas acusações que Eduardo lhe fez quando conveniente. Mas, César digeriu o sapo que o filho ofereceu e seguiu estrada com Rodrigo, Eduardo e mais uma campanha para o Senado, que, por conveniência política, Eduardo não fez.
Com o conforto de, pela primeira vez, ter um partido no Rio para chamar de seu, Eduardo Paes se organiza para estar representado na disputa pelo governo do estado. Não se sabe ainda se por Felipe Santa Cruz ou por Rodrigo Neves. Sendo um ou outro, isso pouco importa para Eduardo Paes, imagino.
O apetite dele, a conveniência agora é pela reeleição do deputado Pedro Paulo, seu sucessor natural. Todo o resto da chapa é formada por coadjuvantes. Quem chegar, chegou, mas quem precisa chegar bem é o sucessor natural, para que Eduardo consiga deixar a Prefeitura no meio do mandato nas mãos da única pessoa no mundo em quem confia e com quem divide o projeto político.
Não duvidem. Pode ser que eu esteja certo. Eduardo Paes seja alguém que lute sempre por aquilo que, na política, lhe é mais conveniente.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.
Boa análise; e realmente, o carioca sabia que o PÓSDUDUEVENTOS seria difícil, mas o Crivella se saiu melhor q a encomenda
Excelente abordagem e biografia política resumida. Sintetiza que, diferente de um grande prefeito, Paes sempre será grande político. Pena que suas realizações não fizeram do Rio a cidade que deveria estar entre as grandes do mundo, bela e arrojada. É só procurar as placas de suas realizações, se as encontrarem…Misturando fantasia e falta de controle para administrar e aplicar bem os bilhões de reais que teve em suas mãos, transformou o Rio numa cidade “casca de ovo” onde a parte aparente superfície é até bonitinha, mas se você quebrar a casca, aparece tudo de ruim que o carioca passou e está vivendo nesta ultima década e um pouco mais.