‘Milagre da Rua do Ouvidor’ completa 130 anos hoje, no Centro do Rio

Na tarde 25 de setembro de 1893, durante a II Revolta da Armada, uma bala de canhão atingiu uma igreja na região da Praça XV e derrubou sua torre. De lá de cima - 25 metros de altura - caiu a imagem de mármore de Nossa Senhora da Fé, que quebrou apenas dois dedinhos. José Luiz Lira conta a história

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A imagem de Nossa Senhora da Fé que foi atingida por uma bala de canhão às 17h do dia 25 de Setembro de 2023, há exatos 130 anos. Caindo de 25 metros de altura, quebrou apenas 2 dedinhos. A ponta da cruz foi quebrada, décadas depois, por um faxineiro. / Foto: José Luiz Lira

Por José Luís Lira*

Um dos clássicos da Literatura Brasileira se chama “Memórias da Rua do Ouvidor”, de Joaquim Manoel de Macedo, cuja primeira edição veio a lume em 1878. Nele o romancista diz: “Se tão elegante, vaidosa, tafulona e rica no século atual, porventura lhe apraz esquecer o passado, para não confessar a humildade de seu berço, pois que é do Ouvidor, cerre bem os ouvidos; porque tomei a peito escrever-lhe a história, mas com tanta verdade e retidão que se, lembrando-lhe seus tempos primitivos, ela tiver de amuar-se pelo ressentimento de sua soberba de fidalga nova, há de sorrir depois a algumas saudosas e gratas recordações que avivarei em seu espírito perdidamente absorvido pela garridice e pelo governo da moda”.

Mais à frente diz que “se acham os dois edifícios mais notáveis da rua do Ouvidor: a igreja da Lapa dos Mascates, e por sua parte lateral a igreja da Santa Cruz dos Militares. Não quero prolongar este capítulo, ou demorar a viagem, copiando a descrição arquitetônica das duas igrejas, que me foi oferecida por autoridade competente; mas é certo que a da Santa Cruz dos Militares não tem ainda superior no Rio do Janeiro sob ponto de vista da arquitetura; e a da Lapa dos Mascates, embora pequena e encantoada em estreitas ruas, merece a atenção dos homens da arte. Esta última igreja depois dos consideráveis melhoramentos, que ultimamente recebeu de piedosos e dignos benfeitores, teve novos sinos vindos de Portugal (creio eu) que repicam a preceito, executando alegros de óperas de Offenbach”.

Nos primeiros anos da conturbada República do Brasil, no rito inaugural, digamos assim, do segundo governo republicano, com a renúncia do primeiro Presidente, Marechal Deodoro da Fonseca, cujo posto foi ocupado pelo vice-presidente, o também Marechal Floriano Peixoto, conhecido como “Marechal de Ferro”, um fato relevante à nossa fé se retratou na Rua do Ouvidor. 

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Conforme a Constituição de 1891, nova eleição deveria ter sido realizada, mas, Floriano Peixoto decidiu continuar no cargo. Esta situação gerou a revolta de diversos oficiais generais da Marinha Mercante do Brasil, que queriam um reconhecimento semelhante ao do Exército. O Marechal não capitulou diante da revolta, dando voz de prisão aos líderes do levante. A resposta não tardou e a população do Rio de Janeiro recém-republicano viveu uma guerra.

No 25 de setembro de 1893, há exatos 130 anos, por volta das 17h, do encouraçado Aquidabã – que antes tivera papel importante na queda da Monarquia brasileira – partiu o tiro de canhão que atingiu a torre dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que ruiu em parte com o impacto.

Uma estátua de Nossa Senhora da Fé, que estava entre as melhorias citadas por Manuel de Macedo e ocupava o topo da igreja despencou de uma altura de 25 metros. Conforme informa uma placa abaixo da imagem, assinada pelo Comissário Cláudio André de Castro, a imagem veio de Portugal, em 1871. Milagrosamente, a imagem da santa, que tem quase dois metros de altura, só quebrou 2 dedinhos. O fato foi visto pelos fiéis da época como um milagre, o “Milagre da Rua do Ouvidor”.

A bala de canhão, juntamente com a imagem de Nossa Senhora da Fé, encontram-se em exposição no interior da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que foi totalmente revitalizada e reaberta ao público, em junho de 2023, depois de quase quatro anos fechada. 

Nossa Senhora da Fé é venerada em Portugal, onde existe uma antiga e milagrosa imagem da Senhora da Fé, no templo da Madre de Deus, em Lisboa. Reza a crônica histórica, que na época de D. João IV (1640-1656), aquela efígie foi transferida para a Capela Real e era muito venerada pelos soberanos e pela corte lusitana. No Rio de Janeiro, temos a oportunidade de venerá-la e testemunhar o milagre que neste ano de 2023 completa 130 anos.

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores é uma joia, no centro da Cidade Maravilhosa. Em meio a bares e restaurantes, uma livraria e outros bens histórico-patrimoniais, ela desponta. Está sob o comissariato de nosso irmão de Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, o Cláudio André de Castro, comissário da Irmandade dos Mercadores que, aos poucos, devolveu o brilho ao templo edificado em 1750. 

Ao Cavaleiro Cláudio de Castro nossos parabéns e para todos nós e por todos, uma prece a Deus, rogando a intervenção milagrosa Nossa Senhora da Fé, repetindo a oração do apóstolo Tomé, “Eu creio, Senhor, mas aumentai minha fé”, pela intercessão de Vossa Mãe, a Senhora da Fé!

*Comendador José Luís Lira, da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém e fundador da Academia Brasileira de Hagiologia, da qual é Presidente de Honra.

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