Roland Saldanha: Feijoada Bots e Custo Brasil

Os robôs de Elon Musk dão 6 dicas para a redução de juros no Brasil, mas Roland Saldanha lembra que eles não sabem falar o nosso português

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Os robots da OpenAI batem um papo até agradável: não votaram em ninguém na última eleição, tentam encontrar sentido no que dizemos e são simpáticos. “Serviere die Feijoada heiß, um die Aromen zu intensivieren. Guten Appetit!”(*), as duas últimas linhas da resposta deles para “Qual é a sua receita de feijoada? Resposta em alemão”.

Ainda vamos “conversar” muito com estes modelos de linguagem, que podem absorver textos, imagens, vídeos e achar respostas a diferentes indagações humanas, especialmente se ganharmos confiança nas suas devolutivas. A proposta é instigante: ler, ver e ouvir tudo o que foi comunicado entre humanos e organizar sentidos a partir destas comunicações, gerando, em linguagem humana, acesso rápido aos resultados.

Elon Musk, cofundador da OpenaAI e novo dono do Twitter, quer pegar carona nestes algoritmos para colonizar Marte e ajudar a encaminhar os complexos problemas do aquecimento global, mas não oculta receios com as possibilidades abertas por usos não regulamentados da Inteligência Artificial. Como confiar neste intangíveis robots? O que eles querem ou podem querer?

Em fase de implementação e com restrições temporais na base de textos processada, os robots de Musk listam hoje seis medidas que levariam à redução nas taxas de juros no Brasil: ajuste fiscal, reformas estruturais, controle da inflação, investimentos em Infraestrutura e estímulos para fomentar o crescimento e o emprego. Perguntados sobre fontes do Custo Brasil, digitam outro bom elenco: altos impostos, infraestrutura precária, burocracia complexa e ineficiente, instabilidade econômica e corrupção.

Retornam os inimigos originais, aqueles que nos definem, de quem se falou em post de 25/01/22. Os robots OpenAI parecem conseguir “entender” o que escrevemos, mas têm dificuldades em “explicar” por que não enfrentamos os nossos problemas econômicos de forma transparente, consistente e democrática. Os algoritmos já identificam, inclusive, riscos democráticos no Brasil por decorrência da polarização política, da falta de diálogo entre diferentes setores da sociedade e do baixo nível de confiança nas instituições. Ousam até admoestações, recomendando que “a sociedade e os líderes políticos trabalhem juntos para preservar e fortalecer a democracia no país”.

Não se deseja atribuir melhor senso a mecanismos automatizados de linguagem, este ou outros, mas impressionam o “entendimento” e o foco em explicações que enganariam um professor de Economia menos atento. As avaliações terão que ser presenciais ou diferentes a partir de agora! Conhecer só o que os robozinhos “sabem” ficou pouco.

Os saberes técnicos bem assentados não descrevem o equilíbrio fiscal, a estabilidade de preços, o livre funcionamento dos mercados, a garantia dos direitos de propriedade e o respeito a contratos como obstáculos às finalidades definidas pelo sistema político. São, na verdade, pré-condições e facilitadores da estabilidade e do desenvolvimento que precisam estar preservados pelos partidos quando estão no governo ou na oposição.

Aos que insistem em negar ou negligenciar o que sabemos, sugere-se, primeiro, consultar a vasta literatura teórica e empírica, economistas preparados ou, na falta destes “trocar uma ideia” com bons robots de modelos de linguagem. Deles, enquanto houver muitas e prósperas democracias, não se espera ouvir argumentos favoráveis à demonização dos mercados, da Política, do Judiciário ou do “Sistema”. Temos que enfrentar os problemas que conhecemos com efetiva intenção de resolvê-los, não de perpetuá-los. Nossos inimigos originais são escorregadios, mas podem ser vencidos com livre informação e razão.

Em tempo, a feijoada OpenAI ficará pouco apetitosa na Alemanha, uma vez que esqueceram de indicar a necessidade de dessalgar os pertences, mas a receita de brigadeiro é boa.  

(*) “Servir a feijoada quente para acentuar os sabores. Bom apetite!

Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.

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