Uma das vias mais conhecidas da cidade do Rio de Janeiro, a Rua da Carioca, no Centro, tem esse nome desde 1848, por deliberação da Câmara Municipal da Corte. No entanto, a rua já teve outros nomes, como Caminho do Egito (ou Egyto) e Rua do Piolho.
A história tem a ver com outra que publicamos há alguns dias aqui no DIÁRIO DO RIO, sobre a Rua dos Ciganos. De acordo com um texto do jornalista Cássio Loredano, no perfil Brasilania Fotográfica: “Degredar foi em Portugal, desde o século XVI, uma das penas impostas a quem tinha contas a ajustar com a lei. E foi disso que se lembraram por lá quando, no início do Setecentos, pretenderam se ver livres de uma gente incômoda que em toda a Europa e ao longo de séculos era alvo de ondas recorrentes de antipatia, segregação, preconceitos e perseguições, – os ciganos: mandar para o Brasil. E no Rio de Janeiro, como eram “intocáveis”, em grego
athígganos, isto é, que não queriam e, mais do que não quererem, eram proibidos de contato com cristãos, foram armar suas barracas fora dos estreitos limites municipais de então: lá para os lados do Rocio grande, na época Campo da Cidade, e numa rua que a partir dele se formou e se chamou Rua dos Ciganos. O próprio campo passou a ser então também chamado dos Ciganos”.
O acesso ao chamado Campo dos Ciganos (que ficava na região da Rua da Constituição, que é antiga Rua dos Ciganos, e da Praça Tiradentes) se dava por onde é hoje a Rua da Carioca. À época, a via não passava de um grande areal.
Um mapa de 1713, feito por José Massé, mostra que o “caminho do areal” passou a ser chamado de Caminho do Egito (ou Egyto, como alguns textos da época são grafados). Em seu livro História das ruas do Rio, o escritor Brasil Gerson levanta a possibilidade de ter havido em algum ponto da estrada um oratório com a imagem da fuga de Maria, José e o menino Jesus para o Egito de Herodes.
Segundo Brasil Gerson, alguns ciganos ganharam dinheiro com o tráfico de pessoas escravizadas da África, no Cais do Valongo e deixaram seus acampamentos para vir morar dentro dos limites da cidade, inúmeros deles no Caminho do Egito, que, de acordo com um mapa de André Vaz Figueira, passou, em 1750, a ser Rua do Piolho.
“‘Piolho’ era como a vizinhança chamava um solicitador da época, cujo nome a história esqueceu, apelido que se dava a gente que como ele vivia escarafunchando arquivos e cartórios em busca de questões de que pudesse tirar proveito. ‘Piolho das roupas’, ‘piolho em costura’. Algo como hoje muquirana (aliás o nome do piolho em tupi), parasita, sanguessuga”, destaca Cássio Loredano, o que mostra, como citei na matéria sobre a Rua dos Ciganos, o grande preconceito que havia com esse povo.
Em 1808, ano da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, a rua ainda se chamava do Piolho.
A Rua do Piolho cresceu ao longo dos anos, ganhou casas e mais casas, e passou a ser o acesso ao chafariz do Largo da Carioca. Depois disso, o nome Rua da Carioca foi dominando a cabeça da população e ficou até hoje.