O Museu do Amanhã, localizado no Rio de Janeiro, recebeu no último sábado (23/09), o primeiro evento internacional “Diálogos Mudando Narrativas sobre Migração”. O Museu reuniu cerca de 200 pessoas, entre elas pesquisadores de 12 países, incluindo Brasil e Haiti, juntamente com representantes da sociedade civil, instituições públicas e organizações do terceiro setor. O evento contou com a apresentação do coral haitiano Vozes Sem Fronteiras. No encerramento, um cortejo artístico partiu do lobby até a área externa do museu, em direção à Praça Mauá, sob a direção do coreógrafo e dançarino Johayne Hildefonso.
O diálogo é uma iniciativa da Universidade Internacional das Periferias (UNIperiferias) em parceria com o MIDEQ (Desenvolvimento e Igualdade através da Migração) e a People’s Palace Projects do Brasil (PPP do Brasil). O evento contou com a presença do coordenador de políticas transversais, Paulo Pacheco, representando o Ministério da Igualdade Racial, e o coordenador geral de imigração laboral do Ministério da Justiça, Jonatas Pabis. Eles participaram das mesas principais, uma delas mediada por Raul Santiago, empreendedor e ativista.
Jailson de Souza e Silva, fundador da UNIperiferias, explicou a relação entre racismo, migração e democracia. “Precisamos compreender profundamente as bases que sustentam a perspectiva da democracia no mundo e como ocorre a reprodução da desigualdade que impede a vivência efetiva da democracia formal. O racismo é o fator primordial que molda a distribuição de riquezas no Brasil desde a colonização. No contexto da migração, o racismo também desempenha um papel significativo.”
A Diálogo faz de uma pesquisa com os 12 , em cada um deles, uma organização foi escolhida pelo MIDEQ para produzir dados a fim de compreender melhor o fenômeno da migração. Uniperiferias, sediada na Maré, é a instituição parceira no Brasil. A pesquisa destaca o significativo fluxo não apenas de pessoas, mas também de recursos entre países do Sul Global. Enquanto a maior parte das pesquisas acadêmicas sobre o tema tem uma visão eurocêntrica e concentra-se nos fluxos do Norte para o Sul.
Segundo o diretor da UNIperiferias, Felipe Moulin, o fluxo migratório Haiti-Brasil é representativo porque conecta dois países estruturados sob regime escravagista. “Isso ocorre porque ele conecta dois países: o primeiro a abolir a escravidão na América e o último a fazê-lo. Na época da revolução haitiana em 1808, houve um grande esforço, em 1904, para que essa notícia não cruzasse as fronteiras. As pessoas não queriam que a ideia haitiana, de que as pessoas negras poderiam ter liberdade, chegasse ao Brasil.“