Rogério Amorim – Próximos, mas diferentes: sobre a desordem urbana

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as recentes críticas que fez as operações de ordenamento urbano na capital fluminense

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Foto: Rafa Pereira - Diário do Rio

No fim de semana, me surpreendi com um artigo do DIÁRIO DO RIO intitulado “Extremos unidos a favor da desordem urbana”, no qual sou acusado de perfilar ao lado do PSOL numa suposta batalha contra o “ordenamento urbano” que, em tese, estaria sendo promovido pela Prefeitura do Rio na pessoa do secretário Breno Carnevale, titular da Secretaria de Ordem Pública.

Pondera o articulista que eu me uni ao PSOL para atacar o que chamou de “operações que Carnevale tem feito pela cidade nos últimos tempos contra o maior câncer da urbe carioca: a informalidade que transforma o Rio em Bombaim”; eu sinceramente não vejo essa eficácia toda nas tais operações, uma vez que nas minhas andanças por Tijuca, Copacabana, Largo do Machado, Botafogo e Centro continuam flagrando não só a informalidade dos camelôs como também a população de rua, os pequenos furtos, o estacionamento de motocicletas de entregas em qualquer logradouro, o estacionamento irregular em geral, os flanelinhas, toda a informalidade de uma cidade sem rumo.

Mas quanto a eu estar “unido ao PSOL”, considero conveniente que, dentro do espírito democrático que permeia o DIÁRIO DO RIO, eu possa esclarecer a confusão. Vou recorrer a um exemplo histórico para tal, tirado da Segunda Guerra Mundial.

As pessoas de esquerda costumam citar Josef Stalin, o ditador russo que dizimou mais de cem milhões de pessoas, o responsável pelo holodomor na Ucrânia, como um “herói que enfrentou e venceu Hitler”. E afirmam que Stalin, Roosevelt (depois Truman) e Churchill eram uma frente só. É neste olhar que reside o erro conceitual do nobre articulista. Em 1939, antes de Stalin aparecer como “herói de guerra”, a Rússia assinou com a Alemanha o pacto Ribbentrop-Molotov, no qual eles firmavam um acordo de não-agressão e ainda dividiam a Polônia. Este último tópico permitiu que a guerra se intensificasse, pois com isso a Alemanha invadiria a Polônia.

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O leitor pode achar que é um delírio eu citar um fato da Segunda Guerra para falar da desordem do Rio, mas é necessário para explicar que nem todos que estão no mesmo lado de uma assembleia defendem exatamente o mesmo posicionamento. Stalin, Churchill e Roosevelt participaram de conferências – em Yalta, na Crimeia, quando fizeram aquela foto famosa, os dois líderes democráticos do ocidente estavam reunidos com um ditador que já havia tentado acordo cm Hitler.

Quando o PSOL critica as operações contra camelôs, o fazem estruturalmente, o fazem por serem o PSOL, o farão mesmo que as operações sejam transparentes, eficazes e justas. Eles são Stalin: sua defesa é unicamente de sua ideologia, não da Justiça ou da Ordem. Quando eu critico as operações feitas com pessoas usando apenas colete, taser e cassetete, sem nomes expostos em fardas, estou criticando não o ordenamento, mas a falta de transparência e de legalidade. É uma forma de ordenamento que serve apenas à desordem e à falta de critério – e pior, servirá para a esquerda tentar impedir todo e qualquer ordenamento!

Quem são os homens de azul? Quem são esses que usam coletes? São guardas cedidos? Quem são os que aparecem de taser e cassetete? Por que na audiência pública o secretário não veio para explicar quem são essas pessoas? Meus requerimentos também não foram respondidos. Quem são essas pessoas? Policiais, guardas municipais ou só amigos bons de briga? Lembremos aqui a onda que correu em 2006, quando muitos se enganaram e trataram as MILÍCIAS como “autodefesas comunitárias”. Vamos nos enganar de novo? Afinal, poderes paralelos com policiais, guardas, agentes públicos, desviados de função e sem identificação são o quê? No meu tempo isso se chamava “milícia”!

É preciso entender que o PSOL seria contra o ordenamento urbano mesmo que este estivesse sendo feito dentro da lei, com planejamento, fardas com uniformes e identificação de pessoas. É da natureza do PSOL. Se por acaso estão criticando as operações, podem ter certeza de que não são só pelos motivos pelos quais eu critico – o PSOL acredita no laissez-faire e no laissez-sale, ou seja, em deixar tudo sujo. Não se pode confundir princípios, ou seja, a nossa crença na Ordem, na Legalidade e na Transparência, com meras bravatas progressistas. Não, Stalin não é e nem era bonzinho! Não o coloquem junto com Churchill e Roosevelt na mesma lista!

Seguirei pedindo, atuando forte para que Ordem e Legalidade caminhem juntas – não há uma sem a outra. E ambas se alimentam da transparência. O resto é delírio de quem defende mais desordem para combater a desordem.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Sobre a questão dos nomes (completos) como identificação dos agentes eu sou contra. Acho que devem colocar uma numeração (em caixa alta) como a matrícula que cada servidor público recebe o seu quando passa adereçar o cargo público.
    Colocar nome (e completo) em especial nos casos de agentes da segurança os tornam mais vulneráveis e a suas famílias, especial filhos.

  2. Tem dessas coisas no mundo. Esquerda e direita unidas nem sempre pelos mesmos fins.
    O governo de direita de Angela Merkel teve em seu longo mandato (que alguns diriam ditatoriais pelo tempo no poder: 16 anos) algo muito em comum com a bandeira da esquerda europeia que foi a política de migração.
    Toda esquerda europeia é muito gentil com imigrantes especialmente refugiados de países islâmicos em conflito. Receber do Haiti não queriam tempos atrás. Aqueles todos recebidos com braços abertos pela esquerda europeia não importa o quanto conflitantes no choque cultural que atingisse o ocidente (os atentados ou os ataques mais recentes que os governos teimam não admitir que no fundo tem relação não deixam mentir).
    Já o governo Merkel abriu os braços para os refugiados de olho na mão de obra. A população alemã envelhecia e alemãs já não queriam certos empregos. Precisava de mão de obra nova e viam naqueles com interesse porque vinha já capacitada.

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