O Réveillon do Rio de Janeiro sempre foi palco de manifestações culturais e espirituais diversas, com a praia de Copacabana se tornando um verdadeiro altar para milhões. Este ano, pela primeira vez, haverá um palco gospel na celebração, com destaque para o maravilhoso Thalles Roberto, cantor que mistura fé e música em um espetáculo de emoção e conexão espiritual. Inclusive, amo as músicas dele, como “Arde Outra Vez”, “Escrita pelo dedo de Deus” e “Eu Escolho Deus”. São espetaculares. Caprichosamente produzidas, bem cantadas e com mensagens iluminadores. Excelentes músicas.
Contudo, enquanto celebramos essa inclusão, fica a reflexão: por que não há também um palco dedicado às tradições afro-brasileiras, como umbanda, candomblé e outras? Essas práticas têm papel fundamental no imaginário do Réveillon carioca, especialmente com a tradicional entrega de flores brancas para Iemanjá, rainha do mar, que recebe agradecimentos e pedidos de bênçãos para o novo ano. E é gente de várias religições e crenças que compra flores brancas e entrega ao oceano pedindo bençãos. Você sai no metrô Cardeal Arcoverde e vê uma quantidade enorme de pessoas vendendo essas plantas.
Oferendas ao mar: conexão ancestral no Réveillon do Rio
Todos os anos, milhões de cariocas e turistas seguem o ritual de lançar flores brancas no mar, muitas vezes acompanhadas de velas, perfumes ou pequenos barcos carregados de desejos. Este ato, ligado às tradições afro-brasileiras, simboliza agradecimento e pedidos de renovação. Mas não para por aí: outras tradições incluem pular sete ondas, vestir branco como símbolo de paz e até comer lentilhas para atrair prosperidade. Sabe de onde vem tudo isso, né? Na história do Rio de Janeiro, foram exatamente as caravanas de axé que deram origem à festividade do Réveillon.
Mesmo com a forte presença dessas práticas, a ausência de um espaço dedicado à música e espiritualidade das religiões afro-brasileiras no evento principal deixa um vazio. Afinal, é impossível dissociar a cultura carioca da herança de umbanda e candomblé, que moldaram tantos aspectos do Réveillon, desde a estética até a espiritualidade.
Réveillon do Rio: uma festa para todos?
Esse texto veio a partir de um vídeo que vi nas redes sociais do Duo Rosa Amarela falando sobre isso e que me gerou a reflexão. O duo é conhecido por celebrar em sua música a cultura de terreiro e as raízes populares brasileiras e poderia ser um excelente exemplo de como unir tradição e modernidade em um palco voltado à valorização dessas práticas. Eles têm mais de 218 mil inscritos em seu canal de YouTube e por volta de 50 milhões de visualizações em seus clipes.
Assim como o palco gospel traz representatividade para uma parte significativa da população, um espaço no Réveillon do Rio para a música e espiritualidade afro-brasileira completaria a experiência e reforçaria o caráter plural do evento. Adoraria ver o Rosa Amarela cantando para Oxalá, Ogum, Iansã e Iemanjá. Bem como amaria ver Marie Gabriella com “Ilumina Minha Mãe” ou o Quintal da Magia com seus sambas animados. Já imagino a quantidade de lágrimas de alegria e fé que regariam as areias de Copacabana. Ou seja, por que não um palco para o Festival Rezo Rio? Uniria músicos de vertentes diversas como Candomblé, Umbanda, Xamanismo e outras com perfeição.
O Réveillon do Rio é um momento de comunhão. Seja nas canções de fé de Thalles Roberto ou nas oferendas a Iemanjá, a cidade tem a chance de mostrar ao mundo como celebrar o novo ano respeitando e abraçando todas as suas tradições. Certo?