Passageiros sofrem com o ‘sumiço’ das linhas de ônibus no Centro do Rio

Pessoas que trabalham no Centro do Rio vem relatando a baixa frequência dos coletivos na região e a diminuição nos horários de circulação

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Imagem de 2018 meramente ilustrativa (Foto: José Lucena)

Quem depende do transporte público para se locomover pelo Rio de Janeiro sabe que a situação nunca foi das mais fáceis. Com a pandemia do Coronavírus, o que já não era bom, ficou ainda pior. Em todas as regiões da Capital Fluminense, passageiros perceberam o repentino “sumiço” dos ônibus, que deixaram muitas pessoas na mão, ou melhor: a pé.

No Centro do Rio, onde muitos cidadãos se deslocam de várias áreas da cidade para trabalhar, o cenário parece mais preocupante, porque além da falta dos coletivos circulando pelas ruas, os poucos que restaram estão “parando de rodar mais cedo“, fazendo com que, quem precisa do meio de transporte, não possa sair muito tarde da região.

Quando chega à noite, começa a corrida de passageiros que se aglomeram nos pontos de ônibus em busca de transporte. É isso ou ter que arcar com uma condução mais cara, como o metrô ou trem, ou até mesmo ter que pegar dois ônibus, passar mais tempo no transporte público e, consequentemente, chegar mais tarde em casa.

Conforme noite vai se estabelecendo e as ruas ficando mais escuras e desertas, os pontos de ônibus vão ficando cada vez mais despovoados, e quem sai mais tarde do expediente tem que se virar na volta para casa.

Em diversos trechos da região central da cidade o problema pode ser facialmente notado. Na Rua da Assembleia, por exemplo, quem utiliza o serviço da linha 2114, que faz o trajeto da Freguesia, em Jacarepaguá, até o Castelo, reclama que às 19h já não tem mais nenhum veículo circulando. Antes, era possível pegar o último ônibus até às 22h.

O mesmo acontece com quem depende da linha 238 (Água Santa – Castelo), que com o cair da noite disponibiliza pouquíssimos ônibus para os passageiros, também encerrando as atividades mais cedo depois de certo horário.

Já cheguei no ponto 20h, esperei até às 21h e não apareceu nenhum (da linha 238). Além de não ter condução, ainda ficamos com uma sensação de insegurança, porque a maioria das pessoas vão de metrô, ou tentam ir para outro ponto, eu não posso ir de metrô, eu moro no Méier“, diz o atendente de loja, Marcelo do Carmo, que trabalha, no Aeroporto Santos Dumont.

Outra linha que está reduzindo sua frota e horários de circulação é a 217 (Andaraí- Largo da Carioca). Quem estava acostumado a pegar o coletivo, relata que antes ele passava até 0h, mas que foi reduzindo gradativamente o tempo, passando pra 23h e, hoje, sendo praticamente impossível achar um depois das 22h.

Infelizmente tenho que recorrer ao metrô. Quando saio do trabalho já não tem mais ônibus (217) circulando. Tenho que pagar a mais do meu bolso para não ficar na rua“, conta o atendente de telemarketing Raul Gonçalves.

O DIÁRIO DO RIO entrou em contato com a Rio Ônibus para ter a relação dos horários dos coletivos que circulam pelo Centro do Rio, mas até a publicação desta reportagem, não havia obteve retorno.

Já a Secretaria Municipal de Transportes informou que “está trabalhando na revisão de linhas de ônibus inoperantes ou com pouco atendimento, como é o caso das linhas citadas. Paralelo a isso, a SMTR tem se reunido com representantes dos consórcios de ônibus em busca de melhor serviço aos passageiros. Já foram constatados aumento da frota e retorno de linhas que não estavam circulando. Ao término da revisão, a pasta irá propor modificações de forma a otimizar e reestruturar o sistema de transporte por ônibus na cidade“.

Levantamento mostra que o Rio de Janeiro teve diminuição acima de 40% em todos os modais de transporte público de 2019 para 2020.

Segundo dados do Data.Rio, órgão da Prefeitura do Rio de Janeiro responsável pelos dados públicos municipais, o ano de 2020 apresentou as menores médias de circulação diárias de pessoas em alguns modais, como ônibus e transporte hidroviário. A série histórica é registrada desde 1995.

Como já era de se imaginar, o ano de 2020 foi severamente impactado pela pandemia do Coronavírus e as suas medidas de restrição. O reflexo dessas ações no setor foi a redução de 40% no transporte de trem, com relação ao ano anterior, o número médio de usuários em metrô, bonde, transporte hidroviário e aeroviário também caiu, reduzindo mais da metade. As fontes são os organismos oficiais de controle e gestão de transporte.

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No caso específico dos ônibus, desde 2016 já se observa um decréscimo no número de usuários. As prováveis causas apontadas pelo estudo são o aumento do número de transportes individuais, como a compra do carro zero ou o aumento no uso de serviços de transporte por aplicativo. Essa tendência de diminuição do fluxo médio diário foi acelerada pela pandemia, conforme mostra a redução de 45% entre os anos de 2019 e 2020. Os dados médios diários por ano podem ser vistos no gráfico abaixo.

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Já o metrô, indicava um crescimento em 2019 se comparado aos anos anteriores, como 2018 e 2017, tendo mais de 800.00 usuários diários em seus vagões. Em 2020, a redução foi mais drástica, em torno de 54%.

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Outro modal que já apresentava queda no número de passageiros diários médios foi o transporte por trem. A redução já acontece desde 2019, tendo isso fortemente impacto já na variação com o ano anterior. Essa redução teve um padrão ainda mais forte no ano de 2020.

Grafico 4 Passageiros sofrem com o 'sumiço' das linhas de ônibus no Centro do Rio

Por sua vez, os bondes apresentam uma trajetória errática. No gráfico abaixo podemos observar que não existem dados entre os anos de 2011 e 2015, quando o bonde de Santa Teresa esteve paralisado. Apesar disso, a quantidade média de passageiros diária nos bondes em 2020 não apresentou os menores valores. Em 1995 e 1996 o número de passageiros era menor, mesmo sem o contexto de pandemia. 

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Por fim, os dados de transporte aquaviário e aeroviário também acompanharam reduções do número de usuários, mesmo antes da pandemia de Coronavírus. Apesar de ter reduzido o número médio diário de usuários nos últimos anos, a redução entre 2019 e 2020 foi de 59% e 57%, respectivamente. No transporte hidroviário, desde 2015 não passam mais de 100.000 usuários/dia. Em 2020, à título de exemplo, o número não passou de 23.000. 

No transporte aeroviário, de 2003 a 2014 os números apresentavam uma crescente. Desde então, é possível dizer que a tendência foi invertida e o número de usuários vem diminuindo. Em 2020, a tendência de queda foi acelerada e o número de passageiros/dia ficou na casa dos 26.000.

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5 COMENTÁRIOS

  1. Ridículo, esses empresários fazem o que querem e ninguém faz nada, MILHÕES de pessoas dependem dessas latas de lixo para irem trabalhar e ainda ficam horas esperando…

  2. As consequências da desordem urbana, está chegando nos demais transporte de passageiros, em especial o coletivo. No início, Uber e similares, afetaram o táxi gerando uma queda considerável. Muitos governantes ignoraram, agora chega no transporte de grande massa. Com valor surreal, muitas das vezes igual a tarifa de ônibus. Acaba destimulando o transporte coletivo, na contramão da mobilidade urbana sustentável, que foi elaborado através da lei 12587/1.

    Precisam ser regulados e controlados, para que tenhamos um equilíbrio nos MODAIS de transporte de passageiros.
    Alan Ramos
    Diretor do Sindicato dos Taxistas do Município do Rio

    • Deixe me ver se compreendi sua colocação. A culpa de tudo é do uber?!? Você fala como se antes o transporte fosse bom rsrs… sempre foi um lixo exatamente por regulações como você sugere que existam mais rsrs… é piada de mal gosto, não?!? Se os taxistas tiveram essa queda, é pq existe essa regulação, falta de educação, quantas vezes fiquei na av passos esperando a boa vontade de um taxista parar pq estava com bolsas… quantas vezes taxistas já foram intransigentes cmg e com minha esposa… extorquiram amigos meu turistas com preços inexistentes… quem causou a entrada e solidificação do uber, foi o próprio taxista, não essa empresa… e redução da intervenção do estado, gera mais de 1 milhão de empregos no estado… melhor sem o estado interferir, né?!? Lógica e simples… transporte de massas… o estado é tão lixo, que existem aqueles trens velhos largados na central que nem pra vender como sucata ele consegue pq acha que vale algo.. ai supervia não pode aumentar sua frota por causa do estado… ônibus? Não é concessão? É só tomar dar empresas e vender… descumprindo o contrato ue… mas não pode tirar da família Barata, né?!? Então, me perdoe, mas sem falácias, política distorcida, planejamento econômico para uma classe de elite… isso o carioca está cansado…

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