O mês de setembro marca uma das campanhas mais importantes de conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio: o Setembro Amarelo. Com seu ponto alto no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado no dia 10 de setembro, a iniciativa visa a combater o estigma em torno do tema e incentivar o diálogo aberto como forma de salvar vidas.
O suicídio, um ato intencional muitas vezes relacionado a doenças mentais como depressão, transtornos de ansiedade e abuso de substâncias, afeta milhares de famílias em todo o mundo. No Brasil, estima-se que 32 pessoas cometam suicídio por dia — o equivalente a uma morte a cada 45 minutos —, superando o número de mortes causadas por doenças como a AIDS e certos tipos de câncer. Globalmente, uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos, destacando a urgência de abordar essa crise de saúde pública.
O Boletim Epidemiológico de fevereiro de 2024, da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, apresenta uma análise detalhada sobre suicídios e lesões autoprovocadas no Brasil entre 2010 e 2021, com foco especial em 2021. Nesse ano, foram registrados 15.507 suicídios no Brasil, dos quais 77,8% ocorreram entre homens.
Veja esse Boletim no seguinte sítio:
Analisando esse Boletim temos o seguinte;
- Por gênero: 77,8% dos suicídios foram cometidos por homens. Entre os idosos (70 anos ou mais), a taxa de suicídio foi de 18,1 óbitos por 100 mil habitantes. Nas mulheres, a faixa etária mais afetada foi de 15 a 19 anos, com 4,5 óbitos por 100 mil habitantes.
- Por raça/cor: Pessoas negras (pretos e pardos) foram responsáveis por 51% dos suicídios (7.907 casos), representando 1,3% do total de mortes nessa população. Entre os indígenas, a taxa de mortalidade proporcional foi de 2,9%, o dobro da média nacional.
- Por escolaridade: Pessoas com 8 a 11 anos de estudo apresentaram uma maior proporção de suicídios (1,4% em relação ao total de óbitos). Entre as pessoas sem escolaridade, o percentual foi de 0,24%.
- Por estado civil: Solteiros representaram 53% dos suicídios (8.214 casos), com uma taxa de mortalidade proporcional de 1,88%. Já entre os casados, a proporção foi de 23%, com uma taxa de 0,57%.
- Por faixa etária:
5 a 14 anos: O suicídio foi a 11ª principal causa de morte, representando 3,41% dos óbitos nessa faixa etária.
15 a 19 anos: O suicídio foi a 3ª principal causa de morte, com 6,9% dos óbitos.
20 a 29 anos: Foi a 4ª principal causa de morte, representando 5,56% dos óbitos.
30 a 49 anos: O suicídio caiu para a 9ª posição entre as principais causas de morte, representando 2,57% dos óbitos.
50 a 69 anos:Representou 0,65% dos óbitos, ocupando a 34ª posição entre as principais causas de morte.
70 anos ou mais: Foi a 58ª causa de morte, correspondendo a 0,14% dos óbitos.
Esses dados mostram que o suicídio é particularmente prevalente entre adolescentes e jovens adultos, com destaque nas faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 29 anos. Infelizmente, a taxa de suicídio entre jovens tem aumentado tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo, o que vem despertando preocupação global. Muitos especialistas estão buscando entender os fatores por trás dessa tendência alarmante.
Um dos fatores apontados como contribuintes para esse aumento é o impacto das redes sociais. Embora tenham sido criadas para conectar pessoas, as redes sociais também apresentam desafios significativos para a saúde mental, especialmente entre os jovens. O uso excessivo dessas plataformas pode intensificar sentimentos de isolamento, ansiedade e depressão, especialmente quando os jovens se comparam a vidas aparentemente “perfeitas” e padrões irreais de beleza e sucesso. Essa comparação social pode levar à insatisfação com a própria vida, principalmente em uma fase em que a identidade e a autoestima estão em desenvolvimento.
Além disso, as redes sociais amplificam o bullying, que antes ocorria principalmente no ambiente escolar, mas que agora se estende ao ambiente virtual, no chamado cyberbullying. O bullying digital é particularmente prejudicial, pois pode ocorrer a qualquer momento, expondo as vítimas a humilhações públicas, agressões verbais e isolamento. Isso aumenta o risco de transtornos emocionais, como depressão e ansiedade, podendo levar ao suicídio.
As redes sociais também podem servir como plataformas para a disseminação de conteúdos prejudiciais, como a glorificação de transtornos mentais, automutilação e suicídio, influenciando jovens vulneráveis. Estudos sugerem que a exposição prolongada a esse tipo de conteúdo aumenta o risco de ideação suicida.
Diante desse cenário, é fundamental equilibrar o uso das redes sociais e orientar os jovens sobre como utilizá-las de maneira saudável. Famílias, escolas e as próprias plataformas digitais devem promover um ambiente digital mais seguro, com políticas mais rígidas de combate ao bullying e maior apoio à saúde mental.
O aumento das taxas de suicídio entre jovens tem uma forte ligação com os desafios do ambiente digital. Portanto, é essencial reconhecer esses fatores para desenvolver políticas de prevenção eficazes e promover ações de conscientização que envolvam todos os setores da sociedade.
Antes que me perguntem, informo que a cor amarela, símbolo do Setembro Amarelo, tem sua origem em uma história comovente. Em 1994, nos Estados Unidos, o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio. Conhecido como “Mustang Mike” por restaurar um carro amarelo, Mike deixou um legado. Seus pais, em luto, distribuíram cartões com fitas amarelas e a mensagem: “Se você precisar, peça ajuda”. Esse gesto deu origem a um movimento que hoje simboliza a luta pela prevenção do suicídio em vários países.
Embora o Setembro Amarelo tenha sido formalizado no Brasil em 2015, com a participação de entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a ideia de prevenção é global. A campanha brasileira se consolidou com atividades em todo o país, como a iluminação de monumentos com a cor amarela, incluindo o Cristo Redentor e o Congresso Nacional.
Uma das barreiras mais desafiadoras na prevenção do suicídio é o estigma. Durante séculos, o suicídio foi tratado como um tabu, visto como “pecado” ou algo vergonhoso. Esse preconceito impede muitas pessoas de buscarem ajuda por medo de julgamento. Mitos como “falar sobre suicídio aumenta o risco” precisam ser desconstruídos — na verdade, o diálogo aberto pode ser a chave para identificar e socorrer pessoas em risco.
A maioria dos indivíduos que consideram o suicídio dá sinais de alerta, como mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, desesperança e falas recorrentes sobre morte. É crucial que familiares, amigos e profissionais de saúde estejam atentos e prontos para intervir com acolhimento e empatia.
A mensagem da campanha — “Falar é a melhor solução” — reflete o poder de uma conversa para salvar vidas.
A perda de uma pessoa por suicídio afeta profundamente aqueles que ficam, conhecidos como sobreviventes do suicídio. O luto é doloroso e muitas vezes acompanhado por sentimentos de culpa. A **posvenção**, ou o cuidado com essas pessoas, é essencial para prevenir novos casos e promover o processo de cura. Grupos de apoio e acompanhamento psicológico são fundamentais para minimizar o impacto emocional e psicológico dessa perda.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional gratuito 24 horas por dia, através do telefone 188 ou pelo sítio http://www.cvv.org.br . Também é possível buscar atendimento em postos de saúde, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e hospitais.
O Setembro Amarelo reforça a importância de uma rede de apoio integrada e capacitada para identificar e tratar aqueles em risco. Ele é mais do que uma campanha de conscientização — é um chamado à ação. Falar sobre o tema é o primeiro passo para quebrar o silêncio, salvar vidas e reduzir o sofrimento.
Visando, prezada leitora e prezado leitor, a colaborar com a conscientização da importância da prevenção do suicídio, encaminho abaixo os endereços de sítios com materiais úteis sobre o assunto:
– Cartilha – Suicídio: Informando para prevenir, da
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP):
Destaco que na cartilha acima temos uma inversão na ordem das páginas. A 10 vem depois da 11 por equívoco.
– Comportamento suicida: Conhecer para Prevenir – Dirigido para Profissionais da Imprensa, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM):
https://revistardp.org.br/abp/article/view/590/472
– Guia Informativo sobre A Prevenção do suicídio: Assistência Estudantil em defesa da vida, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM:
– Folheto – Fatores de risco e sinais de alerta, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM):
https://www.setembroamarelo.com/_files/ugd/26b667_76a3f9245c004fa4be1d7b7c26c847a8.pdf
– Cartilha Prevenção ao Suicídio como Ajudar ?, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM):
https://www.setembroamarelo.com/_files/ugd/26b667_55036a1a7a524da981f83732745c06fc.pdf
– Cartilha: informações importantes sobre doenças mentais e suicídio, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM):
https://www.setembroamarelo.com/_files/ugd/26b667_40fee44055664bb588883c8a73ebe8a6.pdf
– Carta aos Pais – Automutilação e suicídio? – 2023, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM):
https://www.setembroamarelo.com/_files/ugd/26b667_419ffc1a2fce4bf590f69123f259a909.pdf
Que neste setembro, e em todos os meses, possamos acolher, escutar e estender a mão a quem precisa.