Sempre que se entra no debate sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, algo é eternamente dito pelos empresários do agronegócio: um dos maiores custos para os agricultores é com o combate às chamadas “ervas daninhas”. Essas plantas acabam atrapalhando e competindo com todos os tipos de lavoura. Fica completamente inviável produzir alimentos em grande ou mesmo em média escala caso elas não sejam devidamente controladas.
Essa importante discussão está na boca de 9 entre 10 produtores e pesquisadores. O grau de prejuízo causado pelas plantas daninhas à produtividade – e às contas de quem é agricultor – acaba variando um pouco de acordo com o clima, grandiosidade da infestação e a forma utilizada para o controle. O chocante é que, segundo especialistas, as perdas podem atingir assustadores 80% de toda a produção.
Segundo o depoimento dado à Gazeta do Povo pelo engenheiro agrônomo Fernando Adegas, da Embrapa Soja, “um produtor de soja costuma desembolsar de US$ 10 a até US$ 150 por hectare com herbicidas para o controle de ervas daninhas, mas, na média brasileira, gasta-se na faixa de US$ 35 a US$ 70.” Levando isso em conta, o Brasil gastaria todos os anos entre US$ 1,25 bilhão e US$ 2,51 bilhões com esses herbicidas apenas para a lavoura de soja – numa área total de cultura estimada em quase 36 milhões de hectares.
Este não é apenas um problema do Brasil. Pensando nisso, a startup israelense Greeneye, especializada em tecnologias na agronomia, desenvolveu um produto surpreendente, econômico e ecológico. Ciente de que os fazendeiros gastam tantos bilhões pulverizando indiscriminadamente com herbicidas toda a sua área de plantio, desenvolveu uma inteligência artificial que transforma cada bico pulverizador numa máquina inteligente com capacidade de detectar e pulverizar com precisão cirúrgica, fazendo isso de forma instantânea e reduzindo até 90% dos gastos com os herbicidas (vídeo em inglês).
“Toda esta precisão não só reduz o problema crescente com ervas daninhas resistentes, como também reduz ferozmente o uso de agrotóxicos e a contaminação da água e do solo, causando uma economia inacreditável para o agronegócio“, disse ao Diário do Rio Gidi Levanon, representante da tecnologia da Greeneye no Brasil. Não raro temos que ler sobre os riscos dos agrotóxicos à saúde de todos, e a idéia de reduzir seu uso, ganhando eficiência e economia, convenceu os investidores, que , numa rodada de investimentos liderada pelas gigantes JVP e pela Sargenta, líder mundial em proteção de áreas cultivadas.
“A pulverização com precisão pelos pulverizadores inteligentes, além da economia e do sucesso no combate às plantas daninhas, também coleta, escaneia e analisa dados de alta resolução sobre toda a área de plantio, fornecendo dados de todo tipo aos agricultores“, completa Levanon, que frisa a importância de se reduzir o fenômeno das ervas daninhas resistentes aos agrotóxicos.
A tecnologia da Greeneye utiliza inteligência artificial e traz o processo de controle de ervas daninhas para um novo patamar, tendo produtividade muito superior a uma outra técnica moderna, a da detecção de ervas daninhas com infra-vermelho. “Nossa detecção é mais precisa“, sentencia Levanon.
Nos Estados Unidos, a empresa acaba de concluir uma série de testes pagos em áreas de plantio de grandes empresas multinacionais que resultou em “resultados incomparáveis”, segundo a empresa. Veja o vídeo (em inglês).
A startup tem base em Tel Aviv, em Israel, e foi fundada em 2017. Mas seu time já trabalha em conjunto há mais de 15 anos, e é oriundo das forças armadas israelenses. De olho no mercado Brasileiro, a empresa chegou ao Brasil através de Levanon:
“O clima tropical brasileiro é um fator de impulso às ervas daninhas. O calor e a umidade aumentam a competição entre as plantas. E quando há estresse hídrico, as ervas daninhas têm melhor capacidade adaptativa“. Ainda segundo o pesquisador Fernando Adegas, as ervas daninhas são mais rústicas e propensas a condições de estresse a cultura. “As plantas geram mais ciclos do que no clima temperado, onde elas produzem apenas um ciclo de sementes. Aqui temos plantas daninhas com até cinco ou seis ciclos”, explica Adegas.