Tragédia em Câmera Lenta: a destruição da cidade de Atafona é versão lenta e gradual do caos no RS

O mar avança cerca de 3 metros por ano em Atafona, tomando casas e lojas, deixando rastro de destruição. Cerca de 14 quarteirões já sumiram nas últimas décadas, numa tragédia sem fim

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Foto: Reprodução | Bafafá

Atafona é uma cidade balneário, com uma vila de pescadores e um pequeno porto e que hoje leva uma vida apocalíptica. Distrito do município de São João da Barra, que fica ao norte do Rio de Janeiro – quase divisa com o Espírito Santo, tem sido gradualmente engolida pelo mar há cerca de 40 anos. A cidade chegou a ser também um concorrido balneário para as famílias endinheiradas de Campos dos Goytacazes na primeira metade do século XX. As fotos impressionam (link abaixo), ainda mais em um momento em que o mundo discute as mudanças climáticas e o Brasil chora a desgraça do Rio Grande do Sul.

A Avenida Beira Mar, como era chamada a principal via da cidade, já foi engolida pelas águas e, junto com ela mais de 200 casa e lojas – cerca de 14 quarteirões – também sumiram durante as últimas décadas. No local, usineiros campistas e outras personalidades proeminentes tinham belas casas de veraneio, que acabaram absorvidas pelo mar.

O engenheiro Raoul Michel de Thuin, proeminente figura da sociedade campista, tinha uma casa de praia na cidade. Seu filho, o cirurgião Rawlson de Thuin, contou ao Diário: “Meu pai comprou a casa, linda, de uns usineiros. Chegamos a construir um dique, mas a casa acabou sendo levada pelas águas de qualquer forma”.

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Todo ano famílias diferentes enfrentam o mesmo problema: uma espécie de desapropriação do seu imóvel; e nesse caso, é pela própria mãe natureza. Apesar disso, muitos moradores insistem em não abandonar seus imóveis e continuam convivendo com a incerteza.

Há moradores que dizem que é o fim do mundo se aproximando, mas a ciência pode explicar. Especialistas apontam como causas deste fenômeno uma soma de fatores, que incluem ações humanas e efeitos das mudanças climáticas numa região que, desde o início, teve uma ocupação habitacional desordenada. Um dos principais fatores apontados pelos que não creditam o problema às mudanças no clima é a diminuição do fluxo de água do Rio Paraíba do Sul e uma possível mudança de seu curso, causados pela construção de barragens. Processos geológicos naturais também são apontados como um dos fatores, mas há um consenso entre pesquisadores de que o processo tem sido intensificado por ações humanas.

Os primeiros registros de erosão costeira em Atafona são de 1954, na Ilha da Convivência, que hoje já foi praticamente toda engolida. Na praia de Atafona, o evento veio a ocorrer cerca de cinco anos depois, mas a destruição se intensificou na década de 1970 e não parou até os dias de hoje. 

A Prefeitura de São João da Barra calcula que o avanço do mar já destruiu 500 residências e comércios, porém moradores locais e pesquisadores estimam que este número pode ser ainda maior. O mar avança cerca de 3 metros por ano sobre Atafona. Se você visitar o local a cada 6 meses, sempre verá uma paisagem diferente.

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