Livro ‘A mesa do Rei’, que conta história das louças de D. João VI, é lançado em Copacabana

Obra fotográfica sobre os valiosos serviços de porcelana do rei clemente demorou mais de dois anos para ser concluída e retrata peças de mais de 200 anos de história que podem valer milhões de reais

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Foto: Divulgação/ André Luiz Rigo

Dom João VI, o rei “Clemente”, viveu uma vida voltada para a cultura durante seu reinado em Portugal, Brasil e Algarves. O rei era um amante das obras artísticas e com seu poder e influência trouxe beleza material ao Brasil. Fundou o Jardim Botânico e a Biblioteca Nacional no Rio, além renovar do ensino de artes no país com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1817, que deu origem à Academia Imperial de Belas Artes – futura Escola Nacional de Belas Artes. A arte era tão presente em sua vida que absolutamente tudo a sua volta parecia ter saído de um museu renomado, inclusive a sua mesa de jantar.

Dom João VI possui um gosto peculiar pelas louças que eram usadas na hora das refeições e suas preferidas sempre foram as peças de porcelana. Bordadas, pintadas e pensadas, os pratos eram, e ainda são, considerados obras primas. Interessado no assunto pouco falado, André Luiz Rigo, um catarinense, pós-graduado em Direito, e apaixonado pela vida da família real, desenvolveu um trabalho de mais de dois anos de pesquisas, estudos, leitura de livros antigos, anuários do Museu Imperial, artigos, catálogos de antigos leilões, além de trocas com Museus e instituições que possuem acervo do Império, bem como incontáveis conversas e trocas de e-mails com colecionadores, antiquários e leiloeiros para a finalização do livro “A mesa do Rei. As porcelanas de Dom João VI, Rei de Portugal, Brasil e Algarves”, uma obra fotográfica, sobre os serviços de porcelana do rei clemente.

E finalmente, a obra foi lançado para o público, no dia 22 de outubro, no Rio de Janeiro.  O evento foi organizado pelo antiquário Tinoco Escritório de Artes e Rosana Vale, no Shopping Cassino Atlântico, na Avenida Atlântica, 4240, loja 134, subsolo em Copacabana. Antecedendo a tarde de autógrafos, ocorreu uma palestra com a participação da museóloga Vera Tostes, do colecionador Claudio Castro e do arquiteto Antonio Carlos Duarte, além do escritor. Itens reproduzidos no livro estavam expostos para a apreciação do público, uma verdadeira aula sobre história do Brasil e sobre a louça histórica brasileira.

A obra traz uma breve biografia de Dom João VI, além de esclarecer o que é um serviço de porcelana; quais as variedades de porcelana que El Rey trouxe para cá e as que encomendou já desde o Brasil; e além de farto material fotográfico de peças que ainda existem, esclarece onde foram utilizados cada um dos serviços de porcelana. Uma coisa bacana na obra é que dá acesso para o público a peças que nem os museus têm, como por exemplo o par de Wine Coolers (baldes de gelo), que só existem em coleções particulares.

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André Luiz afirma que não existe qualquer obra atual sobre a temática e que o livro nasceu pela carência de material sobre o assunto, “razão da importância de uma publicação que possibilite a pesquisa mais aprofundada dos detalhes das peças e com rico acervo fotográfico colorido“. Uma obra de referência foi do celebrado autor Edino da Fonseca Brancante, datada de 1981, e sem fotos de alta qualidade.

“Ele é uma obra executada em capa dura de alta qualidade e o interior é integralmente em papel couché colorido, reunindo uma série de informações e imagens históricas, além de muitas fotografias de variadas peças de cada serviço de porcelana de Dom João VI”, disse André Luiz Rigo, que dedicou o primeiro volume às porcelanas utilizadas por Dom João, os chamados “serviços reais”; alguns datam do século XVIII e outros do XIX. Há peças no Museu Histórico Nacional, no Rio, na Fundação Emma Klabin, no Museu Carlos da Costa Pinto na Bahia e em museus históricos do mundo todo.

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Foto: Divulgação/ André Luiz Rigo

Serviço dos Pavões

Um dos serviços mais famosos e que é, detalhamente, abordado na obra é o conhecidíssimo “Serviço dos Pavões”, produzido entre 1760 e 1795. Uma coleção de jantar Real, confeccionada em porcelana de pasta dura, de finíssima qualidade, que foi produzida na China do Imperador Qianlong, sob encomenda, para a Europa, trazido e comercializado pela Companhia das Índias Ocidentais. O histórico serviço de louças de jantar é considerado um dos mais belos da história da humanidade. Considerado uma verdadeira jóia, partes do serviço já foram vendidas por mais de um milhão de reais. Um único prato costuma ser vendido em antiquários por mais de 4.000 reais, em estado regular de conservação. Uma sopeira pode chegar a 50 mil reais. “O trajeto seguido pelas porcelanas pode explicar parte desta mítica. Trazidos a pé desde a cidade produtora até Cantão, na China, depois eram embarcados em navios que percorriam milhares de quilômetros até Portugal. E depois, embarcados às pressas em barris para o Brasil, quando da fuga de Dom João pro Rio. Por fim, com a queda da monarquia, um leilão esquisito dispersou as peças do dia pra noite pelo mundo todo”, explica o colecionador Cláudio André de Castro, que teve algumas peças fotografadas para o livro.

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Foto: Prato “rechaud”, que serve para manter a comida quente ou fria, colocando-se água quente ou gelada no buraquinho – Livro ‘A mesa do Rei’

Em formato redondo, ondulado, oitavado ou recortado, os pratos são de porcelana branca, encaroçada, decorada com esmaltes nas cores habituais da chamada “família rosa”. Em sua borda figuram quatro ramos postos em cruz e a orla rouge de fer, alternada com chamativas estilizações de ramos na cor azul. No campo, está o casal de pavões sobre rochas e um ramo com grandes peônias, separados da borda da peça por um friso flordelisado. Além de pratos de vários tamanhos, foram confeccionadas sopeiras de vários tipos, terrinas, molheiras, travessas de vários formatos, manteigueiras, meleiras, wine-coolers e tigelas. As peças mais cobiçadas são chamadas “peças de forma”, que diferem dos pratos e travessas pela confecção mais intrincada.

A denominação “Serviço dos Pavões” se dá pelo fato de que as louças são decoradas com esses animais como elemento principal, o que é considerado pelos especialistas uma influência francesa.

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Foto: Divulgação

“O Serviço dos Pavões tem ímpar relevância na história do Brasil. Trazido pelo Príncipe Regente de Portugal, depois D. João VI, fundador do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fez parte do acervo da corte que protagonizou a maior mudança na vida do Brasil português. Do ponto de vista artístico, é sem dúvida o mais belo exemplar da louçaria trazida pelos monarcas portugueses. O tema e o padrão decorativo do Serviço dos Pavões não são únicos, foram amplamente reproduzidos. Porém, variações notáveis nas bordas de cada aparelho nos permitem diferenciar os que pertenceram à Real Fazenda de Santa Cruz, de D. João VI, de seus congêneres. Isso torna inconfundíveis as peças históricas”, destacou na época o empresário Paulo Barragat, colecionador que tem peças deste histórico Serviço.

Em novembro de 2019, peças que formavam uma parte do serviço suficiente para o uso fizeram parte de um leilão milionário. 73 peças de louça de D João VI foram a leilão aqui no Rio, partindo de um lance inicial no valor de R$ 400 mil. Especialistas consultados pelo DIÁRIO DO RIO avaliaram o conjunto em meio milhão de reais na ocasião. Em leilões em São Paulo, Londres ou Nova Iorque, atingem valores surpreendentes.

“As peças de forma (todas aquelas que não são pratos e travessas) são as de maior valor e as mais procuradas por todos, como manteigueiras, bowls e sopeiras”, segundo Cláudio Castro, empresário carioca que possui uma grande coleção das famosas louças de D. João VI.

No livro são também descritos outros serviços de porcelana que foram de Dom João, indicando a época de produção, os detalhes de cada peça, seus significados e simbologias, tudo para que tanto colecionadores quanto amadores possam ter contato com o maior número de detalhes, por exemplo, se eram usados no Paço Imperial do Centro, ou no Paço de São Cristóvão (o lindo museu incendiado era assim chamado na época) ou mesmo na Fazenda de Santa Cruz – bairro considerado agora “imperial”, por conta desta história. Algumas peças não haviam sido fotografadas em livros ainda.

O livro possui um especial significado para os amantes da história, pois o resgata o histórico das peças, bem assim a preservação dos costumes de mesa daquela época. São inerentes ao próprio processo de formação da nacionalidade brasileira, uma vez que muitos dos serviços de porcelana eram estampados com brasões nacionais, cuja importância é retratada na obra.

O autor planeja lançar, no futuro, um outro livro sobre as porcelanas do período Imperial, que podem incluir as louças da nobreza Brasileira, além dos serviços mandados fazer por Dom Pedro I e Dom Pedro II.

Como comprar o livro:

O livro está disponível para compra através do Instagram Barão de Perdizes. Com o valor de R$149,00 reais + o frete.

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