Com Lívia Bonates
A orla do Rio tem 86 km de extensão, com praias de diversos estilos e públicos. Cariocas e turistas se encontram democraticamente neste espaço que, a despeito de pertencer à União, precisa ser administrado pela Prefeitura. Mas como assim? Administrado?
Pois é. Por ser algo tão rotineiro para nós, muitos cariocas nunca refletiram sobre o que a praia significa para a economia da cidade. Mas a nossa equipe, sempre muito atenta, resolveu usar uma lupa para observar de perto esse ecossistema, e encontramos um cenário cheio de demandas, problemas, conflito de interesses, legislação antiga e desatualizada e, ao mesmo tempo, um enorme potencial econômico e social. Um estudo inédito da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) estima que o impacto econômico da movimentação nas areias cariocas é de R$ 4 bilhões por ano. Não é pouca coisa.
O último Anuário Brasileiro do Turismo, publicado pelo Ministério do Turismo, aponta que em 2019, um terço dos visitantes de fora que vieram a passeio ao Brasil tiveram o Rio como destino. Procurada por turistas do mundo inteiro que adoram uma boa praia e destinos de grandes belezas naturais, principalmente no verão, a cidade ficou na 15ª posição na categoria ‘Destinos com Sol’ do prestigiado prêmio Travelers’ Choice, do Tripadvisor. No entanto, indicadores do Banco Mundial mostram que, antes mesmo da pandemia, o país já tinha dificuldade em aumentar o número de visitantes estrangeiros. Essa dificuldade também afeta a Cidade Maravilhosa, cujas praias vêm sendo atingidas pela falta de ordenamento, além dos temidos arrastões.
Agora, no pós pandemia, quando a cidade se movimenta para voltar a crescer, atrair turistas, gerar emprego e qualidade de vida para os que por aqui circulam, mais do que nunca é preciso enxergar a praia como um importante ativo da identidade carioca. E foi exatamente isso que nossa equipe fez, criando a Frente Parlamentar de Reconhecimento da Atividade de Empreendedor de Ponto Fixo na Praia, os nossos queridos barraqueiros.
De uma conversa com Cristiane Pires, representante da Associação Sol e Mar e responsável pela Barraca Brasil há 20 anos, surgiu a ideia de buscarmos caminhos para reconhecer e fortalecer a atividade de quem opera a praia todos os dias, gerando emprego, promovendo ações de cuidado com a natureza, acolhendo turistas, banhistas e suas famílias e, acima de tudo, cuidando do nosso maior cartão postal.
Para promover o diálogo entre todos os envolvidos, no dia 13 de maio, convidamos associações de barraqueiros, frequentadores da praia e representantes da Prefeitura para um debate público no Salão Nobre da Câmara Municipal. O salão ficou lotado, e faltaram cadeiras – todos tinham muito a dizer. O debate, previsto para acabar ao meio-dia, se estendeu até às 13h40 porque a lista de inscritos para falar foi extensa. E todos tiveram a oportunidade de se colocar.
Seguimos fazendo um trabalho de escuta ativa para propor uma revisão da legislação que regulamenta a atividade de ponto fixo na praia. O objetivo é simplificar a vida dos barraqueiros, fazendo com que possam se tornar empreendedores de sucesso, contribuindo para que cada vez mais turistas e cariocas se sintam à vontade e seguros para curtirem as nossas praias.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.