Thais Ferreira – PL 1904/24: esse debate precisa ser travado com seriedade na sociedade

O legislativo tem uma missão primordial de legislar para assegurar nossas vidas e para acabar com as desigualdades de gênero e raça que ampliam as desigualdades sociais

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Congresso Nacional, em Brasília - Foto: Reprodução

Fazer a defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos como Direitos Humanos numa perspectiva que integra raça e gênero é fundamental para garantir a dignidade e a continuidade da vida de meninas e mulheres. O legislativo tem uma missão primordial de legislar para assegurar nossas vidas e para acabar com as desigualdades de gênero e raça que ampliam as desigualdades sociais. Mas, legisladores como Arthur Lira, parecem terem sido eleitos para fazer exatamente o contrário, para controlar nossos corpos e nos matar. Em complemento, a justiça reprodutiva amplia o olhar sobre os direitos sexuais e reprodutivos, e vincula-se diretamente à justiça social, ou seja, busca garantir que todas as pessoas possam decidir se, como e quando ter filhos, constituir famílias ou outras redes de cuidado para o bem viver, e ter acesso a recursos e políticas de proteção a esses projetos de vida.

O Projeto de Lei 1904/24, o PL da Gravidez Infantil, que equipara aborto à homicídio, é uma ofensiva grave aos direitos das nossas meninas. O texto na Camâra prevê o aborto realizado acima de 22 semanas de gestação, em qualquer situação, passará a ser considerado homicídio, inclusive no caso de gravidez resultante de estupro, com pena será de seis a 20 anos para mulher que fizer o procedimento. Diante disso, é preciso ressaltar que há uma intencionalidade bastante grave pelo desejo de homens brancos e ricos em continuarem tutelando sobre os corpos das mulheres e das crianças, colocando em risco a vida de milhares de brasileiras, especialmente meninas, que são as principais vítimas da violência sexual no país, além de desrespeitar os direitos já previstos em lei.

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Vale ressaltar que no Brasil, dados do Sistema Único de Saúde demonstram que 12 mil meninas foram mães em 2023 entre 8 e 14 anos. Se, 6 a cada 10 pessoas do sexo feminino estupradas no mesmo ano têm no máximo 13 anos, é simples compreender que estamos diante do fato de que meninas muito novas estão sendo obrigadas a parir crianças fruto de estupros. Cabe a nós, que de fato defendemos uma infância plena de direitos, dignidade e onde brincar, se desenvolver, ser cuidada,escutada, amada e protegida deve ser lei, nos posicionar para exigir que retrocessos não nos alcance.

O Brasil é um país diverso, porém quando olharmos para os representantes do Congresso Nacional, observamos que essas pessoas que deveriam legislar para todos os cidadãos brasileiros, acabam tomando decisões a partir de suas próprias convicções. Assim, como no caso em questão, legislam a a favor de estupradores e atacando as vítimas de estupro, o que é um ataque a democracia brasileira, uma vez que atinge os corpos mais frágeis que são das mulheres e das crianças, excluídos e desconsiderados desse debate.

Recorro aqui ao posicionamento contrário ao PL 1904/24 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, instância máxima de formulação, deliberação e controle das polítcas públicas para a infância e a adolescência na esfera federal, criado pela Lei nº 8.242 de 1991, é o órgão responsável por tornar efetivos os direitos, princípios e diretrizes contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069 de 1990: “representa um retrocesso aos direitos de crianças e adolescentes, aos direitos reprodutivos e à proteção das vítmas de violência sexual, violando a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e diversas normas internacionais das quais o Brasil é signatário. (…) A proposta ignora completamente a realidade das crianças e mulheres que enfrentam situações de estupro e que têm o direito de não serem subme,das a uma nova violência, sendo obrigadas a gestar e parir.”

Como mãe de 4 filhos,sobrevivente de abuso sexual, e presidenta da Comissão da Criança e do Adolescente, entendo que esse é um debate que precisa ser travado com seriedade na sociedade. Somente através de medidas efetivas no que tange à saúde pública poderemos garantir uma existência digna para todos desde o começo da vida. O Estado precisa parar de falhar com nossas crianças. Faço coro com o CONANDA na compreensão de que O PL impõe sofrimento, tortura e coloca em risco a saúde, a integridade física e mental e a dignidade de milhares de crianças e adolescentes que são cotidianamente violentadas sexualmente em nosso país, sendo preciso compreender que lutar pela justiça reprodutiva é essencial para a garantia da dignidade e continuidade da vida de nós mulheres e de nossas meninas.

Thais Ferreira (PSOL/RJ), mãe de 4 crianças, vereadora e Presidenta da Comissão da Criança e Adolescente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

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Thais Ferreira, é mulher preta, mãe e cria do subúrbio. Especialista em políticas públicas para maternidades e infâncias, é filiada ao Movimento Negro Unificado (MNU) e atualmente é vereadora pelo PSOL e presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
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1 COMENTÁRIO

  1. Aos nobres deputados da Câmara Federal eu digo: não é a favor do aborto? Então que o sr./sra. não aborte seu filho.

    Simples assim.

    A agenda medieval elegeu muitos deputados para a sua luta e eles estão trabalhando diaturnamente por ela. Por outro lado, os institucionlaistas e progressitas estão fazendo o que a não ser se defender (de forma ineficaz)?

    Para o equilíbrio é necessário sair desse papel de bom mocismo e ir para o combate.

    A extrema direita está muito bem, obrigada.

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