Marroni Alves fala sobre o Dia da Baixada Fluminense

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Foto: Mapa da Baixada Fluminense

Quando falo da Baixada Fluminense, penso na nossa gente aguerrida, valorosa, persistente e determinada a viver em busca de valores capazes de lhes proporcionar cidadania e dignidade. Para quem vive na região o desafio de acordar bem cedo, dormir muito tarde, trabalhar, estudar, pegar trem lotado e correr em busca de um lugar para o sonhado cochilo são tarefas que já se tornaram comuns.

Aquele que chega ou sai da Baixada por uma rodovia, também sabe quando isso acontece de olhos fechados: é só pegar a Linha Vermelha e chegar na altura do Aeroporto do Galeão, será tanto desnível e remendo de asfalto que seu cochilo, logo avisará onde estará. É batata!

Pior ainda é o desafio dos trabalhadores de Magé e Guapimirim: pegam os trens movidos a diesel até Saracuruna, outro até Gramacho e enfim, o que vai até a Central do Brasil. Já chegam cansados de tentar chegar no trabalho.

Crônico problema e comum para todas nossas cidades é a falta d’água e o saneamento, que deveria ser básico. Nossos rios, tornaram-se valões, assoreados, com moradias irregulares e as doenças de veiculação hídricas batendo na porta dos barracos, que denunciam outro problema: o crescimento irregular, desordenado e a falta de programas habitacionais. O problema da água, é o maior desafio da região. Muitas vezes, moradores do entorno da estação Guandu, a maior estação de tratamento de água do mundo, não têm água. Para quem não sabe, é a Baixada que produz a água e manda para a capital. O engraçado é que lá, não falta, mas alguns municípios daqui ficam mais de dez, quinze dias sem água.

O Dia da Baixada Fluminense deve/deveria/deverá ser para estimular o crescimento da autoestima da população da região. A Baixada Fluminense possui um enorme patrimônio de valores naturais, culturais, históricos, econômicos, humanos e sociais. Por isso, trava uma luta diária e ininterrupta em busca de justiça social, de igualdade humana e melhoria da qualidade de vida.

Nós da Baixada, também não temos nossa memória respeitada. Prédios, igrejas, casarões tombados pelos IPHAN e que contam parte da história do país, estão perto de cumprir o “tombamento” a e outros já deram lugar a lojas.

Na saúde, o cenário do Corona Vírus nos monstra o quanto somos frágeis, esquecidos e colocados em segundo plano. Os índices de infectados e óbitos não param de subir. Falta testes, leitos e respiradores e tem a descrença de muitos devido achar isso uma “gripezinha”. Não podemos esquecer das filas nos bancos do “auxílio emergencial” que mais parece “funeral”: vai para a fila, pega a primeira parcela, morre e voltam duas para o governo. Filas dão terror de ver tanta gente junta!

A Baixada soma pobreza e desigualdade. E o resultado dessa equação é a violência. Segundo o ISP, os treze municípios da nossa região registram juntos 59,1% mais assassinatos que a capital. A grande maioria desses óbitos: jovens e negros.

Não dá para esquecer a falta de creches, vagas nas escolas, o desrespeito às pessoas com deficiência nos transportes públicos, a forma desrespeitosa que alguns gestores municipais tratam os servidores públicos e a transparência com a utilização de nossos impostos. Nós, da Baixada Fluminense, apesar da nossa força histórica e de trabalho, vivemos dias difíceis.

Neste dia, por mais entusiasmo que possamos ter, só temos motivos para exigirmos respeito e absolutamente nada para comemorar. Na Baixada Fluminense, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

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Cidadão Baixada. Filho, neto e bisneto de pernambucanos é caxiense, portelense, tricolor, professor de História e Jornalista. É pesquisador na área da pessoa com deficiência, voluntário do Lions Clube Xérem e no Pré-Vestibular Comunitário da Educafro.

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