Parece que a crise econômica está fazendo mais uma grande vítima. Uma que tem tudo a ver com a história do Rio de Janeiro. A bonita construção centenária na Rua do Catete, 194/198 (antigo 158), onde funciona filial das Lojas Leader, deve ficar desocupada novamente.
Segundo a página Alerta Glória e Catete do Facebook, é grande a movimentação de caminhões de mudança e funcionários que começaram a esvaziar o imóvel, que fica na esquina da Rua Correia Dutra. A página publicou diversas fotos mostrando a mudança. A Leader, que está em Recuperação Judicial, ocupa a loja de 3.900m2 desde março de 2009. O prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico desde 1962.
O imóvel pertence hoje ao Fundo de Investimento Imobiliário RBRD11, negociado na Bolsa de Valores e especializado na modalidade de aluguel “build-to-suit“, isto é, eles constroem ou reformam imóveis de acordo com projetos de grandes empresas, e estas, depois que o imóvel está pronto, ficam com o compromisso de ocupar os prédios, por um número determinado de anos, pagando aluguel. O Fundo dono da loja é administrado pelo Banco Votorantim, e tem um patrimônio de 146 milhões de reais.
No post do Alerta Glória e Catete muitos especulam se a desocupação do imóvel não teria sido por conta de um aluguel alto, estimado por especialistas em cerca de 250.000 reais mensais. Wilton Alves, especialista em locações comerciais da Sergio Castro, foi procurado pela reportagem para falar sobre o assunto. “Se o aluguel for este, para quase 3.800m2, é lógico que o valor parece alto para um leigo, mas o que se avalia neste caso é o preço por metro quadrado, e, neste caso, seriam menos de 66 reais por metro. E se o imóvel é tombado e foi totalmente restaurado, deve ser completamente isento de IPTU. Como é um prédio independente, também não deve pagar condomínio. Ou seja, se o custo for este, não está caro. Tem uma diferença entre preço alto e preço caro, que as pessoas acabam esquecendo. Como o imóvel é grande, é lógico que o multiplicador pela quantidade de metros gerará uma cifra importante“. Informações de mercado dão conta que a Leader estaria com o aluguel de todos os imóveis que ocupa atrasados.
O imóvel é uma pérola do Rio Antigo, tendo sido construído no século 19 para ser o Hotel Carson’s, conforme informações do blog Saudades do Rio. Este hotel era o preferido dos ingleses quando se hospedavam no Rio de Janeiro do Segundo Império. Segundo o blog, “O Carson´s, além de um piano que “alegrava a muitos e exasperava a outros”, já oferecia a seus hóspedes aquilo que na época se considerava a “maravilha das maravilhas”: o telefone de número 5125. O custo das refeições no final do século XIX no Carson´s era de 2.000 réis pelo almoço, variando de 2.000 a 3.000 réis o jantar. Curiosamente o custo da alimentação (almoço+jantar) era superior ao da hospedagem, já que o preço da diária completa deste hotel, nesta época, era de 6.000 réis.” Depois do Carson’s, mais dois hotéis ocuparam o prédio, sem o mesmo glamour.
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Depois do uso hoteleiro, o prédio, que foi propriedade do Barão de Mesquita, acabou se tornando a famosa loja de móveis Renascença, que permaneceu no imóvel por décadas, até encerrar suas atividades no final do século XX, mais precisamente em 1999. Depois disso, o prédio conheceu o abandono e a depredação típicos – infelizmente – das histórias que conhecemos do patrimônio histórico carioca, até que, finalmente, uma operação imobiliária bastante complexa acabou por restaurá-lo especialmente para ser utilizado pela Leader. E, salvo as constantes reclamações dos vizinhos pelo som alto de seus locutores com caixas de som nas ruas, os especialistas em urbanismo são unânimes ao afirmar que é inegável que a ocupação do imóvel pelo grande magazine foi altamente benéfica para o local.
Após as obras de restauro e expansão, o casarão voltou ao esplendor de antes, e com inovações que agradaram: a loja se conecta com um prédio novo construído nos fundos, a fachada foi totalmente preservada e a conexão com o prédio novo é feita através de uma passagem com chão e teto de vidro.
Infelizmente a Leader não conseguiu permanecer no mercado, era uma empresa muito boa. Gosto da RBRD11, é uma empresa que tem ética. Tenho ações dela na B3. Acho que as pessoas poderiam estudar mais sobre como funciona um fundo imobiliário e uma empresa grande.. o capital que eles geram, o tanto de impostos que precisam pagar sobre a divida bruta, sobre os dividendos e tantas outras coias… o imposto é um absurdo, tudo gera imposto, a empresa ou o fundo se lucrar mais, paga mais impostos, claro sem contar com o pagamento dos funcionários, de devolução de peças, materiais de tecidos, local e MUITAS outras despesas. A culpa não é só do fundo, a culpa é do governo mesmo. Pelo visto ninguém pode ganhar mais que o governo, que eles vão que nem urubu em cima da carne. Ah e lembrando que a Leader também alugou um galpão super grande do mesmo fundo imobiliário lá em Natal, Rua João Pessoa, 37. Com certeza lá deve ser o centro da cidade. Ou seja, se fosse muito caro ou inacessível para a Leader, eles não teriam passado tantos anos no mesmo lugar com a mesma imobiliária.
O problema todo está nisso: imóveis que pertencem a grupos de investimento. Façam um levantamento e constatarão que inúmeros prédios e andares inteiros de prédios comerciais estão nas mãos de poucos. Eles determinam o preço. Negociar uma renovação, redução do valor (?) tarefa impossível, eles preferem ter o imóvel vazio por alguns meses ou anos – se até famílias proprietárias de alguns imóveis se dão a esse luxo (procurem uma matéria do início da semana sobre imóvel no Flamengo que está a venda há 7 anos…)
Enfim, não é só de reforma agrária que o país precisa não, é de regulação imobiliária também. Mexer no Imposto de heranças e doações de grandes fortunas.
Isso aí, Daniel. Esse é o espirito se quisermos ser um país decente e não uma grande gleba de terra para explorar ignorantes. Só acho que o focp da reforma tributária tem que ser o imposto de renda. Com ele e com prefeituras ativas na defesa da funçao social da propriedade, sequer precisam existir impostos sobre heranças (que sao na maioria das vezes elididos por cnpjs mil). Fim do iptu para imoveis unicos e nao excessivmente grandes + fim do itbi e teriamos como consequencia a diminuiçao da informalidade e dos contratos de gavetas. Força no imposto de renda. Na Suecia, por ex. , um juíz ganha 1.5x o que ganha um cidadao comum. No brasil, se o salario medio é 2.000 reais, o juiz ganharia cerca de 3.000 reais. Os suecos estao errados?