No centro da cidade do Rio de Janeiro existe a Cinelândia, famosa praça que é chamada assim por conta da grande quantidade de cinemas que abrigou em outros tempos. Outras partes do Rio também já tiveram diversas salas para se assistir filmes. Uma delas é a região da Leopoldina, que pode ser chamada de Cinelândia Suburbana.
Do início até o final do século XX, a Zona da Leopoldina, composta por bairros como Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, entre outros, teve muitas salas de cinema. Sendo referência nesta questão no Rio de Janeiro.
Com inúmeras relevâncias históricas, a região da Leopoldina foi a primeira parte dessa região da cidade a ser loteada ordenadamente em meados de 1850 e também a primeira área a ganhar iluminação elétrica nos anos 10.
O roteiro começa em 1906. Neste ano aconteceu a primeira apresentação do que era considerado como o cinema do futuro, conhecido inicialmente como Omniógrafo, no Largo da Penha, diante do Portão da Irmandade. Foi um empreendimento do famoso empresário artístico Paschoal Segreto.
De acordo com o livro Palácios e poeiras: 100 anos de cinemas no Rio de Janeiro, escrito por Alice Gonzaga, essa sessão que não levou mais de 30 minutos, com intervalo entre os filmetes, para descanso das vistas das pessoas que assistiam e se encantavam com a arte. Relatos históricos mostram que a cena foi de muita alegria do povo que estava presente.
O primeiro cinema da região Leopoldina e um dos primeiros da cidade foi o Cinema Ideal, localizado na Rua Uranos, n. º 28, atual nº 1009. Era um empreendimento da J. Souza & Cia.
“Aos poucos o cinema foi se tornando a diversão predileta da população e as causas foram que projeções cinematográficas cada vez mais aprimoradas, o preço do ingresso que era relativamente baixo tornava-o um estimulo e o ambiente seleto das primeiras plateias que enobrecia os assistentes” destaca a página História da Leopoldina.
Depois do Cinema Ideal, muitos outros surgiram. Cinema Brasil (na antiga Estrada da Penha), Cinematógrafo Olaria (no antigo Caminho de Maria Angu, posteriormente Rua Alfredo Barcelo), Cinema Theatro Oriente (na mesma rua do Cinematógrafo de Olaria), Cinema Theatro Penha ( Rua Nicarágua nº 114), Cine Paraiso (Praça das Nações, nº 66, Bonsucesso), Cinema Santa Cecilia (na Rua Itabira, nº 87, depois nº 123, Brás de Pina), Cine Theatro Brás de Pina (Rua Bento Cardoso, nº 289), Cinema Rosário (na Rua Leopoldina Rego), Cinema Santa Helena (Rua Uranos, nº 1474, Olaria).
Todos esses cinemas foram financiados pelas empresas Elísio, Caruso, Motta Paiva, que formaram o grupo Paiva, Caruso & Cia. Em média, essas salas de cinema foram abertas nos anos 1920 e até meados dos anos 1930. Algumas fecharam no início, como Cinematógrafo Olaria, em 1926, devido à competição do Cinema Theatro Oriente – que ficava na mesma rua. Em outros casos, duraram mais tempo, como o Cinema Santa Helena, que funcionou 55 anos, encerrando as atividades em 1997.
Não é exagero chamar a Leopoldina de Cinelândia Suburbana. Mais para a segunda metade do século XX, novos cinemas foram abertos na região.
Os Cinema Santa Helena (Rua Uranos, nº 1474, Olaria), Cinema Aleluia (Rua Cuba, nº 109, Penha), Cinema Bim-Bam-Bum ( Rua Costa Rica, nº 86, Penha. Nessa sala cabiam 500 pessoas), Cineminha São Joaquim (Estrada Brás de Pina, nº 1229, onde também havia espaço para 500 espectadores), Cinema São Geraldo ( Rua Alfredo Barcelos, nº 572, Olaria), Cine Cordovil (Rua Bulhões Maciel, nº 55, Cordovil), Cinema Cinco Irmãos (Rua Guilherme Frota, nº 516, Bonsucesso), Cine Cosme e Damião (Rua Corrêa Dias, nº 587, Vigário Geral), Cine Palácio de Higienópolis (Rua Darke de Matos, nº 28, Higienópolis – capacidade para 950 lugares), Cinema Leopoldina (na Rua Ibiapina, nº 41, Olaria), entre muitos outros.
Nos casos citados acima, poucos fecharam as portas anos depois de abrir. A maior parte desses cinemas, abertos entre os anos 1940 e 1970, tiveram vida longa, funcionando até meados dos anos 1990, início dos anos 2000. Outra peculiaridade é que essas salas tinham novos investidores, empresas envolvidas, diferentemente da lista anterior, quando havia o grupo Paiva, Caruso & Cia por trás de quase todos os negócios.
Alguns dos prédios históricos onde funcionavam esses cinemas ainda estão de pé. Contudo, infelizmente, em péssimo estado de conservação, como o do Cinema Theatro Oriente, em Olaria, fundado em 1935, que recentemente teve o telhado derrubado após fortes chuvas na cidade. Uma pena. Mais uma vez, opções de lazer nas áreas suburbanas da cidade, abandonadas à própria sorte.
Essa época era boa.
Meus comentários não estão sendo publicados. Onde está meu erro?
Ninguém mais pode reverter essa triste realidade. Somos uma cidade sem memória.
Residi em Olaria por mais de 20 anos e cheguei a frequentar os cinemas Palácio Higienópolis (Bonsucesso), Mauá, Ramos, Rosário, Olaria (antigo Sta Helena), Leopoldina e São Pedro. Infelizmente, devido à imposição do “capitalismo selvagem e devorador”, tudo agora só faz parte de nossa memória. Os prédios do Rosário e do Olaria ainda continuam caindo aos pedaços. Em 2015, tive a felicidade de visitar Paris e Londres e fiquei, deveras, fascinado com a preservação dos antigos cinemas de rua. Triste realidade!
Tinham também os cinemas maravilhosos da Ilha do Governador,que se foram…
Parabéns pela matéria.
Estive ai no RJ entre 1967 a 1970, mais especificamente no Bairro de Olaria nas proximidades de uma cadeia [espécie de presídio], onde foram clientes dali, Mineirinho, Cara de Cavalo e outros infelizes párias da sociedade.
A propósito Mariel Mariscot ainda não fazia sucesso!
Morava em uma espécie de pensionato em uma travessa [ não lembro o nome], que desaguava na Av. Uranus e, frequentei o extinto cinema Santa Helena e outros ao derredor.
Já naquela época, cinemas em geral passavam por dificuldades com o advento da TV – ainda preto & branco – já no limiar da TV colorida que seria efetivada no ano da Copa do Mundo.
Foi a gota d´água para liquidar uma enormidade de cinemas tanto no subúrbio como no Centrão onde localizava-se a Cinelândia.
Uma pena! Mas é o onus do progresso tecnológico que por conta do despreparo de alguns eleitos não é levado a bom termo produzindo uma legião de desempregados e famélicos na face deste planeta da matéria.
Quando voltei para minha cidade aqui no interior a situação também não era diferente. Tínhamos bons cinemas por aqui mas, o descuido com a sétima arte aliado à falta de visão administrativa, também os ruíram como no efeito dominó.
E, tudo continuava e continua como Dantes na terra do Abrantes com aumento expressivo de autoridades inúteis e desnecessárias gastando milhões em canapés e vinhos importados, enquanto nossos irmãos menores não possuem o mínimo necessário para frequentarem uma instituição de ensino.
Ara! Como dizia Chico Bento.
Atenciosamente
Primeiro domingo do mês tinha Sessão Tom e Jerry no cine Mauá em Ramos. Levava minhas irmãs pequenas. Saudades.
Inhaúma tb é cultura. Possuía 2 cinemas um era o cine S. João e o cine Cruzeiro.
Saudades do cine S. Pedro e do cine Leopoldina.
Gostei da matéria, quando eu morava em Olaria lá pelos anos que nem me lembro,rs, entrei no cinema da Rua uranos esse da Foto que tem o nome OLARIA, pra ver o Filme INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA. Acho que foi a última vez que fui lá, saudades daquela época.
Deveria ter uma lei que proibi-se estas “Igrejas”pentencostais pudessem alugar ou comprar os cinemas para transformar em comércio.Ja acabaram bons cinemas de minha infância nos bairros do meier..e um cinema muito bacana e bonito chamado cinema Santa Alice que fica próximo ao bairro do Engenho novo.
O da praça seca virou uma igreja universal horrorosa!
Grande verdade. Não temos autoridades para coibir essa prática que vem destruindo esses espaços culturais.
Excelente pesquisa! Que pena que os prédios históricos estejam neste estado de penúria! São partes da história do Subúrbio carioca relegadas ao esquecimento!
Ótima reportagem! Tem como você fazer
uma sobre os antigos cinemas da Zona Norte?
Obrigado e sucesso!
Faltou o Cine Mello na Praça do Carmo!
O cine Dão Pedro quase no Largo da Penha
cine Guaracy em Rocha Miranda
Vocês não citaram o cine Mauá, o maior e mais moderno da região que ficava em Ramos.