Um olhar pode ser a razão da vida de alguém. Você é alegre ou triste, vencedor ou fracassado, persistente ou desistente? Olhar quer dizer também cuidar: cuidar de si, do seu semelhante, do seu amor, da sua profissão!
Como você se olha? Você já se questionou sobre isso do quê você não cessa de se queixar? “Vivem me excluindo”, “nunca sou a escolhida”, “meus amigos crescem e eu não saio da mesma”, “sempre acho que os outros são melhores do que eu”. A vida, se você olhar para os lados, é uma eterna repetição das mesmas coisas! Mas é possível mudar, retificar, passar para uma outra coisa. O problema é querer sair do mesmo lugar, pois o ser humano gosta mesmo é de se queixar, até mesmo de sofrer!
Você pode insistir e procurar entender o olhar que esteve na base do seu nascimento. Um pequeno traço do olhar dos seus pais produziu uma marca à qual você se identificou e que se tornou algo importante na sua vida. Você incorporou esse olhar tornando-o seu e, a partir daí, sem o saber, passou a reger a sua vida sob o viés da sua determinação. O olhar sempre diz alguma coisa; coisas que se ignora, mas que têm força de ferro e fogo. O olhar é a história particular de cada um!
O olhar, tanto de um pai quanto de uma mãe, determina os rumos de uma vida, em todas as suas direções. Sim, e isso é fundamental: “eu passo a me olhar conforme o olhar que incorporei dos meus pais”. Para o melhor ou para o pior: sempre à mercê de uma lógica paradoxal, bizarra, não conforme à racionalidade. Você pode se queixar de uma exclusão, mas não consegue mudar, abandonar essa posição de sofrimento. Isso, mesmo que você resista em querer saber, lhe conforta e causa satisfação. Sem se dar conta, você repete as dores dos seus pais sentindo-se reconhecido e amado a partir desse ponto. Portanto, o olhar dos pais formula a sua personalidade, a sua maneira de ser na vida: no amor, no erotismo, no trabalho, nas relações de amizades! Você pode ser amoroso com a sua mulher e com os seus filhos, pois recebeu a herança de um olhar amoroso de seus pais, ou não. Nesse sentido, o olhar que o constitui é a causa das suas emoções desencontradas, dos seus afetos bizarros, dos seus desejos desenfreados, ou do seu desejo de viver, e até de morrer. Há mesmo, como se vê em muitos casos, indivíduos que se confortam numa vida destituída de uma boa autoestima e que funcionam à semelhança das ovelhas, em rebanhos sempre conduzidos por alguém que “sabe” mais que os outros. São os que cresceram sob o domínio do medo, de uma certa insegurança, e se contentam com aquilo que é o necessário para continuar sobrevivendo.
Muitas pessoas estranham algumas fatalidades na vida cotidiana: “mas esse jovem tinha tudo, foi educado da melhor maneira possível, alcançou um sucesso profissional e, mesmo assim, acabou com a própria vida!”. Mesmo que as alegrias estiveram presentes no ato do nascimento deste jovem, pois isso é lógico, é justo, é o esperado, pode ser que tenha restado, de uma maneira não percebida, uma ponta de decepção no olhar de um dos pais. Por exemplo, o olhar de uma mãe entristecida, de uma mãe consternada que guardara, no conforto de uma emoção vivida com carinho, as dores uma perda não elaborada do seu passado. As perdas vividas e não faladas são as dores de uma mágoa, muda de palavras, que se perpetua e pode produzir nas gerações seguintes gerando marcas indeléveis. É isso que chamamos de inconsciente. Trata-se de um elemento da historicidade genealógica que rege a vida particular de cada indivíduo. Diante dele, o querer consciente e nada é a mesma coisa.
O que vale é a capacidade, e isso é bom que advenha desde muito cedo, é a capacidade de se atrever a se questionar: “porque estou fazendo desta maneira e não de outra?”. Se você se atreve a se perguntar sobre as razões de suas repetições, é certo que terá a chance de uma mudança significativa do rumo da vida e conseguirá criar uma possibilidade de retificar o olhar ferido, machucado pela história, e acaba por modificar a sua maneira dolorosa de se tratar.