Por Bernardo Moura
Após uma semana de trabalho extenuante, nada melhor do que fazer um bom programa no final de semana. E por incrível que pareça, este programa pode ser bom, bonito e barato. Em vários locais da cidade (clubes, associações etc) e nas escolas de samba, acontece verdadeiros encontros ao redor de uma panela de feijão. Não importando se for branco, preto ou mulatinho, o que vale é a confraternização.
Entretanto, nem sempre foi assim. Um dos pratos mais populares do Brasil possui algumas versões do surgimento aqui, na Terra Brazilis. A mais famosa é aquela que a feijoada se formou dos restos de alimentos que eram "deixados" para os escravos, sobras dos banquetes nobres. Como por exemplo os restos de porcos. Bastavam aderir à carne, feijão e água, e voilá!, estava feito o prato.
Porém, para o historiador do Arquivo Nacional, Carlos Augusto Ditadi, esta versão não procede. Por ser o escravo, trabalhador base da economia, ele era alimentado com angu, feijão com sal e gordura, e pedaço de carne de vaca ou de porco, três vezes ao dia. E, para finalizar, uma laranja colhida do pé de alguma árvore para o proteger do escorbuto (doença que dizimava milhares naquela época- séculos XVIII e XIX). Logo, o nobre trabalhador custava caro e não podia ser maltratado. Portanto, a feijoada não poderia ser criada nas senzalas.
Deduz-se, então, que a feijoada surgiu na Europa, nas regiões do Alto Douro e Trás-os-Montes. Desde a mistura de orelhas, pé-de-porco e linguiças com o feijão (exceto o preto, pois era de origem americana) até ao cassoulet da França.
No Brasil, o prato suculento aparece por aqui, quando o jornal Diário de Pernambuco anuncia um restaurante de um luxuoso hotel da cidade, com prato "feijoada à brasileira". Isso em 1833. Logo depois, em 1849, os fregueses cariocas solicitam o gostoso prato numa das casas da região.
Para (in)felicidade de Ditadi, ainda não conseguiram contestar sua tese:
Até o momento ninguém conseguiu demonstrar com evidencias e estudos abalizados uma contestação a minha tese- diz
Histórias à parte, conforme o pesquisador Haroldo Costa, samba e feijoada combinam, e muito:
No samba a feijoada é o prato mais prestigiado, especialmente depois da Tia Vicentina, da Portela e Zica, mulher do Cartola. Hoje a representante maior é a Tia Surica, também da Portela, que faz a feijoada mais disputada da cidade- diz ele.
Por fim, este prato de origem européia nem só vive de samba. Graças ao povo brasileiro, é encontrada nos mais diversos bares e restaurantes da cidade. Que o diga, a chef Rebecca Lockwood. Segundo ela, o segredo está no tempero:
Na minha opinião, o segredo está na pimenta que acompanha o prato. Uma boa pimenta traz felicidade, é afrodisíaca e, melhor que tudo, ajuda na digestão- afirma.
Por fim, respondendo à pergunta título, feijoada dá samba, sim. Como também, forró, axé, funk, pagode, sertanejo…
Nota: Foi com um grande prazer que recebi a notícia da aula inaugural, no último sábado (dia 14), do curso de pós graduação de figurino e carnaval da Universidade Veiga de Almeida. As aulas coordenadas por Helena Theodoro prometem fazer a cabeça do pessoal. Parabéns!