Como tem sido uma tendência mundial desde o início da pandemia, o mercado de escritórios no Rio tem vivido um período dos mais turbulentos. Mesmo assim, segundo levantamento da consultoria internacional de imóveis comerciais Binswanger, o setor ensaia uma leve recuperação. Isso porque, segundo a empresa, as locações de salas comerciais superaram as devoluções pela primeira vez em um ano e meio.
Os dados da imobiliária mostram que a absorção líquida no período pesquisado ficou positiva em 11 mil m². Isto significa que foram alugados mais escritórios do que os que foram entregues. Todavia, mesmo com este saldo positivo, a taxa de imóveis vagos apresentou só uma leve queda, de 40,1% para 39,4%. Vale notar que o mercado imobiliário do Rio de Janeiro tem tido lançamentos residenciais muito bem sucedidos, e devido à crise do setor, não têm sido feitos lançamentos corporativos.
“Temos tido muita procura de empresas por prédios uniempresariais, para um único inquilino, principalmente no Centro da Cidade“, disse Lucio Pinheiro, diretor da Sergio Castro Imóveis, mais tradicional consultoria em imóveis comerciais do Rio. “A locação de salas menores, exceto na Zona Sul, tem sido uma tarefa muito difícil. Um movimento bom de locação de lajes maiores começou a ocorrer agora em outubro, e chegamos a alugar imóveis interessantes em prédios como o Linneo de Paula Machado e o Bozano, Simonsen“, diz o corretor.
A conversão de imóveis comerciais mais antigos em residenciais, no esteio do projeto #ReviverCentro, do super-secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, tem sido mais uma esperança. “Não só teremos mais inquilinos e ocupantes para as salas comerciais, como também teremos menos salas comerciais, reduzindo a oferta. Isso sem contar na recuperação do Estado do Rio, com os investimentos em infra-estrutura provenientes da venda das concessões da CEDAE“, finaliza Pinheiro, com muito otimismo para 2022, mas reconhecendo que alugar os imóveis comerciais tem sido uma tarefa difícil.
A situação, que ainda é dramática no Rio, também atinge severamente a vizinha São Paulo, sobretudo os escritórios de alto padrão. Na Terra da Garoa, as devoluções de lajes corporativas superaram as locações em 46 mil m² no terceiro trimestre, fazendo a taxa de escritórios vazios chegar a 24,8%, a pior já registrada. Em 2011, esse índice ficava na casa de um dígito, assim como no Rio. Apesar do movimento de locações ter sido mais favorável no Rio do que em São Paulo, a vacância na cidade maravilhosa é ainda muito maior.
No caso do cenário de locação de escritórios na maior cidade do país, uma parte do aumento da vacância se deve também ao lançamento de novos prédios, não necessariamente comerciais, que acontecem mesmo em meio a crise sem precedentes no país. No trimestre, dois lançamentos dos mais aguardados em São Paulo, o Led Corporate, com 28 mil m² na Marquês de São Vicente, e o Dynamic Faria Lima, com 5 mil m² na Marginal Oeste, foram concluídos e entregues 100% vazios, contribuindo significativamente para o aumento da vacância.
Em não muito tempo essa “moda” de home office vai ser suavizada. Os times que são considerados como “custos”, com tarefas típicas de back office, possivelmente serão mantidos em regime de home office quase integral, já que são tipicamente ocupados por profissionais que moram longe do trabalho (resultado da remuneração menor) e com menos incentivos de progressão de carreira. Já os times que são considerados como “receita, responsáveis diretos pela expansão de negócios e oportunidades, voltarão em peso para os escritórios, já que são fundamentais para o treinamento dos profissionais menos experientes e para a manutenção da cultura da empresa.
Por enquanto, as empresas ainda querem reduzir os seus custos de aluguel ao máximo e vão insistir na tese de que o home office é bom para todos. Bom para todos (os empregados), certamente não é. Mas é um custo para todos (os empregados), certamente, que se veem obrigados a buscar um apartamento ou casa maiores para terem algum nível de decência no seu novo ambiente de trabalho.
Em resumo. O custo é migrado da empresa para o empregador, e sob a justificativa de conferir a esses últimos um regime de trabalho mais flexível. Pode não ser uma máxima verdadeira para todo e qualquer caso, mas merece a reflexão.