A Bienal do Livro é inegavelmente um evento que incentiva e promove o universo dos livros no Rio de Janeiro. Contudo, a literatura está presente o ano todo na cidade. Desde muito tempo. E essa presença pode ser vivida de múltiplas formas e em vários lugares. O grande evento que é a Bienal está no fim, mas essa história continua.
Dá para dizer que o primeiro capítulo foi a Biblioteca Nacional, localizada no Centro da Cidade. A mesma começou a ser montada com a chegada da Família Real Portuguesa, em 1808. Quando a rainha de Portugal, D. Maria I, e de D. João, príncipe regente, chegaram ao Brasil trouxeram um imenso acervo de livros e manuscritos. Entretanto, há historiadores que apontam que tudo começou em 1755, quando Lisboa sofreu um grande terremoto que provocou incêndios e danificou muitos documentos da Real Livraria, na época uma das mais importantes bibliotecas do Mundo.
Nesse período, o rei Dom José I de Portugal e o ministro Marquês de Pombal empenharam-se em juntar o pouco que sobrou da Real Livraria e organizaram, no Palácio da Ajuda, uma nova biblioteca. Foi dessa nova organização de livros e escritos que se formou o acervo que veio para o Brasil – que contava com sessenta mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas e foi inicialmente acomodado em uma das salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março.
Dando um pulo na história, também no Centro do Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897 foi fundada, por Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, Olavo Bilac, Afonso Celso, Graça Aranha, Medeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay e Ruy Barbosa, a Academia Brasileira de Letras: ABL.
Rua muito querida e elogiada pelo carioca Machado de Assis, um dos fundadores da ABL e um dos escritores mais importantes da história, a Ouvidor já foi uma das ruas com mais livrarias no planeta.
“A Rua do Ouvidor chegou ater 50 livrarias funcionando ao mesmo tempo. Acho que no mundo hoje em dia, você não tem uma rua que tenha 50 livrarias”, disse o historiador Milton Teixeira. Isso sem contar os jornais e editoras.
O número de livrarias hoje em dia é bem menor. Todavia, as que ainda se encontram na Rua do Ouvidor são muito importantes, como a Folha Seca, uma das poucas especializadas em livros sobre o Rio de Janeiro, onde acontecem lançamentos ao som de muito samba e ao sabor de bastante cerveja.
Não dá para não escrever sobre o Real Gabinete Português de Leitura, que tem quase dois séculos de riquíssimas memórias. Eleita uma das vinte bibliotecas mais bonitas do mundo.
Inclusive, as cinco primeiras sessões solenes da Academia Brasileira de Letras, presididas por Machado de Assis, foram realizadas no Real Gabinete Português de Leitura.
Recentemente, o DIÁRIO DO RIO publicou uma lista de locais da cidade do Rio de Janeiro citados em importantes obras literárias, confirmando a vocação da nossa cidade para os livros.
Incontáveis foram e são os escritores que fizeram e fazem do Rio de Janeiro cenário para diversas narrativas. De acordo com o escritor Monteiro Lobato, “uma nação se faz com homens e livros”. Uma cidade, também.
A Folha Seca reabriu? Ela havia fechado durante a pandemia. Se reabriu, é uma boa notícia.
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