Mario Marques: Narrativas bolsonaristas sobre pandemia atropelam fatos

Para Mario Marques: Forte militância digital e falta de liderança legítima na oposição podem facilitar reeleição do presidente

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Foto: Alan Santos/PR

As desculpas, ou versões, dos fatos que condenam o Brasil a um de seus maiores morticídios sanitários estão assassinando a realidade. A aguerrida militância bolsonarista não deixa nada sem resposta na internet e impõe uma espécie de país paralelo, que minimiza as mais de 460.000 mortes por Covid no Brasil. O negacionismo aqui não é científico, mas sim eleitoral. Uma boa parte dos que cravaram 17 nas urnas em 2018 não se imagina com o PT de volta ao comando do Brasil. Independentemente das recentes pesquisas de intenção de votos que põem Lula à frente de Bolsonaro, isso é apenas um retrato de momento. E momentos mudam. Bolsonaro pode ser reeleito com a força da internet, pregando o de sempre: o antiesquerdismo.

Até 2010, era da esquerda a hegemonia das narrativas. Ao fim daquele ano, Dilma Rousseff se elegeria presidente da República e se iniciaria o fim do poder do jornalismo/classe artística na formatação das narrativas. A direita brasileira, no armário desde a ditadura militar, abriu a porta e fez-se ver nas ruas. Mais do que isso, muitos jornalistas, artistas e políticos também mudaram de lado.

Em abril de 2020, o governador do estado do Rio, Wilson Witzel, vivia o auge da popularidade, virando o líder nacional no enfrentamento da pandemia, juntamente com o governador do estado de São Paulo, João Dória. Mas, antes mesmo de ser enredado em escândalos da área da saúde, um pedaço dos bolsonaristas da Alerj e do Congresso já lhe atiravam pedras diárias, carimbando-lhe a pecha de “ditador” ou “destruidor de empregos”. Witzel já vinha rebolando diante do trator bolsonarista, até o presidente da República decidir ativar a Polícia Federal para tirar o inimigo de cena.

A máquina bolsonarista de destruir reputações é poderosa, ramifica-se entre os poderes institucionais e conta com milhões de militantes. Não se deve, sob pena de errar feio, considerar que a eleição de 2022 está no colo de Lula – ou de um possível candidato seu. A usina de narrativas da direita trabalha firme para que tudo fique como está.

Conheça agora 5 fatos sobre a pandemia e suas respectivas narrativas bolsonaristas, que por vezes soam estapafúrdias.

FATO 1: Bolsonaro foi omisso na pandemia, o que fez do Brasil o epicentro da Covid no mundo
NARRATIVA BOLSONARISTA: O STF decidiu que governadores e prefeitos tinham autonomia para lidar contra a pandemia e que, portanto, Bolsonaro não tinha nada a fazer

FATO 2: Bolsonaro demorou a comprar as vacinas, recusando adquirir a Coronavac, e dizendo que as pessoas poderiam virar jacaré
NARRATIVA BOLSONARISTA: Bolsonaro sempre quis comprar as vacinas, apenas estava pensando na saúde do povo, aguardando a aprovação das vacinas pela Anvisa

FATO 3: Bolsonaro desde sempre incita as pessoas a ir para as ruas, ignora máscaras e distanciamento social e, vez outra, dá a entender que vai dar um golpe nos poderes se governos pregarem o lockdown
NARRATIVA BOLSONARISTA: Bolsonaro não se conforma de o povo brasileiro perder o emprego e passar fome e por isso quer que as pessoas voltem ao trabalho imediatamente, ignorando governadores e prefeitos

FATO 4: Bolsonaro defende o tratamento precoce da Covid-19, que a classe médica e cientistas já descartaram, sendo o maior divulgador do mundo da Cloroquina
NARRATIVA BOLSONARISTA: Se dependesse do ministro Mandetta e da OMS, as pessoas contaminadas pelo vírus só iriam ao hospital se tivessem falta de ar. Cidades como Chapecó (SC) são provas de que o tratamento precoce funciona

FATO 5: Bolsonaro deixou governadores, prefeitos e micro-empresários à míngua, segurando verbas e recusando-se a injetar recursos na classe empresarial
NARRATIVA BOLSONARISTA: Bolsonaro mandou dinheiro, mas o dinheiro foi desviado e roubado

Essas narrativas dominam as redes sociais e confirmam o poder que Bolsonaro e bolsonaristas exercem sobre as classes mais baixas, algo que a CPI da Covid não consegue demolir.

Porém, o que faz com que narrativas se sobreponham aos fatos é a total  falta de um líder legítimo, que enfrente a arrogância bolsonarista. O ex-juiz Sergio Moro, desnudado e destruído pela esquerda com uma forcinha dos bolsonaristas, seria esse personagem, mas parece cada vez mais acuado. E a esquerda, que ressurge toda estropiada, gritando sozinha que Lula é inocente, parece atônita com essa nova força de opinião nas redes e nas ruas.

Bolsonaro não se envergonha por usar as instituições do estado para perseguir e condenar governadores, como fez com Wilson Witzel, afastado por impeachment, muito por se recusar a fatiar seu governo e a ser subserviente ao presidente. Algo que o atual governador, Claudio Castro, não se furta a fazer. Seu governo está vendido a políticos de todos os partidos e, principalmente, a Bolsonaro. No que isso vai dar veremos em 2022.

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3 COMENTÁRIOS

  1. A mídia marrom e sua militância já está desesperada com a quase certa reeleição de Bolsonaro em 2022. Já podem chorar por antecipação.

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