É difícil para um carioca, como eu, acreditar que o Rio de Janeiro não esteja entre as 10 melhores cidades para empreender no Brasil, como mostrou, recentemente, o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) 2022, realizado pela Endeavor, em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). Nasci no Rio, há 38 anos, e, desde que me lembro, não tem um único dia que eu tenha andado pelas ruas da cidade sem me deparar com um exemplo de espírito empreendedor.
Da Rose do Bronze, que vende nas areias de Copacabana, com versos de funk, um creme bronzeador feito por ela mesma, a Jorge Paulo Lemann, da Ambev, o Rio pulsa empreendedorismo – em suas diversas formas.
Se o carioca tem esse engenho inato de transformar dificuldades em oportunidades; se temos universidades de primeira linha e um ecossistema atuante de incubadoras de empresas, como podemos ter perdido cinco posições no ranking da Endeavor – indo do 10º para o 15º lugar?
Bem, para entender isso, precisamos encarar nossos muitos problemas, a começar pela violência que afasta quem quer investir na nossa cidade. Tem ainda a burocracia para a abertura de empresas, a alta carga tributária, a falta de liberdade e de investimentos. E não podemos esquecer da baixa conectividade, visto que o percentual de pessoas com acesso à internet de alta velocidade no Rio é inferior à média nacional.
Temos problemas de sobra, mas também temos soluções viáveis. E parte desses obstáculos começa a ser removida por meio de nossas iniciativas no Legislativo nacional com a aprovação de importantes matérias que podem ajudar a alavancar o empreendedorismo no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro. São propostas como a lei da liberdade econômica; a nova lei do gás, em que tive o prazer de atuar para sua aprovação; o marco legal das startups, de minha autoria; além do leilão da tecnologia 5G realizado pelo governo federal, que vai pôr o país na era da internet digital de quinta geração.
Claro, que estamos falando de leis nacionais que impactam igualmente todo o país. Para fazer a diferença e avançar para o top 10 das cidades empreendedoras no país, precisamos que essas leis nacionais sejam normatizadas localmente, por meio de legislação ou de regulamentação municipal e estadual. No caso da Lei da Liberdade Econômica, aprovada no Congresso em 2019, sua regulamentação no âmbito do município do Rio só ocorreu em dezembro do ano passado. Já a nova lei do gás ainda precisa ser regulamentada pelo estado do Rio para ter plena eficácia.
Com a nova tecnologia 5G, que promete revolucionar a conectividade no dia a dia da população e em diversos setores da economia brasileira, o Rio saiu na frente se tornando a primeira capital brasileira a regulamentar a instalação e o compartilhamento das antenas para a tecnologia 5G. Graças a uma proposta, que tem entre seus autores o meu colega Pedro Duarte (NOVO). Sua regulamentação só foi feita em outubro do ano passado.
Paralelamente, tenho me empenhado em ajudar a transformar o Rio no “Vale do Silício” da Energia e da Sustentabilidade. Pela primeira vez, o Brasil foi escolhido para participar do MIT REAP, um programa focado em acelerar regiões pelo mundo dentro do escopo de empreendedorismo e inovação. Essa iniciativa ocorre em parceria com o MIT e envolve empresas, startups, universidades, governo e investidores ligados ao empreendedorismo e à inovação. A ideia é aplicar a metodologia do programa e aproveitar o potencial energético do Rio e as soluções tecnológicas de inovação das startups.
Apesar do resultado desanimador do estudo, continuo a acreditar que podemos dar a volta por cima! Nossa cidade pode recuperar todo o seu esplendor. E, para isso, precisamos nos espelhar nos bons exemplos. Veja o caso de Joinville, que subiu sete posições em apenas um ano e conquistou o nono lugar no ranking das cidades mais empreendedoras do Brasil. Joinville é administrada pelo colega de partido Adriano Silva, que focou sua gestão na desburocratização de processos, na simplificação de leis e na cultura do empreendedorismo.
O Rio pode fazer igual e até melhor! Mas precisamos de um choque de credibilidade. Algo que foi perdido ao longo das últimas décadas, entre outros motivos, pela sequência de governadores presos. Temos potencial e um ambiente propício para empreender e, acima de tudo, temos o carioca com seu carisma, sua força de vontade e sua persistência em driblar os obstáculos do dia a dia. E o que é melhor: sem perder o bom humor!