Sisson x Agostini: Quem Criou a Primeira HQ do Brasil?

Embora alguns defendam que “O Namoro” seja a primeira HQ brasileira, outros questionam se o trabalho de Sisson pode ser classificado dessa maneira, argumentando que se trata mais de uma caricatura sequencial.

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Foto: Divulgação

A exposição gratuita de 25 de outubro de 2024 a 22 de janeiro de 2025, na Biblioteca Nacional em comemoração aos 200 anos de Sébastien Auguste Sisson trouxe à tona uma antiga polêmica no mundo dos quadrinhos brasileiros: afinal, quem foi o verdadeiro criador da primeira história em quadrinhos no Brasil. Enquanto a exposição homenageia Sisson e sua importante contribuição para as artes visuais no país, há quem defenda que o pioneirismo nesse campo pertence a Angelo Agostini.

Essa discussão envolve não apenas a questão de qual foi a primeira História em Quadrinhos (HQ) do Brasil, mas também as diferentes trajetórias e perfis dos dois artistas. Sisson, com sua carreira consolidada como litógrafo e caricaturista da elite imperial, era um aristocrata francês, cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. Já Agostini, de origem italiana, era um revolucionário que lutava pela abolição da escravatura e pela república, se envolvendo em polêmicas contra a monarquia e o clero.

Sisson chegou ao Brasil em 1852 e rapidamente conquistou a elite carioca com seus retratos e caricaturas. Em 15 de outubro de 1855, ele publicou “O Namoro, Quadros ao Vivo” na revista Brasil Illustrado, uma obra satírica que retratava de forma cômica as etapas de um namoro na sociedade do Rio de Janeiro. Essa sequência de ilustrações é considerada por muitos como a primeira história em quadrinhos do Brasil, pois utilizava uma narrativa visual para contar uma história de forma inovadora.

Embora alguns defendam que “O Namoro” seja a primeira HQ brasileira, outros questionam se o trabalho de Sisson pode ser classificado dessa maneira, argumentando que se trata mais de uma caricatura sequencial. Ainda assim, Sisson foi um dos primeiros a utilizar uma estrutura visual para narrar eventos, o que o coloca no centro do debate sobre o nascimento das histórias em quadrinhos no país.

A obra “O Namoro, Quadros ao Vivo” pode ser lida neste sítio:

https://drive.google.com/file/d/1nk0YIKymQY5r81Mf0i8fKOs5tn8tvNqt/view?usp=drivesdk

Angelo Agostini, que chegou ao Brasil em 1859, foi um importante cartunista e ativista político. Sua obra mais famosa, “As aventuras de “Nhô-Quim”, ou impressões de uma viagem à corte”, foi publicada em 30 de janeiro de 1869 na revista Vida Fluminense. A história narrava as desventuras de um caipira em meio às dificuldades da vida urbana no Rio de Janeiro. Com personagens recorrentes e uma continuidade narrativa, o trabalho de Agostini se alinha mais diretamente ao conceito moderno de HQ.

Por essas características, “Nhô-Quim” é frequentemente citada como a primeira história em quadrinhos do Brasil, e o dia de sua publicação é hoje celebrado como o Dia do Quadrinho Nacional. No entanto, essa consagração também teve influências políticas e culturais. Nos anos 1980, em meio ao processo de redemocratização do Brasil, a Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC) ajudou a promover Agostini como o precursor das HQs no país, uma escolha que fazia eco à luta de Agostini pelo fim da escravidão e pela república.

A obra “As aventuras de “Nhô-Quim”, ou impressões de uma viagem à corte”, pode ser lida neste sítio:

https://drive.google.com/file/d/14gVq_Pah27jqz1mOcqUfvnvr5_LOKNzS

A polêmica sobre quem criou a primeira HQ no Brasil também reflete as trajetórias pessoais e os contextos de cada artista. Sisson, nomeado cavaleiro pela Imperial Ordem da Rosa, era um litógrafo ligado à aristocracia e à monarquia, e sua obra retratava aspectos da vida cotidiana e da elite brasileira com um toque humorístico. Agostini, por outro lado, era um revolucionário, abolicionista e republicano, que utilizava seu trabalho para criticar a monarquia e as injustiças sociais. Enquanto Sisson estava mais alinhado ao regime imperial, Agostini era um defensor das mudanças radicais que culminariam no fim da escravidão e na Proclamação da República.

Essa diferença de contextos pode ter influenciado a forma como a história dos quadrinhos foi contada no Brasil, favorecendo Agostini durante o período de redemocratização e relegando Sisson a uma posição de pioneiro esquecido, apesar de seu valor histórico.

A exposição na Biblioteca Nacional reacende o interesse por Sisson e sua obra, lembrando ao público brasileiro que a história dos quadrinhos no país é mais complexa do que aparenta. Embora Angelo Agostini tenha sido consagrado como o criador da primeira HQ brasileira, a obra de Sisson tem ganhado cada vez mais reconhecimento entre estudiosos que revisitam os primeiros anos da narrativa visual no Brasil.

A controvérsia sobre quem criou a primeira HQ reflete, em parte, a disputa entre duas visões de mundo: de um lado, o conservadorismo aristocrático representado por Sisson; de outro, o espírito revolucionário e abolicionista de Agostini. Quem de fato criou a primeira história em quadrinhos brasileira talvez nunca seja definitivamente resolvido, mas ambos os artistas, cada um a sua maneira, ajudaram a moldar o futuro dos quadrinhos no país.

Para conhecer mais sobre a exposição na Biblioteca Nacional dedicada a Sébastien Auguste Sisson, você pode acessar o seguinte artigo: “Biblioteca Nacional tem exposição gratuita de 200 anos do autor da primeira HQ do Brasil” –

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