Quintino: Vereadores do Rio aprovam mais uma lei inútil. Lobby das plaquinhas?

Agora é proibido chamar o Elevador Social de Elevador Social. O de Serviço também tem que mudar de nome. Esta idiotice é de autoria de Waldir Brazão, e Paes bate palma pro maluco dançar

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Foto de Michael Morse

Nesta terça sou pego de surpresa com a sanção pelo prefeito Eduardo Paes de uma lei maluca de autoria de Waldir Brazão (Avante) que proíbe o uso dos termos “Elevador de Serviço” e “Elevador Social”; o objetivo? Evitar a discriminação. O espanto começa por vir de um vereador que não está exatamente dentre os bastiões das causas progressistas, ele mesmo homem, branco e hetero. Vá lá, não se é obrigado a sofrer na pele para defender as causas dos outros. Lobby de fabricante de plaquinhas, burrice, estupidez ou só pura incompetência?

O problema aqui é a completa estupidez desta lei, essa mania dos nossos legisladores de terminar o mandato dizendo que fez tantos projetos de lei, e dá-lhe dia da Sogra, projetos inconstitucionais que deveriam ser federais ou estaduais, ou aberrações como estas do Brazão. A iniciativa até aparenta ser cheia de boas intenções, evitar a discriminação, mas sabemos que a estrada para o inferno foi pavimentada de pessoas bem-intencionadas, imagine com leis amalucadas como essa. A verdade é que o elevador de serviço não é de serviço por causa do tipo de pessoas que estão subindo ou descendo; é, sim por causa do que estas pessoas – seus passageiros – estão efetivamente fazendo. E o mesmo ocorre com o elevador social.

Primeiro, vamos ser sinceros, Shakespeare já dizia: “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.“, se um elevador se chamasse Elesbão e o outro Florisberto, a discriminação ainda existiria. Não seria pela força de uma lei que mudaria. Claro, uma parte dos vereadores que está no Palácio Pedro Ernesto parece carecer de um QI maior que a temperatura ambiente, a não ser para conquistar votos. Ou saberia que os elevadores continuarão sendo usados da mesma forma.

Não vou nem entrar no mérito da péssima redação da lei, que simplesmente proíbe que os elevadores sejam chamados da forma que sempre foram. Mas não menciona a possibilidade de os síndicos e empresas escolherem outras formas análogas que – graças a Deus pela burrice alheia – poderão ser utilizadas em seu lugar. Voto em “Elevador Principal” e “Elevador de Trabalho”, enquanto me preparo para imprimir esta maravilha da criação legislativa num rolo de papel higiênico.

E se cumprirem a lei – que é um ícone da imbecilidade pública e do desperdício do dinheiro de todos nós – vamos lembrar do tal Brazão quando tentarem subir com entulho pelo elevador social de madeira, de metal dourado ou espelhado de um edifício. Ou quando a gente estiver dando um almoço social no nosso apartamento e nossos convidados derem de cara com dedetizadores sujos de remédio anti-cupim fedorento. E posso pensar em diversas outras hipóteses.

Esta é a mesma Câmara, que se não fosse pelo olhar atento do vereador Pedro Duarte, teria aprovado um projeto da vereadora Teresa Bergher que obrigava a todos bares e restaurantes a servirem um cardápio infantil. Não foram poucos os donos de restaurantes que pretendiam cobrar R$ 300 por um pão com ovo e fritas e tratar como “kids menu”; afinal, se alguém em uma drinkeria levasse seus infantes e pedisse algo nesse valor, valeria a pena mandar um funcionário até a venda da esquina comprar uma caixa de ovos.

Meu cinismo impede imaginar que as coisas melhorarão; na Alerj deputados como Rosenverg Reis apresentam tantos projetos de lei para terminar o mandato e colocar em seu santinho “autor de mais de 100 projetos em seu último mandato” e assim enganar os incautos. E a culpa é de nós da imprensa, que acabamos tratando como parte mais importante do Legislativo a criação de leis novas; e não é. O mais importante é fiscalizar o Poder Executivo; leis, temos até demais, está aí a tosca iniciativa de Brazão que não me deixa mentir. E que vai ser aplaudida por algum identitarista preguiçoso.

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9 COMENTÁRIOS

  1. Mas o que se pode esperar numa cidade onde se cria o “Dia do Zé Pilintra”, sacraliza-se a entidade na figura de um “santuário” com farto oferecimento de velas e latas de cerveja (de uma única marca, a mais vendida do país, de rotulo cor vermelha)? Se brigam por placas de banheiros, elevadores e espaços públicos, onde todos podem entrar e fazerem o que quiserem…Incentivos aos bares em prejuízo das atividades regulares…Carnaval onde Nossa Senhora vai de braço dado com Exu num desfile, é Sodoma e Gomorra versão 2.023…E vai piorar…Votaram no maluco??? Façam a rave, consumam o barato da hora e comecem a dança!!!

  2. Agora vão querer fazer mudança, subir e descer com roupa de banho, patinete, bicicleta, cachorro, comida, geladeira, tudo no mesmo elevador que a pessoa arrumadinha para o trabalho ou evento, ou que chega, e não quer se aborrecer…

  3. Se defendesse seu ponto de vista com menos emoção acredito que não perderia a razão. Afinal a intenção do projeto de lei é plausível. São anos de escravidão e da relegação do “serviço” literalmente aos fundos. Minha professor de Economia da Universidade falou uma frase que nunca mais esqueci: “O Brasil é um dos poucos países nos mundo onde o trabalho entra pela portas dos fundos”. Resquícios coloniais. Ontem mesmo assisiti a uma programa onde um engomadinho apresentava uma mansão supostamente do Neymar onde (pasmem) a cozinha e os aposentos dos empregados ficavam no subsolo da casa, sem nenhuma janela. Praticamente a modernização da Senzala. Isso é Brasil!

    • Isso porque você quis assim interpretar… na onda da sua professora… como se em nenhum outro país do mundo, e mais desenvolvido que aqui, existisse elevadores para diferentes necessidades.

    • Na Casa Branca os aposentos dos empregados também não tem vista parábola jardim.
      Esses aposentos dos empregados podem ficar no subsolo bastando haver conformidade com as normas técnicas de arquitetura, engenharia e segurança e saúde do trabalho.

  4. Político brasileiro não sabe redigir boas leis.
    Os projetos são péssimos e o resultado aprovado deságuam no já embaralhado ordenamento jurídico.
    Deveria uma Lei Maior proibir a propositura de leis que não tem menor urgência; ou que determinasse passar pela necessidade prévia de consulta popular, em plebiscito ou referendo – queluzito pouco são utilizados no Brasil. Por que será?

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