O vetusto Restaurante Rio Minho, estabelecimento que é a própria personalização da história gastronômica do centro do Rio de Janeiro, agora se reinventa mais uma vez. Após sobreviver a incontáveis transformações urbanas e históricas desde sua fundação em 1884, este baluarte culinário anuncia uma novidade empolgante: o velho casarão de três andares, e fachada em azulejos portugueses vai voltar a abrir aos sábados, começando no dia 4/11 (amanhã). Esta mudança, que promete animar ainda mais o ressurgimento do Centro do Rio e da cada vez mais celebrada região da Praça XV, é um brinde à resiliência e inovação da casa que ocupa o charmoso sobradão da rua do Ouvidor número 10, esquina com o (atual) Boulevard Olímpico.

Desde sua fundação em 1884, o Rio Minho testemunhou a história do Rio de Janeiro desenrolar-se ao seu redor. Do golpe militar que derrubou a Monarquia Brasileira à infeliz demolição do Mercado Municipal e, mais recentemente, à acertadíssima demolição do viaduto da Perimetral, o restaurante se manteve como um símbolo de tradição e alta gastronomia, com especialização em frutos do mar e fama de ter sempre o cherne mais fresquinho da região central da cidade. Em tempos de Reviver Centro, sua ausência aos sábados era sentida na região onde se encontra, que vem recebendo cada vez mais movimento dos centros culturais, igrejas históricas – fica a passos da recém restaurada Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que tem eventos ao meio dia – galerias de arte e restaurantes.

A famosa sopa Leão Veloso, batizada em homenagem ao ministro Pedro Leão Veloso, é apenas uma das iguarias que compõem o riquíssimo menu do restaurante. Inclusive, como entradinha, é possível pedir só o caldinho da sopa mais clássica do Rio, deixando o estômago livre pra poder se embolar com o bolinho de bacalhau mais tradicional e consagrado do país, e a iguaria preferida deste jornalista: a casquinha de cavaquinha gratinada. Sob a batuta do veterano proprietário Ramon Isaac, da quarta geração de proprietários, o Rio Minho continua a servir pratos que arrancam suspiros e mesmo lágrimas de satisfação. Ele, ao lado da filha Cristina, comanda uma casa que também é famosa pelo seu polvo grelhado e pelo famoso Misto Grelhado, que traz diversos frutos do mar completamente frescos grelhados. Neste sábado, que não tem previsão de chuva, o passeio no Centro da cidade é mais que indicado.

A casa – que completou 138 anos em outubro – já serviu a muitos clientes importantes, e continua a fazê-lo. Talvez o mais assíduo tenha sido o filólogo Antonio Houaiss (1915-1999), que, de tão íntimo, ia pessoalmente na cozinha dar pitacos sobre as receitas. Nas paredes do salão em pé direito altíssimo, fotos de outros fregueses renomados, como o embaixador José Sette Câmara (1920-2002) e o ministro Pedro Leão Veloso (1887-1947), que teria passado a receita da adaptação da francesa sopa bouillabaisse, de peixe, lula e camarão, que acabou batizada com seu sobrenome. O ex-presidente José Sarney é outro de seus famosos comensais – adorador da batata portuguesa que é dos seus mais famosos acompanhamentos – que costumeiramente batem ponto no salão refrigerado de lambris de madeira e azulejos portugueses de Alcobaça.

Agora, com a promissora novidade de abrir também aos sábados, o Rio Minho se prepara para receber uma nova geração de apreciadores de sua cozinha, num momento diferente do passado, em que a região fica mais lotada nos finais de semana do que durante a semana. Mais do que uma simples mudança de horário de abertura, este é um sinal de renovação que se coaduna com o renascimento da região e um convite para redescobrir os prazeres que este templo da gastronomia tem a oferecer. Como fiel frequentador há 30 anos, celebro esta nova etapa e conclamo os amantes da boa mesa: o Centro do Rio, com a reabertura total do Rio Minho, está mais vivo do que nunca.

Restaurante Rio Minho

Rua do Ouvidor, número 10 (junto à antiga Bolsa de Valores)

Reservas: 21 98145-9999 (WhatsApp)

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