Favelagrafia 2.0
Mais do que quadros com cada um dos 53 registros, esta exposição coletiva firma sua própria montagem como um trabalho de arte, na composição entre as fotos e vídeos com processos criativos dos artistas. Esses elementos se refletem na câmara escura que “Favelagrafia 2.0” ocupa até o próximo domingo (8), no Museu de Arte Moderna, em curta temporada de um mês.
Antes disso, este 4 de dezembro é o último dia para ver “Favelagrafia 2.0” sem pagar, conforme o padrão do MAM, que tem entrada gratuita às quartas-feiras.
Como as lâmpadas acesas à noite no morro, luzes de spots e vídeos brilham no escuro da sala onde o MAM expõe a “Favelagrafia 2.0”. Semifechado, de modo a barrar a má interferência de luz externa, como no interior de uma câmera, o local da exposição reúne 53 fotografias, de nove artistas, também representados por um vídeo onde cada um mostra boa parte de seu processo criativo.
Sem necessariamente limitar seus ambientes às favelas onde vivem, Anderson Valentim (Borel), Elana Paulino (Santa Marta), Jéssica Higino (Mineira), Josiane Santana (Complexo do Alemão), Joyce Marques (Providência), Magno Neves (Cantagalo), Omar Britto (Babilônia), Rafael Gomes (Rocinha) e Saulo Nicolai (Prazeres) distinguem-se e destacam-se pelas particulares de seus trabalhos.
Focados como suas lentes, os fotógrafos revelam momentos e movimentos de temas específicos, em cada um, que, reunidos compõem a diversidade – de cores e em P&B.
Entre ondas do mar e do concreto, esportes radicais dominam os cliques de Rafael Gomes, enquanto Elane foca na concentração de poses sobre o morro de Botafogo. Joyce capta as expressões de modelos; Jéssica, os olhares do casal de dançarinos e Valentim multiplica por quatro as variações de autorretratos contrastando a iluminação sobre seus dreadlocks e a “fumaça” provocada pelo registro de seus movimentos.
Para o alto e avante
Diversos ambientes foram o conjunto de fotografias de Saulo Nicolai, que nos explica parte de sua técnica, em especial sobre a tomada em que o dançarino Guilherme Holanda, 23, parece levantar voo, na
Ladeira dos Tabajaras, entre Copacabana e Botafogo, onde ele mora.
“Ele fez uma partida em flexão, que dá a impressão de levantar voo mesmo, e caiu logo depois, se apoiando na mesma posição”, explica o fotógrafo, que para registrar o momento exato, como se seu
modelo estivesse parado no ar, tal qual um beija-flor ou o Dadá Maravilha, configurou a câmera para
disparar em alta velocidade. “Fiquei há uns 5 metros, aproximadamente, de distância do dançarino, numa altura inferior a em relação a ele”, detalha Nicolai, que, ainda assim precisou repetir diversas vezes as tentativas em busca da batida perfeita no clique da máquina – a foto de Holanda, saltando com a mão esquerda em punho é a segunda, no sentido horário, das que selecionamos abaixo.
“Não lembro o número exato mas acredito que tenha passado de dez. Passamos horas fotografando pela favela; para fazer esse clique nesse lugar levamos uns 15 minutos”, ressalta a persistência. “O salto, claro, levava frações de segundo”.
MAM. Av. Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo (altura do Castelo). Tel.:3883-5600. Terça a sexta, das 12h às 17h30; sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h30.Entrada: R$ 14 (inteira) / R$ 7 (meia). Ingresso-família (aos domingos): R$ 14, para cinco pessoas. Grátis às quartas-feiras. Até 8 de dezembro
Fernando Brum – The Land, Scape
Um escape da terra em sua superfície aberta para o detalhe do primeiro plano. É nesse corte para objetos em imagens mais fechadas que Fernando Brum foca a mostra individual que expõe na galeria Z42, no Cosme Velho. Inéditas no Brasil, em sua maioria de “The Land, Scape”, de certa forma, subvertem o conceito clássico de paisagens, mas sem deixar de se inserir neste gênero, entre óleos e acrílicas, sobre linho e tela.
“Apesar de o foco poético de Brum divergir claramente de uma ideia ainda hoje dominante – de que paisagens representam cenas em que a ordenação espacial resulta da aplicação de princípios objetivos, como a perspectiva –, é evidente que, ainda assim,suas obras devem ser confrontadas com este gênero da pintura clássica”, afirma o curador Fernando Cochiarale., no texto de apresentação da mostra. “A frequente valorização dos primeiros planos das telas por Fernando favorece a introspecção silenciosa e a percepção da ‘metamorfose das coisas’ pelo espectador”, acrescenta.
“Cresci numa cidade de montanhas, florestas e com muito verde ao meu redor, por esse fato sempre atentei o olhar para a natureza e seus mistérios, ou o que eu chamo de poética do lugar nenhum”, aprofunda Fernando Brum. “O trabalho não é somente sobre a cena que está sendo retratada, e sim sobre o silêncio e a metamorfose das coisas (…). Plantas, pedras, galhos de árvore e até o nada ganham destaque e viram protagonistas. Todo universo ao meu redor entra no trabalho, tudo que está ao alcance dos olhos, o que está e o que não está sendo velado”, afirma o artista, de 30 anos, formado em design pela PUC-RJ e com passagem pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que vem de exposições individuais na TAC, em Lima, no Peru, em 2017, e nas CoGalleries, em Berlim, Alemanha, onde fez uma residência artística de dois meses, neste ano.
Z42. Rua Filinto de Almeida 42, Cosme Velho. Tel.: 98148-8146. Segunda a sexta, das 13h às 18h. Entrada gratuita. Até 8 de dezembro.
Santo Antônio de Sá: primeira vila do Recôncavo da Guanabara
Reúne 65 peças arqueológicas encontradas na região então conhecida como Recôncavo da Guanabara, em torno da Baía, onde hoje ficam partes de Magé, Guapimirim e Itaboraí.
Resultado de um dos mais amplos trabalhos de arqueologia já realizados no Brasil, em torno da área demarcada para o Comperj (Complexo Petrolífero do Estado do Rio de Janeiro), em Itaboraí, ela foi apresentada pela primeira vez em 2010.
Marcadas por previsões nunca cumpridas, adiamentos e investigações, passada uma década, as obras do complexo ligado à Petrobras ainda não foram concluídas, mas a exposição voltou, revista e ampliada, incluindo 11 foram resgatadas dos escombros do Museu Nacional, após o incêndio do ano passado.
“A ideia vai ao encontro do conceito de criação da campanha Museu Nacional Vive e reforça o posicionamento da instituição em se manter ativa e viva na produção e geração de conhecimento”, afirma, no texto de apresentação da mostra, a museóloga e historiadora Thereza Baumann, que divide a curadoria com a antropóloga Maria Dulce Gaspar. “Procuramos fazer uma ligação direta entre o trabalho dos pesquisadores que promoveram o estudo à época e o que vem sendo realizado pela equipe de resgate que, desde setembro, atua no palácio da Quinta da Boa Vista”, acrescenta.
A pesquisa identificou, ao todo 45 sítios arqueológicos que serviram de base para a exposição.
Caixa Cultural
Av. Almirante Barroso 23, Carioca. Tel.: 3980-3815. Terça a domingo, das 10h às 21h. Até 8 de dezembro. Entrada gratuita.
Tom Burr – Hélio-Centridades: Coda
Com passagem pela Escola de Artes Visuais no final da década de 1980, o artista, fica até o próximo domingo (8) no Parque Lage, em sua mostra “feita para ser um encontro amoroso entre o espaço expositivo, Hélio Oiticica e eu”, nas palavras do americano, nascido em 1963, em New Haven.
Em seu propósito de brincar com os limites da obra artística, “Coda” começa com um painel de madeira pintado de preto, com frestas através das quais o público pode ver a sequência da mostra.
Nomeada como “Hélio-Screen”, ela se inspira nos “metaesquemas” de Oiticica (1937-1980), em cujo trabalho e personalidade Burr mergulhou para compor sua mostra. “Exposições tem a ver com expor-se. Elas expõem espaços, objetos e ideias sob intensa luz para o escrutínio do olhar do público. (…) artistas são expostos. Eu sou exposto”, (se) desafia.
Parque Lage – Escola de Artes Visuais. Rua Jardim Botânico, 414. Tel.: De quarta até este domingo (8), das 10h às 17h. Entrada gratuita.
Na Reta de Largada
Paula Klien – Fulvius
Expondo, desde 2017, em espaços no exterior como a ArtBA, de Buenos Aires; a Saatchi Art Gallery, de Londres; a AquabitArt Gallery, no Deustsche Bank, e a Positions Art Fair em Berlim, Paula Klien começa nesta semana mostra com cerca de 50 pinturas em nanquim
“Fulvius” acontece um ano depois de Paula Klien participar, como uma espécie de contrapartida local, a “Pincel Oriental”, que trouxe ao Brasil seis pintores chineses, os quais viajaram por locais como Pelourinho e Ouro Preto para interpretar o país através de sua técnica de nanquim.
Assim como a coletiva com os chineses, a individual acontece no Centro Cultural dos Correios.
Sob a curadoria de Denise Mattar, as obras expostas na Candelária dividem-se entre peças mais antigas e produtos de novas pesquisas da artista. Entre as experiências mais recentes, estão pinturas e digigrafias (gravuras com as digitais). Como “making of”, ainda há um vídeo-performance que mostra Paula pintando telas e papéis dentro de um rio.
Centro Cultural dos Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20, Candelária. Tel.: 2253-1580. De terça a domingo, das 12h às 19h. Até 26 de janeiro. Entrada gratuita.
O Ovo e a Galinha
Antecipando o centenário de Clarice Lispector, que acontece em 2020, artistas reunidos em torno da Galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, em Ipanema, juntam suas obras a de nomes consagrados em trabalhos os quais relacionam às obras da escritora nascida na Ucrânia e vinda para o Brasil aos dois anos de idade, segunda ela própria, sem jamais ter postos os pés em sua terra natal.
Para isso, Claudio Tobinaga, Gabriela Noujaim, Jeane Terra, Jimson Vilela, Roberta Carvalho e Ursula Tautz se uem às companhias de Anna Bella Geiger, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Ivens Machado, Leticia Parente, Rubens Gerchman e Waltércio Caldas.
“Como estratégia para exibir os trabalhos, os diálogos aqui apresentados buscam iluminar aquilo que os objetos partilham, em vez de preocupação com singularidades ou ineditismos”, afirma o curador Ulisses Carrilho.
Galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea
Rua Aníbal de Mendonça 173, Ipanema. Tel.: 3496-6821. Segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábado, das 11h às 15h. Entrada gratuita.
Duplo olhar
Com mais de 200 trabalhos, a coletiva propõe um diálogo entre fotografias e pinturas de modernistas.
Entre eles, estão obras de pintores como Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Di Cavalcanti, Portinari, Guignard e Hélio Oiticica, tal como fotografias de Marcel Gautherot, Pierre Verger e as mais antigas Marc Ferrez, além de artistas que fundem as técnicas, como Geraldo de Barros e Miguel do Rio Branco.
A curadoria é feita por Marcia Mello e Paulo Venâncio Filho, com base no acervo próprio deixado por Roberto Marinho, dono de uma mais extensas coleções particulares de arte brasileira do período modernista.
Nos jardins da casa, trabalhos de 11 artistas contemporâneos, como Angelo Venosa, Beatriz Milhazes e Carlito Carvalhosa, compõem a face atual desse duplo olhar.
Casa Roberto Marinho. Rua Cosme Velho 1.105, Cosme Velho. Tel.: 3298-9449. Terça a domingo, das 12h às 18h – a partir desta sexta (6). Entrada: R$ 10. Até 26 de abril.
Ira Etz e Uziel
Aberta nesta semana, a exposição em dupla reúne 15 telas e 43 objetos pintados pelos dois artistas, que dividem a ascendência e parte da história. Ira Etz nasceu em 1937, em Ipanema; Ali Uziel, em 1945, em Natal (RN), ambos filhos de famílias judaicas europeias que fugiram do nazismo. O avô materno de Ira, Arthur Kaufmann, fi pintor importante do expressionismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933, quando emigrou, primeiro para os Estados Unidos, depois para o Brasil.
Ela se dedicou à fotografia até 1988, quando decidiu se reinventar após a perda traumática de um filho, iniciando estudos na Escolas de Artes Visuais do Parque Lage nos anos 1990.
Já a família de Uziel veio da Polônia e se instalou em Belo Horizonte quando ele tinha cinco anos. Depois de se formar arquiteto pela UFMG, ele começou a pintar telas com tinta acrílica e referência mantida nas linhas arquitetônicas, inclusive usando réguas, após se mudar para Ouro Preto.
Encorajado por pintores como Carlos Scliar e Murilo Marcondes, abraçou de vez a arte.
Em seus objetos presentes na mostra, transparece, de acordo com a “Revista Museu”, uma “ancestralidade africana, indígena e oriental”.
Galeria Evandro Carneiro Arte. Rua Marquês de São Vicente 124, Gávea. Tel.: 2227-6894. Segunda a sábado, das 10h às 19h. Até 4 de janeiro. Entrada gratuita.
Loio-Pérsio – Poética da Imagem
Recém-aberta, na Praça 15, a mostra apresenta mais de cem obras do nascido em 1927, em Tapiratiba (SP), em 1927, as quais relaciona à edição e à publicação do manuscrito “Poética da imagem”, produzido por ele já no final de sua vida – ocorrido em 2004, aqui no Rio de Janeiro.
Ao longo desses 77 anos, Loio-Pérsio Navarro Vieira Magalhães passou pela Europa, onde, nos anos 1960, expôs em Paris e foi convidado a trabalhar na Escola Superior de Arte de Stuttgart, na Alemanha, além de estabelecer vínculos com pintores espanhóis como Antonio Saura e o catalão Antoni Tàpies, o que reforçou seu trabalho em direção às tendências abstratas da pintura.
Essa sua fase “informal” é representada por obras das décadas de 1960 e 1970, produzidas após o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, o qual ele ganhou no 12º Salão Nacional de Arte Moderna em 1963. Já estudos formais se fazem presentes nas séries “Esgrafitos” e “Reis Magos”, desenvolvidas nas décadas de 1980, 1990 e 2000.
Ao todo, a mostra reúne 111 trabalhos, divididos em três módulos: Pinturas, Desenhos e Estudos, produzidos da década de 1950 ao início dos anos 2000. A extensão cronológica e temática tenta dar conta da importância histórica desse artista viajante que, também, logo no início da carreira já fundou, em 1951, o Centro de Gravura do Paraná.
Loio-Pérsio – Poética da imagem
Paço Imperial. Praça XV de Novembro, 48, Centro. Tel.: 2215- 2093. Terça a domingo, das 12h às 19h. Até 16 de fevereiro. Entrada gratuita.