Relógio de igreja parado há 101 anos volta a funcionar nesta quarta, com Missa e Concerto

A grande festa vai ter direito a uma bênção especial do equipamento, além da Missa com Coral e Grande Orquestra que contará com a presença do bispo Dom Roque Souza, a presidir a cerimônia, que terá entrada franca, muita fé e música de qualidade

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O relógio da histórica Igreja dos Mercadores já está pronto pra mostrar as horas a quem passa na região da Praça XV. Os sinos já batem de hora em hora desde Julho / Foto: Divulgação Manoel dos Sinos

A incensada igrejinha dos Mercadores, na esquina do Arco do Teles com a Rua do Ouvidor, tem sido alvo de muitas reportagens em toda a imprensa desde sua recuperação pela Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que ocorreu com recursos da iniciativa privada após a nomeação pela Arquidiocese do Rio de um empresário do ramo imobiliário para a gestão da entidade fundada pelos mercadores do século XVIII, que existe desde 1750 na região. Nesta quarta-feira (23/08), mais um sonho dos amantes do patrimônio vai virar realidade, depois da reativação dos sinos, restauro do órgão de 1873, da recomposição do acervo de arte sacra à mostra, e das missas semanais, com coral e grande orquestra, realizadas todos os sábados e domingos, que têm atraído multidões para a região da Praça XV ao meio dia nos finais de semana.

O relógio da fachada do templo, que parou em 1922, segundo registros da irmandade, e cuja máquina sequer existia – conforme tradição verbal foi retirada pra conserto na época e acabou desaparecendo – vai voltar a marcar as horas nesta quarta-feira, após a instalação, pela Irmandade, de nova máquina e ponteiros junto à Canonico Lagonegro, fabricante italiana de engenhos do tipo. A empresa Manoel dos Sinos, uma das únicas especializadas no segmento no Rio, ficou encarregada de toda a instalação; em vez de se mover a corda, como a maioria dos relógios das igrejas do Rio, o relógio, moderníssimo, funciona de forma elétrica, e é conectado ao sistema que badala os sinos, para que haja sempre sincronia entre o som e o mostrador histórico. (fotos abaixo) Aparelhagem digna de uma irmandade de mercadores que se moderniza depois de alguns anos de estagnação. Apesar de ter sido restaurada no final dos anos 90, questões como o órgão, a clarabóia, os sinos, o relógio, lustres e arandelas e o acervo sacro não foram tratadas na época. A igreja é tombada pelo IPHAN, órgão de patrimônio federal que vem acompanhando a ressurreição do templo da padroeira dos mascates e mercadores.

Para a inauguração, o empresário Cláudio André de Castro, comissário provedor da irmandade, programou uma Missa Solene que será presidida pelo Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Roque Souza Costa, e concelebrada pelo Monsenhor André Sampaio de Oliveira, Vigário Episcopal para as Associações de Fiéis, e pelo Padre Vitor Pereira, que ficou conhecido ao ser o primeiro padre casado ordenado no Brasil, o que foi possível por ser do rito oriental da Igreja Católica.

A Missa será acompanhada do Coral Astorga, da cantora soprano Juliana Sucupira, com 15 músicos, que vem sendo muito aplaudido pelo trabalho que realiza nas missas celebradas pela igrejinha dos Mercadores todos os finais de semana. A orquestra incluí órgão, metais, flauta e violinos. Dentre as obras mais apoteóticas a serem executadas pelos músicos está a célebre Aleluia, do compositor Georg Friedrich Händel, assim como Jesus Alegria dos Homens, de J.S. Bach e Zadok the Priest, também de Handel, assim como o tradicional hino Panis Angelicus, dentre outras obras que vêm emocionando fiéis e turistas que visitam o pequeno templo, chamado de “jóia da rua do Ouvidor”. O acesso à cerimônia é gratuito e sem nenhum tipo de reserva de lugar, e a irmandade aconselha as pessoas a chegarem mais cedo. A igreja tem sido decorada semanalmente pela Irmandade com flores naturais, como num casamento.

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O bispo Dom Roque nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de agosto de 1967. Após estudar Filosofia na Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II, e Teologia no Instituto Superior de Teologia, foi ordenado padre em 18 de junho de 1994 pelo saudoso Cardeal Eugênio de Araújo Sales. Realizou o estudo de pós graduação em Comunicação Social pela Faculdade Carioca (1997-1999) e em 09 de maio de 2012 foi designado pelo Papa Bento XVI como bispo auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro.

A Lapa dos Mercadores tem recebido milhares de turistas todas as semanas, que vão conhecer a casa da Padroeira dos Comerciantes. “Reza uma lenda famosa no Centro que um comércio novo que abre na cidade só dá certo mesmo se tiver a bênção da Senhora dos Mercadoresque até 1750 ficava num oratório na rua do Ouvidor, e agora fica no altar da Igreja“, disse  Wagner Victer, ex-presidente da CEDAE, ao DIÁRIO DO RIO, confessando que muitos dos sucessos da sua gestão à frente da companhia, à época, foram frutos de pedidos à antiga devoção católica portuguesa. “Na verdade, as bênçãos aos comércios são extremamente requisitadas, pois a devoção à Nossa Senhora da Lapa nasceu entre mascates e comerciantes mesmo. Por isso muitos comerciantes têm nos visitado desde a reabertura e pedido as bênçãos“, fala o Padre Victor Hugo, que tem rezado Missas quase todos os dias na Irmandade. O que se sabe com certeza mesmo é que a imensa imagem de mármore que foi atingida por uma bala de canhão na revolução de 1893 caiu de uma altura de 25m e sofreu danos mínimos. Porém, a história de proteção aos comerciantes parece estar funcionando novamente; e reverberando.

As missas com coral e orquestra que ocorrem todo o final de semana têm o apoio cultural do restaurante Sobrado da Cidade, localizado na rua do Rosário 34, logo ali. O restaurante oferece um café da manhã especial, todo sábado e todo o domingo, que usa receitas do século XIX e é seguido por uma caminhada de 1 hora pela região do Paço Imperial, e que termina com a chegada à Lapa dos Mercadores para assistir as missas, às 12:00 em ponto, enquanto dobram os sinos da igrejinha, que anuncia as horas, de hora em hora. O chamado café imperial tem ficado lotado, e os frequentadores têm se apaixonado pela união de história, cultura e fé. “Tem muita gente que sai emocionada da celebração“, diz Sylvia Assumpção, secretária da irmandade, com mais de 30 anos de casa.

A Igreja Católica no Rio criou uma comissão de patrimônio para lidar com Igrejas que, como a da padroeira dos comerciantes, estavam em mau estado e abandonadas. Assim, com capital próprio de suas empresas e de amigos, o diretor da Sergio Castro Imóveis e do Shopping Paço do Ouvidor realizou toda a obra, e deixou a igreja tinindo; fachada totalmente pintada, telhado, elétrica e hidráulica feitos, e até mesmo restauro de obras de arte e móveis, recomposição de acervo e a instalação de um moderníssimo sistema de som, entre outras intervenções que incluiram colocar os sinos pra tocar de forma automática, e diversas outras iniciativas como a instalação do novo relógio.

A igrejinha já aceita reservas para casamentos, batizados, missas particulares e, claro, para as famosas e lendárias bênçãos ao comércio e a novos negócios, uma antiga tradição católica que vinha esquecida na cidade. Como o Centro do Rio, que volta à vida, com a recuperação de antigos imóveis, comércios e restaurantes. Só ali na região, são vários prédios antigos começando reformas. Valha-nos, Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. O Rio merece.

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1 COMENTÁRIO

  1. GREAT SCOTT!!!!!!! Isso causará um enorme paradoxo temporal, alterando definitivamente a linha do tempo e mandando Marty McFly para uma realidade completamente diferente.

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