Tratamento de diálise que pode ser feito em casa encontra dificuldades para ser mais utilizado no Rio de Janeiro

A Diálise Peritoneal (DP) é uma terapia domiciliar, podendo ser indicada a até 90% dos pacientes

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Paciente renal durante treinamento da diálise peritoneal na clínica da Pró-Rim. Foto: Pró-Rim

No Rio de Janeiro são mais de 13 mil pessoas que fazem Hemodiálise. As unidades que oferecem o tratamento estão distribuídas em 30 municípios dos 92 municípios existentes no estado. Em média, os pacientes se deslocam de três a quatro vezes na semana para se tratar. De acordo com dependentes do método e especialistas, o cenário que diminui a qualidade de vida de quem tem problemas renais mais agudos poderia ser amenizado com uma alternativa: a Diálise Peritoneal.

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Foto: Saúde e Bem Estar

A Diálise Peritoneal (DP) é uma Terapia domiciliar, podendo ser indicada a até 90% dos pacientes. Utiliza a membrana peritoneal do corpo para filtração do sangue. Segundo especialistas, esse método melhora sobrevida nos primeiros anos do tratamento, além de ocasionar na preservação da função renal residual, resultando em maior qualidade de vida e satisfação. A DP é recomendada em alguns países como modalidade terapêutica de primeira escolha, em comparação com a Hemodiálise, que precisa ser feita em clínicas.

Um dos defensores da Diálise Peritoneal no Brasil é o jornalista Cid Moreira, que teve falência renal aos 94 anos. No início deste ano, ele começou o tratamento e passou a fazer postagens em suas redes sociais mostrando como funciona.

CID Tratamento de diálise que pode ser feito em casa encontra dificuldades para ser mais utilizado no Rio de Janeiro
Foto: Reprodução Instagram

“A diálise peritoneal, uma opção terapêutica domiciliar, poderia ser uma alternativa para os pacientes que residem em locais distantes dos grandes centros, recém-nascidos e crianças pequenas, que têm baixo peso e que nascem com problemas congênitos dos rins e do trato urinário até a realização do transplante renal. O cofinanciamento Estadual minimizaria, em parte, o desequilíbrio econômico financeiro das clinicas de serviços ao SUS e hospitais, a fim de garantir o atendimento adequado aos milhares de pacientes. Na oportunidade, a ABRASRENAL renova os votos de elevada estima e consideração. Certos de contar com vossa atenção e colaboração para resolver esse problema urgente e garantir tratamento fundamental na vida de milhares de brasileiros”, disse Alexandre Lenin, presidente Abrasrena (Aliança Brasileira de Apoio à Saúde Renal).

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Com tantos benefícios, por que esse tratamento não é o mais utilizado no Brasil, no Rio de Janeiro? De acordo com o deputado Renato Zaca (PL), um dos autores de um projeto de lei sobre a situação, o maior empecilho é a falta de informação.

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“A dificuldade para a massificação do tratamento é pelo desconhecimento dos pacientes e, infelizmente, também da classe médica. Esperamos que com esse projeto, possamos trazer mais conhecimento às pessoas, para que seja amplamente utilizado o tratamento”, frisou Zaca.

O senador Romário (PL) organizou uma Audiência Pública Interativa no Senado para tratar do tema.

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“A Diálise Peritoneal é tão importante quanto a Hemodiálise. Trata-se de um tratamento que tem suas indicações. No momento, a DP precisa ser encarada como um método de diálise. O que acontece é que muitos ainda só a indicam quando o paciente já possui esgotamento de acesso. Uma boa apresentação da terapia é fundamental para esclarecimento do paciente”, opina a médica Renata Martins Garcia, especialista em Diálise Peritoneal na clínica Davita, em Botafogo, Zona Sul da cidade do Rio.

O presidente da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT), o médico nefrologista Yussif Ali Mere Júnior, esclarece que a procura pela diálise peritoneal aumentou com as reportagens que foram ao ar com o jornalista, mas que a realidade da DP no Brasil é ainda desanimadora e passa por diversos desafios para ser implementada.


“Apenas 6% dos pacientes renais crônicos do SUS conseguem ter acesso à diálise peritoneal. Esse percentual sobe um pouco quando falamos de quem possui plano de saúde e chega a 9%. No restante do mundo, a diálise peritoneal costuma representar pelo menos 12% de todo tratamento ofertado. A maioria dos pacientes renais no país recebe a hemodiálise (94%), que é quando a filtragem das toxinas acontece através do sangue, por meio de uma máquina. Neste caso, o paciente precisa ir à clínica de três a cinco vezes por semana para realizar o tratamento. E a DP, quando pode ser feita pelo paciente, tem muitas vantagens: autonomia, não precisar se deslocar para as clínicas toda semana, tem maior bem-estar, podendo até ingerir alimentos que na hemodiálise tradicional não pode. Mas para haver aumento da DP, existe uma série de medidas a serem tomadas”, esclarece. 

Alguns especialistas sobre o tema também destacam a pressão das clínicas privadas para a Hemodiálise ser mais praticada, além da dificuldade em conseguir os equipamentos, uma vez que a produção industrial dos itens necessários no Brasil é cada vez menor.

Apesar de a terapia ser financiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 85% das clínicas de nefrologia que prestam o serviço de terapia renal substitutiva são instituições privadas. Principalmente por fatores econômicos, como a falta de reajuste na tabela SUS ao longo dos anos, atrasos em repasses de recursos estaduais, entre outros. De acordo com especialistas, o número de clínicas de nefrologia e vagas disponíveis não acompanha o crescimento de demanda de pacientes renais crônicos, gerando superlotação, filas, e fazendo com que pacientes dialisem em hospitais, onerando ainda mais a rede pública de saúde.

Procurada para comentar a situação na cidade do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde declarou que “realiza a oferta de diálise peritoneal nas clínicas contratualizadas junto ao SUS municipal. Atualmente, há 153 vagas contratualizadas, com 106 pacientes em atendimento e 47 vagas disponíveis. Há uma previsão de financiamento compartilhado por parte do Estado, o que irá proporcionar um maior incentivo e a diversificação da oferta por mais clínicas. A SMS-RJ está elaborando um projeto para serviços de ambulatório pré-dialítico, visando qualificar a atenção aos pacientes em momento anterior à entrada em serviço de diálise, o que tende a ampliar a indicação médica e decisão dos pacientes pela modalidade peritoneal”.

A Secretaria Estadual de Saúde ainda não respondeu o contato da reportagem.

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