Quase 100 políticos foram assassinados no estado do Rio de Janeiro entre 1988 e 2022

Entre 2010 e 2022, houve média de quatro assassinatos por ano

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O estado do Rio de Janeiro contabilizou 94 assassinatos de políticos entre 1988 e 2022. Os dados são parte do estudo de Huri Paz, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Os casos levantados foram coletados a partir de notícias de jornais disponíveis na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional.

A pesquisa mostra que políticos foram assassinados na região fluminense ao longo de todo o período desde a redemocratização. No entanto, há um crescimento expressivo de casos na última década de análise. Entre 2012, e 2022, foram 45 execuções – o que representa 47,8% dos registros totais. O ano de 2016 registrou o maior número de incidências (10).

Do ponto de vista dos cargos ocupados e almejados, o levantamento aponta para uma concentração da violência extrema contra a classe política para aqueles ligados à disputa municipal. O assassinato de vereadores eleitos, não-eleitos, e ex-vereadores representaram 69% dos casos investigados (65). Considerando todos os casos de funcionários públicos executados durante o exercício do cargo, foram 59 ocorrências.

Em termos geográficos, os casos de violência extrema contra os políticos estiveram concentrados na Baixada Fluminense, que contabilizou 58,5% dos casos (55). Na região, os municípios que registraram maior número de ocorrências incluem Magé (15), Duque de Caxias (9) e Nova Iguaçu (7). Na capital do estado, foram 10 casos.

Ao considerar a violência política a partir de gênero, nota-se que a maioria das vítimas incluem homens, representando aproximadamente 94% dos casos (88). Entretanto, o pesquisador destaca que o assassinato de mulheres em cargos políticos no Rio de Janeiro ilustra desigualdades estruturais no acesso a espaços de representação. Dentre os seis casos de mulheres executadas, quatro eram negras. Todas estavam em campanha como pré-vereadoras, ou ocupavam cargos no poder municipal. Foram elas Lídia Menezes (PSDB), Aga pinheiro Lopes (DEM), Marielle Franco (PSOL) e Sandra Silva (PSB).

Na última terça-feira (18), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou a denúncia para tornar réus aqueles acusados como mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Entre os acusados, estão os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

“Para efeitos dessa pesquisa, os assassinatos, por si só, já sugerem alguma motivação política devido às consequências e articulações com as desigualdades sociais e deterioração do sistema democrático que são expressas nos territórios em que acontecem. o assassinato de mulheres no estado do Rio de Janeiro, apesar de representar minoria no fenômeno, aponta para desigualdades estruturais no acesso a espaços de representação. Mesmo com novidades nas últimas eleições no que diz respeito à distribuição equitativa de recursos para candidatas mulheres e para homens e mulheres negros, a desigualdade na representação persistiu. Especificamente no caso do Rio de Janeiro, a violência pode estar operando como mais uma barreira para a representação desses grupos”, afirma Huri Paz.

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