O Rio de Janeiro se tornou palco de mais um episódio estarrecedor. Moïse Kabagambe, imigrante que veio do Congo em busca de melhores condições de vida no Brasil, foi brutalmente assassinado, sendo espancado por várias pessoas por mais de 15 minutos.
O sentimento é de revolta e impotência. Sensação angustiante, que é compartilhada por milhares de pessoas nas redes sociais. Mais do que isso, todo esse episódio leva a uma reflexão necessária: diante de um contexto tão cruel, como conseguiremos reconstruir a nossa humanidade?
Hannah Arendt, filósofa alemã e uma das figuras mais influentes no século XXI, aborda, na obra “A condição humana”, a sua ideia de humanidade. Para ela, esse conceito parte da construção coletiva entre as pessoas, na busca pela garantia, em primeiro lugar, de igualdade política. Afinal, a partir desse princípio, todos os direitos podem ser reivindicados. A política se torna então o espaço adequado para a garantia de cidadania e, por consequência, para a construção de condições mínimas de vida para todos os cidadãos.
Nessas circunstâncias, são os direitos humanos – tão desvirtuados por aí do seu sentido original no debate público – que representam a efetivação dessa igualdade política. É o direito de ter direito, de ter um lugar no mundo. Eles passam a ser, afinal, a evidência que a liberdade política está sendo colocada em prática, na busca do mínimo necessário, do pontapé inicial da ideia de humanidade.
Enquanto não pararmos de desprezar a importância dos direitos humanos, não teremos o mínimo de liberdade de escolha e de segurança para uma vida digna para todos. E sem a igualdade política, estamos fadados a um estado de necessidade bruta e de selvageria. Ficamos desprotegidos, largados aos acasos da vida, observando assassinatos cruéis, como o de Moise.
Por Moise e por tantos outros exemplos que clarificam o nosso estado de selvageria e insegurança, precisamos escutar Hannah Arendt. Pela defesa irrestrita da igualdade política e direitos humanos, senão não há como reconstruímos a nossa humanidade.
Minha profunda solidariedade aos amigos e familiares de Moise e que as autoridades tomem todas as medidas cabíveis.