Uma das maiores lutas da cidade do Rio é contra os diversos ‘poderes paralelos’ cuja autoridade parece rivalizar com a do Estado. Camelôs clandestinos, traficantes de drogas, milícias, gangues invasoras de imóveis, são velhos problemas dos cariocas. E com eles vêm outros problemas, como gatonet, máfia do côco e também um crescente aumento do estacionamento irregular em espaços públicos ou mesmo em invasões de imóveis de terceiros. Um trecho de mais de 30 metros utilizado ilegalmente como parqueamento clandestino, sem qualquer repressão das autoridades, virou um pesadelo para frequentadores do Centro do Rio. A área, localizada na Avenida Presidente Antônio Carlos entre o Edifício Menezes Cortes e a Avenida Almirante Barroso, é destinada oficialmemnte pela Prefeitura do Rio para que os ônibus que acessam o Terminal de Ônibus não fiquem parados no meio da rua. No entanto, a área agora é criminosamente ocupada por uma fileira interminável de carros estacionados ilegalmente, criando transtornos significativos para o tráfego e as operações locais, assim como para pedestres. O inevitável caos no trânsito é evidentemente mais um entrave para a revitalização da região.
Máfia dos Estacionamentos
Os lojistas e comerciários dos arredores referem-se aos responsáveis por esse estacionamento irregular como uma “máfia”. Os acusados não apenas ocupam a área destinada aos ônibus, mas também arrancam e inutilizam – sempre impunemente – as placas de sinalização instaladas pela CET-Rio que indicam que a área é reservada para os ônibus. O resultado é que os enormes veículos acabam formando filas enormes, aguardando parados no meio da rua sua vez de entrar no terminal, o que causa engarrafamentos e impede o acesso ao maior Edifício Garagem da Cidade, que é procurado por visitantes que vem de todas as regiões. Além disso, os ônibus no meio da rua dão um nó no tráfego da avenida Presidente Antônio Carlos e por vezes atrapalham também a passagem dos carros na Nilo Peçanha e na Almirante Barroso.
Mesmo em frente ao prédio do Tribunal de Justiça do Rio, a ousadia da quadrilha não diminui. Eles removem constantemente as placas da Prefeitura do Rio, a última das quais foi retirada há cerca de um ano, após permanecer no local por apenas três meses. Nenhuma placa foi recolocada desde então, sendo assim praticamente decretada a vitória informal dos criminosos sobre as autoridades municipais. “O maior problema do Centro hoje são estes pequenos feudos de informalidade criados durante a gestão do Crivella ou durante a pandemia. São pequenos criminosos que posam de ‘perigosos’ com os lojistas só porque as autoridades não colocam pra quebrar na hora certa. Tem que rebocar os 30 carros de uma vez, e garantir que as placas de proibido estacionar fiquem no local. Não há porque o interesse privado prevalecer sobre o público”, atira Cláudio André de Castro, Presidente do Conselho Empresarial de Renovação do Centro da Associação Comercial do Rio e fundador da Aliança Centro Rio.
O esquema do estacionamento irregular funciona com flanelinhas, aparentemente pagos por uma espécie de “milícia” que diz controlar a região e chega a ameaçar lojistas revoltados com a situação. É comum ver mais de 30 carros estacionados ilegalmente ao longo da via ao mesmo tempo, sendo a Antônio Carlos uma das principais artérias do Centro do Rio. A fileira de automóveis parados ilegalmente estende-se quase até a Igreja de Santa Luzia, cenário que parece ser ignorado diariamente pela Prefeitura, que nos últimos dois anos não implementou medidas eficazes para combater a desordem e aceita que as placas de proibido estacionar sejam descartadas pelos bandidos.
Problema Generalizado
O estacionamento irregular não é exclusividade da Antônio Carlos. Outros locais no Centro do Rio também sofrem com a mesma irregularidade. Em maio deste ano, o DIÁRIO DO RIO noticiou o caso do Largo da Misericórdia, onde o acúmulo de carros em um terreno em frente à Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso comprometia a paisagem urbana e a preservação de um espaço histórico importante. Outro exemplo é o Beco do Bragança, um dos logradouros mais históricos da cidade, que se tornou um estacionamento de motocicletas até que a denúncia do jornal resultou finalmente na remoção dos veículos irregulares.
Os dados indicam um aumento preocupante nas denúncias de estacionamento irregular. A Prefeitura do Rio de Janeiro registrou 64.005 denúncias entre janeiro e maio deste ano, um aumento de mais de 20% em relação ao ano passado. As regiões do centro e do centro histórico concentraram 5.350 desses chamados.
Marcelo Haddad, presidente da Aliança Centro, destaca a necessidade de ação mais eficaz por parte das autoridades. “As autoridades precisam identificar, através de câmeras ou da guarda municipal, e desmontar as quadrilhas. Caso contrário, seguiremos enxugando gelo e acumulando enormes prejuízos para as empresas regulares que operam, pagam impostos e geram empregos formais nestas atividades. Para revitalizar o centro, precisamos de ousadia para resolver e coragem para não tolerar tantas ‘janelas quebradas”.
A equipe do DIÁRIO DO RIO procurou a Secretaria de Ordem Pública (Seop) para obter um parecer oficial sobre a situação na Avenida Presidente Antônio Carlos. Em resposta à solicitação, a Secretaria pediu que fossem enviadas fotos para análise detalhada do problema. Logo após, realizou uma fiscalização no local nesta quarta-feira (02/09), e aplicou 13 autuações por estacionamento irregular. Segundo a Seop, nenhum carro foi removido, já que os condutores encontravam-se nos veículos.