ELA era só um caminho de areia. Depois ganhou um oratório e passou a ser “a do Egito”. Com a chegada de um CHICANISTA (advogado tipo porta de cadeia da época que pulava de cartório em cartório e por isso apelidado de “piolho na roupa”) que por lá construiu quatro casas de baixa qualidade, morando em uma e faturando nas restantes, ELA passou a ser “a do Piolho”, em referência geográfica ao morador, prática muito comum naquele tempo.
Com a criação do grande Chafariz da Carioca – 1723 – , “a do Piolho” passou a ser um bom acesso para a “apanha d’água” e com isso ELA também passou a ser identificada por “da Carioca”. É lógico que a Irmandade católica, dona do lado ímpar (até bem pouco tempo) não ia “dar mole” e tome-lhe tentativas de outras alcunhas, “São Francisco da Penitência” – 1879 – “São Francisco de Assis” – 1882 – e continuaram na luta até a confirmação quase definitiva de 1898.
Em 1904 ELA foi alargada pelo prefeito Pereira Passos, conhecido como “prefeito bota abaixo”, que fez jus ao apelido demolindo as edificações do lado par, ele não seria “louco” de tentar mexer com o lado ímpar, por motivos óbvios.
Em 1918 alguém tentou “bajular” alguém e sugeriu que “do Presidente Wilson” lhe cairia bem, mas felizmente a tentativa só durou um ano e em 1919 ELA, definitiva/oficialmente, passou a ser a charmosíssima , queridíssima, carioquíssima…RUA DA CARIOCA!
Sem dúvida ELA tem direitos de sobra para comemorar seu oficial centenário (1919/2019) e seus “quatricentenários” de serviços prestados a seus “transeuntes/fregueses”, moradores e trabalhadores, desde os “aguadeiros” a pé ou em suas carroças até os “lanterninhas” do lindo e resistente CINE ÍRIS – 1909 -, os garçons do lendário BAR LUIZ – 1887 – (que já foi Adolph e teve como vizinho por poucos anos na década de 1960 o ZICARTOLA) e também aos atuais HERÓIS DA RESISTÊNCIA, proprietários e funcionários de lojas, guias de turismo, profissionais da área gastronômica e de eventos diversos, simpatizantes e apaixonados que se mantêm na luta pelo soerguimento total do charme e sucesso desta, que um dia foi homenageada radiofonicamente por um de seus “estabelecimentos” com este “reclame”: “RUA DA CARIOCA NÚMERO 5…É COM ESSE QUE EU BRINCO” ! Que saudade do Bazar Francês e seus BRINQUEDOS. Da Guitarra de Prata e seus, sempre solícitos, afinadores de violão, da Camisaria Progresso, antes e depois da “queima”- 1958 -, onde por muito tempo “namorei” em suas vitrines camisas tão bonitas, mas que infelizmente a grana não “esticou” o suficiente!
Parabéns RUA DA CARIOCA, minha querida/preferida desde guri nos 50, depois Office Boy, freguês do primeiro churrasco Grego da área e “metido” a músico nos 60, tomador de chopp no LUIZ e muitos lero-leros e “fugas” do “gás lacrimogêneo” ainda nos 60 e depois 70, freguês das lojas de material esportivo (lembro da KIK) e de malas (já gostava de “pochetes”, que na época eram “capangas” nos 80/90, e pouco frequente na primeira década deste milênio, mas que agora como guia de turismo já estou de volta aos “teus braços” e em conjunto com muitos que te admiram, vou batalhar por teu futuro, quem sabe com teu piso sendo transformado em um aprazível/seguro e lucrativo em todos os sentidos… CALÇADÃO !
Caro Dionísio, há anos tenho tentado conseguir alguma foto, alguma imagem, do Bazar Frances que ficava na Rua da Carioca no 5. Essa loja está conectada com as poucas e boas memórias de meu pai, falecido em 1965. Você teria algo que pudesse disponibilizar? Grato, Alípio
Excelente edição.
Obrigada!
Que texto lindo, dá saudade até do que não vivemos.