A Operação Urbana Consorciada da Zona Portuária prevê o adensamento da região ao longo da próxima década. Além das torres de escritório que poderão chegar a 50 pavimentos nas imediações da Avenida Francisco Bicalho, há a expectativa de que a sede da Câmara Municipal de Vereadores também seja deslocada para a zona portuária.
Com fortes intervenções urbanísticas na Avenida Rodrigues Alves (Cais do Porto) e Praça Mauá, com o objetivo de aquecer a atividade turística, melhoramentos em diversas outras vias irão reproduzir uma nova dinâmica urbana para áreas antes ociosas portanto, percebe-se que este processo de incremento populacional se dará tanto em relação a população residente quanto em relação a população flutuante.
No entanto, desde as primeiras apresentações sobre o plano de revitalização da zona portuária percebe-se que a opção pelo transporte de baixa e média capacidade foi adotado como prioritário, a exemplo do Veículo Leve Sobre Trilhos, o VLT, que passou a ser apresentado como principal modal da região.
O VLT foi implantado pensando inicialmente na ligação entre a Rodoviária Novo Rio e o Aeroporto Santos Dumont. Em 2015, a imprensa publicava notícias sobre o edital para a concessão da nova rodoviária, que será construída na Rua Bartolomeu de Gusmão, em São Cristóvão. Essa nova rodoviária será um terminal intermunicipal, ou seja, receberá ônibus de turistas e visitantes. Pela localização do terreno, a sua implantação se dará distante dos terminais de embarque do VLT. Além do mais, a intenção seria que o novo terminal absorvesse as linhas do Terminal Henrique Lott, hoje, vizinho do Terminal Novo Rio, o que deixa uma dúvida sobre a lógica inicialmente adotada de interligar o terminal rodoviário ao terminal aeroviário com o VLT. Seria apenas uma referência para o ponto inicial e final do VLT? Qual a lógica desse traçado a partir do deslocamento de várias linhas de ônibus para São Cristóvão?
De acordo com os planos de expansão do metrô, considerando o Plano Diretor de Transporte Urbano – PDTU de 2003, pela zona portuária já se previa a ligação metroviária do centro com a Ilha do Governador. O traçado desta da Linha 5, assim denominada pelo PDTU, atravessaria toda a região da Operação Urbana Consorciada da Zona Portuária e seguiria em direção ao Aeroporto Internacional Tom Jobim.
Com as obras de revitalização da zona portuária, a demolição do Elevado da Perimetral, a construção de novas vias e túneis e a implantação do VLT, sentimos a ausência de uma referência projetual ao metrô, desta futura Linha 5, baseando-se naquilo que já estava previsto no PDTU em 2003.
Havendo uma requalificação urbana de uma região tão importante para a história e para a dinâmica do mercado como a zona portuária é de se estranhar o fato de não ter sido levado em consideração a expansão do metrô, como parte do planejamento de longo prazo, tanto sobre o aspecto de integração em relação aos modais existentes, quanto em relação a localização de suas futuras estações, que deveriam estar previamente definidas em locais que possam contemplar a mobilidade a pé e a fácil integração com os demais tipos de modais de transporte.
Em relação a localização de prédios públicos na zona portuária, como se cogitou em relação à Câmara de Vereadores, este vem a ser mais um indício da tendência de que a zona portuária precisaria ter adotado a expansão do metrô como modal principal, desde a concepção da OUC. Sede de órgãos públicos acabam atraindo outros serviços públicos e atividades comerciais e grande número de pessoas vindas de vários bairros.
O VLT não é transporte de alta capacidade. Na defesa insistente da decisão de implantação deste bonde moderno, justifica-se, num primeiro momento que se trata de um modal comum em cidades europeias. Acontece que não estamos na Europa e o funcionamento de um sistema numa determinada cidade europeia não quer dizer que será exatamente a mesma coisa numa cidade brasileira. No caso de Paris, o VLT está integrado ao Metrô, que possui 16 linhas e 300 estações. O metrô da capital da França tem 213km de extensão e transporta em torno de 4 milhões de passageiros por dia. Dados como este demonstram que não podemos nos precipitar em termos comparativos o tipo de modal, mas a viabilidade deste modal para onde se quer implantar e de que forma ele se integrará ao sistema de transporte existente e em expansão.
Mobilidade é integração. Não existe um modal melhor do que outro. Existe um modal mais adequado que o outro, dependendo de cada situação.
O VLT é um transporte sobre trilhos, uma característica bastante vantajosa, mas deveria ter estreado em outra região da cidade, como a zona oeste, onde há um espraiamento e menor densidade. A zona oeste apresenta a segunda maior população da cidade ao mesmo tempo a menor densidade demográfica.
Regiões de maior densidade demográfica, maior adensamento, necessitam a meu ver, da adoção de intervenções urbanísticas que privilegiem ao máximo o deslocamento a pé ou de bicicleta, onde se contemplaria passeios agradáveis e confortáveis e para deslocamentos mais longos, caminhando ou de bicicleta se possa acessar uma estação do metrô, por exemplo.