Roberto Anderson: Patrimônio e Sustentabilidade

Para as cidades que privilegiavam o Patrimônio, a palavra de ordem era qualidade de vida

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Foto: Robrto Anderson

Num estudo de 1995, a pesquisadora francesa Cyria Emelianoff[1] buscou analisar as ações empreendidas pelas cidades que se congregavam na rede de cidades sustentáveis, surgida após os encontros de Aalborg, na Dinamarca, que produziu a Carta de Aalborg, e de Manchester, na Inglaterra, em 1994. Segundo a autora, essas cidades pareciam trabalhar em três frentes, ou vetores de concentração de ações e projetos: o ecossistema, o patrimônio e a participação democrática.

Para a autora, as cidades que privilegiavam o ecossistema, se mobilizaram em relação a temas, como a prevenção do efeito estufa, a camada de ozônio e a reciclagem de rejeitos. Como consequência, desenvolviam estratégias relacionadas à exploração de energias renováveis, à limitação dos deslocamentos pendulares, à taxação da energia fóssil, ao reforço à pedestrianização, a programas cicloviários, e à não subvenção ao automóvel.

Para as cidades que privilegiavam o Patrimônio, a palavra de ordem era qualidade de vida. Suas estratégias estavam voltadas para a requalificação do tecido urbano, dos espaços públicos, dos quarteirões e dos prédios históricos; a valorização do patrimônio vivo e natural, incluindo a fauna e a flora urbanas, a “renaturalização” e a recuperação de rios; e a valorização dos espaços públicos e do convívio urbano.

Por fim, para as cidades que buscavam maior participação dos cidadãos, as estratégias desenvolvidas eram a mobilização dos habitantes, o desenvolvimento de parcerias, e estratégias informais de participação política, mais ou menos ativas, relacionadas a escolhas de modos de vida e itens de consumo.

A sustentabilidade poderia estar se construindo, assim, no encontro dessas várias ações. Aqui, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, podemos observar duas cidades com ações do poder público concentradas nesses dois primeiros vetores. Niterói tem buscado produzir uma série de iniciativas no campo ambiental e em Nova Iguaçu, na atual administração municipal, se observa importantes ações na área do Patrimônio.

Como se sabe, boas iniciativas dependem da presença de pessoas certas à frente dos órgãos que as executam. Em Nova Iguaçu, o atual Secretário de Cultura é o ex-Diretor Geral do Inepac, Marcus Monteiro. Por sua iniciativa, o Município vem empreendendo ações de recuperação do Patrimônio local, entre as quais cabe destacar aquelas dirigidas ao sítio arqueológico de Iguaçu Velho, à Fazenda São Bernardino e às antigas estações de trens de Tinguá, Rio D’Ouro e Vila de Cava.

Iguaçu Velho, às margens do rio Iguaçu, é onde se encontrava a antiga Vila Iguassú. Lá ainda é possível se visitar a torre sineira da antiga Igreja Matriz, as colunas do pórtico do cemitério Nossa Senhora do Rosário e sua escadaria. Esses bens passaram recentemente por um processo de restauro.

A fazenda São Bernardino é de 1875, tendo sido importante no ciclo do café. O sítio histórico é composto pela antiga sede da fazenda, a antiga senzala e o pátio da fazenda. Tudo se encontra em avançado processo de arruinamento, para a tristeza dos iguaçuanos, que há décadas desejam a recuperação desses bens. Atualmente a Secretaria de Cultura local promove a recuperação da antiga senzala e a sua transformação em espaço dedicado à cultura.

As antigas estações de trens de Tinguá, Rio D’Ouro e Vila de Cava completam a lista de bens em recuperação no município. A antiga Vila de Iguassú e a Fazenda São Bernardino comporão o recém-criado Parque Histórico de Iguaçu Velha. O parque inclui outros bens, como os vestígios da Casa de Câmara e Cadeia, o Porto da Praça do Comércio e o Chafariz da Vila de Iguassú. São iniciativas que mostram que existe cuidado com a história e a Cultura fora do centro da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde nem sempre isso vem ocorrendo.  


[1] EMELIANOFF, Cyria. “Les Villes Durables: L’émergence de nouvelles temporalités dans de vieux espaces urbains”. In: Ecologie Politique, nº 13, printemps 1995, pp. 37-58.

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Roberto Anderson é professor da PUC-Rio, tendo também ministrado aulas na UFRJ e na Universidade Santa Úrsula. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela UFRJ, onde também se doutorou em urbanismo. Trabalhou no setor público boa parte de sua carreira. Atuou na Fundrem, na Secretaria de Estado de Planejamento, na Subprefeitura do Centro, no PDBG, e no Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, onde chegou à sua direção-geral.

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