Sobre alguns templos católicos modernos no Rio de Janeiro

São José da Lagoa, São Daniel Profeta em Manguinhos, Nossa Senhora da Conceição em Santa Cruz e a do Engenho Novo, Santuário de Nossa Senhora de Fátima no Recreio e a Santa Rita de Cássia, na Barra, são exemplos de Igrejas modernas no Rio de Janeiro no texto de WIlliam Bittar

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Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio

Desde os primórdios do catolicismo, os ambientes destinados à reunião dos fiéis tornaram-se coprotagonistas das assembleias.

Inicialmente, as catacumbas onde eram sepultados os primeiros mártires tornaram-se os primitivos locais de culto. Depois, as basílicas romanas foram transformadas em grandes templos. No início da Idade Média, robustas paredes de pedra abrigavam os católicos em edifícios românicos até a construção das monumentais catedrais góticas e seus coloridos vitrais, marcos definitivos da fé católica com suas torres destacando-se do casario da vilas e aldeias.

Vieram as igrejas com concepções racionalistas no Renascimento, sucedidos por exuberantes templos barrocos e rococós, que chegaram ao Brasil principalmente com o ciclo do ouro em magníficos exemplares de interiores dourados, como a igreja do mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.

O século XIX assistiu à construção de alguns edifícios neoclássicos, logo substituídos pela releitura da arquitetura medieval, praticamente uma eterna referência da manifestação católica. Igrejas neogóticas marcaram o cenário de praticamente todas as grandes cidades brasileiras até as primeiras décadas do século XX.

Após a realização do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965, implantado pelo Papa João XXIII, diversas alterações foram implementadas na configuração do ambiente litúrgico, assim como na própria realização das cerimônias.

Algumas igrejas projetadas sob a nova orientação receberam concepção diferenciada, nem sempre ao agrado de fiéis mais tradicionais.  Em alguns casos, até mesmo o salão retangular que abrigava a nave principal, presente desde os primórdios dos cultos, foi substituído por um ambiente circular, como na Catedral de Brasília, projetada por Oscar Niemeyer.

A arquitetura religiosa do Rio de Janeiro, cidade sempre sensível ao discurso da arquitetura moderna, também adotou tal partido em dois templos muito significativos, ambos projetados pelo arquiteto Edgar Fonseca: a igreja de São José da Lagoa e a Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro.

01 Sao Jose Sobre alguns templos católicos modernos no Rio de Janeiro
Igreja São José da Lagoa – Bilhete postal

A igreja de São José, projetada em 1961, localizada na Avenida Borges de Medeiros, 2735, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, apresenta planta elíptica coberta por laje plana, apoiada em delgados pilares revestidos de pastilhas, dispostos em todo o perímetro. Quase toda a nave é vedada por vidros ray-ban, com exceção para uma seção onde está disposto o altar mor, atrás do qual se eleva uma delgada torre de concreto. A cortina de vidro permite a integração do interior com a exuberante paisagem do entorno imediato.

O novo edifício para a Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, dedicada a São Sebastião, foi inaugurada em 1979 devolvendo uma Sé para a cidade, após anos ocupando diversos templos, como a Igreja do Rosário ou Nossa Senhora do Carmo, na Praça XV.

A antiga Sé, construída no Morro do Castelo, foi gradativamente abandonada pelos fiéis principalmente devido à dificuldade de acesso e seu estado de conservação. Num primeiro momento, a igreja de São José, no sopé do morro, foi usada para os cultos, antes de sucessivas transferências até ocupar a igreja do Carmo, onde permaneceu até 1979.

A nova catedral, projetada por Fonseca, apresenta uma planta circular e, inicialmente, com altar central, depois discretamente deslocado, recebendo a capela do Santíssimo Sacramento em sua face posterior.  O volume ergue-se como um tronco de cone em concreto armado, com pé direito monumental, arrematado por uma vitral em cruz grega que estende seus braços por coloridos vitrais laterais, enlaçando os fiéis em assembleia.

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Foto Cleomir Tavares/Diário do Rio

Seu partido arquitetônico recebeu diversas críticas desde sua inauguração relacionadas à forma e material de acabamento, o concreto aparente, além de interiores considerados pouco relacionados a um ambiente de culto, assim como o campanário externo à edificação.

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Via Crucis, de Guignard.

Um exemplar mais discreto completa a lista de templos com plantas curvilíneas. Trata-se de uma modesta igreja projetada por Oscar Niemeyer, em 1960, para um parque proletário em Manguinhos, ramal da Leopoldina, próxima à rua Leopoldo Bulhões.

O pequeno edifício apresenta planta circular, com partido muito semelhante à igreja de São José da Lagoa. Originalmente, sua laje planta apoiava-se em delgados pilares que balizavam os panos de vidro em todo o perímetro. Internamente, além de uma réplica do profeta Daniel, esculpida por Francisco Lisboa, contava com painéis representando a Via Crucis, pintados por Alberto da Veiga Guignard.

A igreja continua em pleno funcionamento, mas devido à violência da região, o projeto original foi drasticamente modificado, com a substituição dos vidros por alvenaria e a retirada dos painéis artísticos.

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Igreja de São Daniel Profeta – Arquivo paroquial

A arquitetura moderna nos templos católicos da cidade também se apresenta com outros partidos formais, exaltando as possibilidades do concreto armado em concepções com elevada altura em seus interiores ou elementos escultóricos assinalando suas fachadas.

Em Santa Cruz, a antiga igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição foi substituída, em 1971, por um templo que iniciou suas obras em 1950, adotando uma cobertura parabólica, proporcionando o maior pé direito da cidade até a conclusão da Catedral de São Sebastião.

Igreja Nossa Senhora da Conceicao Santa Cruz Sobre alguns templos católicos modernos no Rio de Janeiro
Igreja Nossa Senhora da Conceição, Santa Cruz – Foto: André Ribeiro/Wikimedia Commons

No bairro do Engenho Novo, também no subúrbio da Central, a torre da igreja de Nossa Senhora da Conceição com cerca de 65 metros de altura,  coroada por uma monumental imagem,  é um marco na paisagem junto à linha férrea, desde sua inauguração no início década de 1960, com projeto de João Szilard.

06 Engenho Novo Sobre alguns templos católicos modernos no Rio de Janeiro

Para transposição da ferrovia, ligando os dois lados do bairro e facilitando o acesso ao templo, existe uma passagem estreita que a irreverência carioca apelidou de “Buraco do Padre”, provavelmente homenageando o sacerdote responsável por aquele acesso, tornando-se uma referência na região.

Com projetos mais recentes, destaca-se o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, no Recreio dos Bandeirantes, erigido em 13 de maio de 2010, matéria deste DIÁRIO DO RIO, que inclui a única réplica da Capela das Aparições portuguesa no mundo.

Ainda em construção, já se destaca na paisagem da Avenida das Américas 8150, Barra da Tijuca, a igreja Matriz Santa Rita de Cássia, que integra um conjunto de edificações projetado pelo arquiteto Edmundo Musa e equipe da Arq & Urb, incluindo centro social, pastoral, área de convivência e jardins, com conclusão prevista para breve.

Propostas mais recentes no, Rio, Brasil e no contexto internacional procuram manter os templos católicos como referências e marcos do seu tempo, mantendo a arquitetura religiosa como representações artísticas da própria história do homem, muitas vezes ponto inicial para estudos mais aprofundados sobre tais manifestações.

Maquete do Projeto da Igreja Matriz Santa Rita de Cassia Barra da Tijuca Sobre alguns templos católicos modernos no Rio de Janeiro
Igreja Matriz Santa Rita de Cássia, Barra da Tijuca

Propostas mais recentes no, Rio, Brasil e no contexto internacional procuram manter os templos católicos como referências e marcos do seu tempo, mantendo a arquitetura religiosa como representações artísticas da própria história do homem, muitas vezes ponto inicial para estudos mais aprofundados sobre tais manifestações

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Carioca, arquiteto graduado pela FAU-UFRJ, professor, incluindo a FAU-UFRJ, no Departamento de História e Teoria. Autor de pesquisas e projetos de restauração e revitalização do patrimônio cultural. . Consultor, palestrante, coautor de vários livros, além de diversos artigos e entrevistas em periódicos e participação regular em congressos e seminários sobre Patrimônio Cultural e Arquitetura no Brasil.

2 COMENTÁRIOS

  1. As igrejas todas tem uma história importante e são lindas nas suas arquiteturas e mobiliário, pena que atualmente está até difícil, dificílimo e sem solução, o abandono de algumas, a falta de conservação de outras, o roubo dos acervos para posterior venda aos antiquários e ferros velho pelos cracudos.
    A catedral de SÃO SEBASTIÃO é moderna, não é feia, mas o seu entorno é horrível.
    Não existe um paisagismo a sua altura, tem uns galhos de árvore aqui, outro acolá, enfim, a área merecia um tratamento melhor para se tornar mais bonito e agradável aos nossos olhos de fiéis. Tem outras também na ZN e nos subúrbios da CENTRAL, que mereciam tal tratamento de paisagismo e segurança.
    Aos olhos do turismo seria um ótimo empreendimento.
    Cheguei a comentar uma vez que deveriam (não sei quem), Prefeituras @eduardopaes e/ou Goveno, @claudiocastro, tvz, fazer CONCESSÃO à administração privada (não sei se haveria interesse) para administrarem tais igrejas importantes, os monumentos que são subtraídos, os patrimônios públicos que estam se acabando, enfim, várias coisas que com certeza seria um grande investimento e teria retorno.
    Precisa ser estudado.
    Queria pedir ao diário, uma matéria sobre o prédio da antiga Escola politécnica (?), belo prédio de uma magnífica arquitetura e que pertence não sei se a UFRJ, ao estado, ao município, localizado na Praça da República que não estão bem aí.
    Então, queria pedir novamente ou não essa bela matéria sobre esse prédio lindíssimo.
    Uma pessoa importante demais e que domina a história do patrimônio histórico, é espetacular conhecedor @marconiandrade.

    Essa onde rcis

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