Antes de mais nada, o DIÁRIO DO RIO deixa claro que, de acordo com a lei estadual 8478, de 18 de julho de 2019, sancionada pelo governador Wilson Witzel, fica proibida a comercialização, o uso, o porte e a posse da substância constituída de vidro moído e cola (cerol), além da linha encerada com quartzo moído, algodão e óxido de alumínio (linha chilena), e de qualquer produto utilizado na prática de soltar pipas que possua elementos cortantes.
Historicamente, um dos passatempos preferidos do carioca, assim como jogar e assistir futebol, ir à praia e a bares, por exemplo, sempre foi soltar pipa.
Essa atividade, entretanto, estava um pouco, digamos, esquecida nos últimos tempos. Com o avanço da tecnologia, a prática de colocar as pipas no alto, brincadeira tão praticada anos atrás, foi ficando um pouco de lado pela geração atual. Até aplicativos de celular passaram a existir, transformando a diversão em virtual.
Nesse período de quarentena que estamos vivendo, porém, o ato de soltar pipas ”à moda raiz”, isto é, ao ar livre, do jeito que sempre foi, tem voltado com tudo. Em diversas regiões do Rio de Janeiro, pode-se vê-las no céu, seja aos sábados e domingos (mais comum) ou, até mesmo, de segunda a sexta, já que os dias têm sido quase iguais.
Na Penha Circular, Zona Norte da cidade, por exemplo, a Rua Viçosa, localizada próxima à Praça do Carmo, é cenário constante de pipas no alto. Pai e filho, Carlos Alberto Gomes, mais conhecido como Carlinhos, e Lucas Angelo há anos são ”figurinhas carimbadas” no local.
”Faço isso há muito tempo, e agora, durante a quarentena, tem sido um escape para poder distrair a cabeça sem precisar ir pra longe de casa. Você pode soltar pipa na sua própria casa, no seu terraço ou quintal, sem contato com ninguém, ou, se ficar na rua, respeitando o distanciamento recomendado e usando máscara”, disse Carlinhos.
Lucas, por sua vez, corrobora com o pai e ressalta a situação inusitada de, devido à necessidade de distanciamento, não poder abraçar o colega para comemorar uma pipa cortada.
”Isso era uma prática comum, abraçar quem estivesse ao nosso lado quando cortamos alguém, mas agora não temos feito. Mas, mesmo assim, ainda vale a zoação em voz alta a quem teve a pipa cortada. O famoso ‘bota outra”’, diz ele.
Já em Jacarepaguá, na Zona Oeste, o empresário do ramo musical Alexandre Suárez, que agencia bandas como Braza e Ponto de Equilíbrio, também aproveita a quarentena para colocar suas pipas no alto e, mais do que isso, reaver velhas amizades.
”O mais interessante desse momento está sendo a conexão de volta com amigos antigos, de infância. Amigos que durante toda infância faziam isso todos os dias, o dia inteiro. E que até pouco tempo não se falavam tanto devido a toda correria dos tempos modernos. Hoje, temos até grupos no WhatsApp de brincadeiras e disputas, um com o outro, de quem corta mais, que rua é a melhor, quem faz a melhor pipa e a mais bonita, etc”, diz ele.
Alexandre aproveita, também, para ressaltar as diferenças sobre o ato de soltar pipa atualmente comparado a épocas passadas. Além disso, chama a brincadeira durante o período de isolamento social de ”pipaterapia”.
”O tempo passou, vieram outras gerações e com ela uma nova modalidade de pipas e ‘cruzas’. Então, fica a ‘velha guarda’ disputando com a ‘vanguarda’ quem solta mais, quem é melhor, mas tudo de forma saudável. Isso tem tirado a gente do momento tenso que vivemos, de incertezas. Tem sido a nossa ‘pipaterapia”’, complementa.
Se você gosta de soltar pipas e quer aproveitar a quarentena para resgatar esse velho hábito, enraizado na cultura carioca, lembre-se: evite aglomerações, mantenha o distanciamento recomendado de 2 metros e não utilize cerol ou linhas cortantes, pois são proibidas pelo Poder Público.