Roberto Anderson: Edge Rio

O Arco Metropolitano é uma rodovia que liga o Porto de Sepetiba à BR 040, e que visa desviar o trânsito de veículos, especialmente os de carga, das áreas urbanas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro

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O Arco Metropolitano é uma rodovia que liga o Porto de Sepetiba à BR 040, e que visa desviar o trânsito de veículos, especialmente os de carga, das áreas urbanas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Assim, ele evita as áreas já urbanizadas, atravessando aquelas ainda vazias. Mas, a sua presença pode vir a induzir a ocupação urbana, já que rodovias têm esse poder. Quando a ocupação não é planejada, ela pode ocorrer de forma espontânea e irregular. Não à toa, em 2008, o então Secretário de Obras do Estado do Rio de Janeiro, e futuro governador, Luiz Fernando Pezão, incentivou os empresários a ocuparem as margens do Arco Metropolitano, de forma a evitar uma possível favelização.

Durante muito tempo, não houve resposta dos empresários àquela exortação do ex-governador. A própria rodovia entrou em crise com a queda da circulação de veículos, em função da sua má conservação, da ausência de administração, e da insegurança. No entanto, em 2022 houve a concessão da rodovia para a iniciativa privada e já há notícias do aumento do fluxo de veículos. Surgem também algumas iniciativas empresariais, como o Centro de Logística Golgi, no entroncamento do Arco Metropolitano com a RJ-085, onde foi construído um galpão com 61 mil m2 de área para locação, com previsão de ampliação. Para essa mesma localidade, hoje um lugar vazio, há uma campanha publicitária de um empreendimento voltado para a construção de habitações, comércio e serviços, ocupando uma área de aproximadamente 5 milhões de m2. Complementando esse projeto, haveria um aeroporto para aeronaves particulares, o ArcoRio.

É difícil saber até que ponto essas são iniciativas coordenadas com um planejamento metropolitano ou apostas soltas do mercado imobiliário. A verdade é que o Estado do Rio de Janeiro não prima por ter um planejamento para a sua metrópole, nem um órgão ativo e com força para propor projetos e vê-los implementados. É possível que se esteja assistindo ao surgimento de uma Edge City (cidade à margem), a qual trará novos desafios futuros.

A expressão Edge Cities foi cunhada pelo jornalista americano Joel Garreau que, em 1991, escreveu o livro Edge City: Life in the New Frontier. Ele buscava nomear um fenômeno que consistia no surgimento de áreas urbanas em entroncamentos rodoviários, fora da mancha urbana das cidades já constituídas, com uma grande oferta de postos de trabalho, grandes lojas de departamento e de varejo ou shopping centers e moradia em menor proporção do que os postos de trabalho. Essas novas áreas urbanas não são cidades, na medida em que não são autônomas, têm uma forte participação do capital privado na sua formação e desenvolvimento, e são relativamente recentes, tendo apenas algumas dezenas de anos de existência.

Garreau também chamou a atenção para a forte presença nessas Edge Cities de escritórios voltados para a área de informática, em edifícios não tão altos, cercados por áreas verdes e pistas de corrida e equipamentos de lazer e diversão. Elas passaram a existir não só nos Estados Unidos, mas também na Europa e na Austrália. Alphaville e Tamboré, na área metropolitana de São Paulo, seriam exemplos desse modelo de urbanização. O fato de serem fenômenos em crescimento, não significa que sejam a melhor solução para a constituição de espaços urbanos. Quando, eventualmente, o poder público decide investir no lugar, trazendo transporte público, instituições públicas de administração e de saúde, como foi o caso de Surrey no Canadá, isso se mostra uma operação custosa.

Se até em países com mais tradição de planejamento essas urbanizações privadas e descoladas dos contextos das cidades vêm existindo, o que não poderá ocorrer no Brasil, um campo fértil para as experimentações do capitalismo? Com tempo, saberemos.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

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